Estônia quer proibir os símbolos soviéticos

Na última quinta-feira (30/11), o governo da Estônia apresentou ao parlamento um projeto de lei que prevê a responsabilidade penal pelo uso de símbolos (bandeiras, escudos, insígnias, músicas) dos “regimes de ocupação” (Alemanha nazista e URSS). A violaçã

Aos sobreviventes das SS, que ostentam publicamente suas bandeiras, ninguém vai perseguir. Por outro lado, a bandeira do país que venceu a Segunda Guerra Mundial está, a partir de agora, proibida na Estônia. Os veteranos de guerra soviéticos não poderão mais usar suas medalhas em público. Muito menos será permitido tocar o atual hino russo na Estônia, já que a melodia é a mesma do glorioso hino da União Soviética.


 


O Ministério de Relações Exteriores russo reagiu surpreendentemente de forma rápida e decidida: “O governo da Estônia insiste em sua sacrílega intentona de reescrever a História e equiparar os crimes nazistas com a façanha do povo soviético e seu decisivo esforço na libertação da Europa do fascismo”, declarou o representante do Ministério de Relações Esteriores da Federação Russa, Mikhail Kamynin. “Observamos com perplexidade como o governo estoniano persiste, nos últimos tempos e em atitude contrária a toda a lógica, de aumentar as provocações, para complicar de modo sério as nossas relações”, disse.


 


Entretanto, é uma pena que estas declarações de protesto não sejam acompanhadas de gestos concretos. Como de costume, o “partido do poder” se esconde no mato. Em 15 de novembro era debatido na Duma o projeto de declaração sobre “as manifestações neonazistas e revanchistas na Estônia”. O debate teve como estopim o conflito sobre o monumento aos soldados soviéticos no centro de Tallin. Os projetos de lei do primeiro-ministro estoniano Andurs Ansip “sobre a proibição” dos monumentos e o desmantelament e posterior transferência dos cemitérios militares, são popularmente conhecidos como as leis da retirada do “soldado de bronze”. Esses projetos de lei incluem todos os monumentos erguidos a nossos soldados e todos os cemitérios militares soviéticos, que poderiam ser liqüidados sem exceção.


 


O partido Russia Unida seguiu o caminho de sempre: expressou seu lamento dirigido aos países europeus, reclamando de seus parlamentos, assim como da Assembléia do Conselho da Europa (PACE) e do Pacto Militar do Atlântico Norte (Otan) e demais inimigos da Rússia, uma valorização expressa da tolerância ao fascismo da Estônia. A Duma fez um pedido ao governo e ao presidente para que estes “adotem todas as medidas”. A própria Duma declarou que construiria suas relações com o parlamento da Estônia a partir da sua futura conduta.


 


Não é preciso dizer que nenhum daqueles organismos aos quais apelou o Rússia Unida, deu alguma resposta. O partido já sabia disso. Em sua intervenção na mesma sessão parlamentar, o deputado do Partido Comunista da Federação Russa, Yuri Kvitinsky, delcarou que as leis seriam sem dúvida aprovadas. Não cabe esperar variação alguma na postura dos estonianos.


 


Essas leis são piores ainda, se observarmos que em todos os países da Europa Oriental e Ocidental nossos memoriais são preservados, vigiados e cuidados. Enquanto os estonianos se atrevem a propor seu desmantelamento.


 


Não podemos continuar esperando. Enquanto eles mantiverem sua atitude, nós devemos agir. E deveriamos começar, pelo menos, congelando as relações com o parlamento estoniano. Isso seria para eles o primeiro sinal. Se isso não surtir efeito, deveriamos então proibir a entrada na Rússia de representantes oficiais da Estônia, relacionados com a aprovação e o cumprimento dessa lei. É isso que fazem a União Européia e os Estados Unidos com os países que contrariam seus interesses.


 


Não poderiamos seguir tentando convencê-los a agir racionalmente. É uma situação estranha: eles nos pisam os pés o tempo todo e nós que explicamos a eles que isso não é bom. O correto, nessa questão, seria o contrário.


 


O deputado do PCFR Serguei Rechulsky observou que “nossa proposta é clara e concisa: paralisar nossa relação com o parlamento estoniano, enquanto o problema não seja solucionado”.


 


E o que diz o Rússia Unida? A deputada S. Smirnova afirma que “nossa postura continua a mesma: devemos agir gradativamente. Podemos, sem dúvida, adotar medidas enérgicas, como proibir a entrada, congelar as relações entre os parlamentos, e depois? Se é o que decidiram, é o que farão. Vamos dar a eles a oportunidade. Devemos fazer com que vejam que estamos preocupados com esta situação. Se aprovarem essas leis, então adotaremos medidas drásticas. Mas considero que o diálogo entre os parlamentos deve continuar”.


 


Já se passaram duas semanas dos debates na Duma. Quem tinha razão. Onde estão as “medidas drásticas”? Não existem nem existirão. A postura do “partido do poder” já vem determinada por sua incapacidade manifesta de atuar contra seus aliados de classe na Estônia, e pelo fato de que o governo (apesar dos juramentos patrióticos, tão em moda em nossos dias experimenta o mesmo desprezo que a elite da Estônia tem para com o nosso passado. Basta recordar a eliminação do calendário do aniversário da Revolução de Outubro, de 7 de novembro, como festa nacional.


 


Moscou tem a faca e o queijo nas mãos para pressionar os dirigentes estonianos. Me refiro a um possível desvio do oleoduto que passa pela Estônia e vai para os portos da região de São Petersburgo (Leningrado). O orçamento do país báltico é engordado por taxas de trânsito do nosso petróleo. Desviar a rota afetaria, emtretanto, os interesses dos barões petroleiros da Rússia. Por isso o “Rússia Unida”, como representante político da oligarquia, tem de requebrar quando fala desse assunto: “Vamos dar a eles uma oportunidade… um sinal”.


 


De fato, o sinal foi recebido pelo governo estoniano em 15 de novembro: se resume a que o governo russo não adotará nenhuma medida séria na defesa do prestígio e da história da Rússia. Em Tallin, há muito tempo que não são levadas a sério as grandiloqüentes delcarações do Ministério de Relações Exteriores russo.