Francisco Moreira – 80 anos de passagem da Coluna Prestes pelo Ceará
O cientista político e professor universitário Francisco Moreira analisa a passagem da Coluna Prestes pelo Ceará, ás vésperas da inauguraçã0o de um monumento que marcará o fato.
Publicado 11/12/2006 17:11 | Editado 04/03/2020 16:37
A Coluna Prestes tem origem, principalmente, no descontentamento de jovens oficiais contra a política, marcada essencialmente pelo favorecimento das oligarquias regionais, dos presidentes da República Velha. No período, presidia o Brasil, Arthur Bernardes (1922-1926) que governou o País em constante estado de sítio, apoiado numa estrutura de poder que tinha nas lideranças rurais os “famosos coronéis” sua principal base de sustentação. Os grupos urbanos formados pela classe média em ascensão — militares, funcionários públicos, pequenos proprietários e trabalhadores em geral que tinham pouca representatividade política — começaram a reivindicar maior participação. O clima de tensão culminou com o Movimento Tenentista que, na Década de Vinte, promoveu vários levantes contra o governo, sendo os mais importantes: “os 18 do Forte”, “os levantes paulistas de 1924” e, a Coluna Prestes, que é legatário dos anteriores.
A marcha teve início em julho de 1924 no Rio Grande do Sul e seus integrantes dispersam-se em março de 1927, na Bolívia. Ao longo de sua trajetória caminhou cerca de 25 mil quilômetros, se constituindo na segunda maior marcha militar da história universal.
A presença da Coluna nas proximidades do território cearense, em dezembro de 1925, advertido de sua presença no Estado do Piauí, foi que ensejou a convocação do deputado federal Floro Bartolomeu pelo presidente Artur Bernardes, que delegou ao primeiro amplos poderes para organizar a defesa do território cearense. Floro, com importante apoio do Padre Cícero Romão Batista, mobilizou um batalhão formado por trabalhadores rurais, os “famigerados jagunços”, ligados aos grandes proprietários de terras do Sul do Estado. Também convocou o grupo de cangaceiros liderados por Virgulino Ferreira da Silva, o “Lampião” que, mesmo tendo se comprometido a lutar contra a Coluna, fato nunca o fez.
Adentrando então em território cearense em janeiro de 1926, ocupou a cidade de Ipu, onde saqueou o comércio local em busca de mantimentos. A Coluna passa, em seguida, a sofrer uma baixa importante: na Serra de Ibiapaba, o tenente cearense Juarez Távora, foi capturado por forças do governo. Em sua marcha por solo cearense, Luís Carlos Prestes e sua famosa Coluna, empreenderam uma longa caminhada cujo itinerário atravessou sete municípios cearenses. Na cidade de Crateús travou-se um intenso combate entre os revoltosos e as forças legalistas, culminando com a morte de dois membros do grupo. A Coluna atravessou o Ceará, passando pelo Rio Grande do Norte e, em fevereiro, invadiu a Paraíba, enfrentando, na Vila de Piancó, séria resistência comandada pelo padre Aristides Ferreira da Cruz, líder político local. Após ferrenhos combates, a Vila acabou ocupada pelos revolucionários. A Coluna permaneceu em atividade por mais de um ano, quando então dirigiu-se à Bolívia onde seus integrantes receberam asilo político.
Professor do Curso de Ciências Políticas da Unifor