Monumento marcará passagem da Coluna Prestes pelo Ceará
Para marcar os 80 anos da passagem da Coluna Prestes no Ceará, será inaugurado, no próximo dia 14, em Crateús, um monumento em homenagem ao movimento. A cidade foi o único município cearense onde houve combate entre o 2º destacamento da Coluna e as forças
Publicado 11/12/2006 17:17 | Editado 04/03/2020 16:37
O monumento de 13,5 metros é de autoria de Oscar Niemeyer. O arquiteto criou e disponibilizou o projeto para os municípios pelos quais a coluna passou. No Ceará, com iniciativa da Comissão de Anistia e recursos do governo do Estado, o marco foi erguido. Este é o quarto no País.
Pouco discutida, pelo menos no cenário cearense, a história da Coluna Prestes talvez precise ser redescoberta no Estado. A marcha cruzou a fronteira com o Piauí, entrando pela Serra da Ibiapaba, entre Guaraciaba do Norte e Ipueiras. Nessa frente, seguia o 2º destacamento, comandado por João Alberto, chamando as atenções do governo. Enquanto isso, Luiz Carlos Prestes seguia com os 1º, 3º e 4º destacamentos pelo sul do Ceará, rumando para o Rio Grande do Norte. O contigente maior da Coluna esperava em Arneiroz a chegada do destacamento João Alberto. Este, no dia 13 de janeiro de 1926, chegava a Ipu. Daí, seguiu por Ipueiras, Nova Russas e distrito de Sucesso. Em seguida, a cidade de Crateús foi invadida. Após o ataque mal sucedido, a Coluna bate em retirada, seguindo para Arneiroz. Com o movimento unificado, a marcha caminha pelo norte até Pereiro, onde finalmente cruza a fronteira do Rio Grande do Norte.
Padre resgata a Coluna no Ceará
Na cidade cearense onde o fato mais relevante da Coluna Prestes aconteceu, Crateús, as lembranças da história parecem se esvair entre os moradores. Os mais velhos ainda transmitem o pouco que resta aos filhos. Para os mais novos, adolescentes e crianças, Coluna Prestes é nome que soa estranho e provoca aquela expressão corriqueira de quem imagina: “o que é isso mesmo?”. Já padre Geraldo Oliveira Lima é um dos poucos que, em Crateús, consegue lembrar claramente da história do movimento. Padre Geraldinho é autor talvez do único livro que trata da passagem da Coluna Prestes no Ceará, com o privilégio de ter conversado com testemunhas, como o próprio Luiz Carlos Prestes, entre outras pessoas que viveram o episódio nos municípios por onde os revolucionários passaram.
“A Coluna Prestes é uma epopéia”, compara o pesquisador. Na década de 1970, padre Geraldinho passou oito anos pesquisando e entrevistando testemunhas. A idéia era que historiadores de todos os Estados por onde a Coluna passou fizessem sua pesquisa. Mas, só o padre levou o compromisso adiante. O resultado foi a obra “Marcha da Coluna Prestes Através do Ceará”. Por isso mesmo, ele fala com tanta certeza e admiração do fato. Segundo o pesquisador, o comandante João Alberto nunca comentou sobre o combate em Crateús com Carlos Prestes. Quem afirmou isso ao escritor foi o próprio Prestes, por telefone, ressaltando também a coragem de João Alberto. “Ele falou para mim que João Alberto sempre foi muito corajoso, ele não media perigo”.
As histórias dos moradores de Crateús à época são reveladoras para se entender e sentir o que aconteceu na cidade. No livro, o morador Frutuoso Lins, jovem em janeiro de 1926, diz que foi o guarda da Estação quem lhe contou que quando o relógio bateu 3h “rebuou uma saraivada de rifles e fuzis”. Com detalhes, Lins explicou como se deu a ação inicial da invasão. Foi o próprio João Calixto, guarda da Estação, que revelou a euforia dos revolucionários no local. “Entre 4 e 5 horas da manhã, corriam eles pelas calçadas cantando ‘Mulher rendeira’ e gritando ‘Queima Chicuta’ e batiam com o coice do rifle nas portas da Estação”.
No resgate histórico, há detalhes ausentes em qualquer livro didático, grande diferencial de sua obra. Como o susto de dona Maria Augusta ao deparar com o tenente Tarquínio, que comandava uma das tropas da Coluna, na porta de sua casa. Contou ela que Tarquínio pediu a seu irmão que lhe mostrasse as trincheiras da polícia. Foi aí que dona “Nenem” Augusta segurou o braço do “mano” impedindo-o de ir. Ainda assim, o tenente insiste com ela: “Solte o rapaz, dona! Deixe o rapaz, dona!”.
Fonte: Diário do Nordeste