Russos lembram com amargura o 15º aniversário do fim da URSS

A Rússia lembra nesta segunda-feira (25/12) o 15º aniversário do discurso em que Mikhail Gorbachov anunciou sua renúncia e assinou a “certidão de óbito” da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).

“Não há nada a comemorar. Gorbachov nunca foi um comunista. Não pôde preservar a URSS porque tinha outra tarefa em mente – seu desmoronamento”, disse neste deomingo o pensionista Gennadi Abashin.


 


Maria, de 24 anos, expressou opinião semelhante, ao considerar que Gorbachov deveria “ter modernizado o país para evitar a desintegração”. “Entre as repúblicas existiam fortes laços. Tínhamos muitas coisas em comum”, disse a jovem, enquanto passeava sob a neve em frente ao Kremlin.


 


O Estado soviético tinha deixado de existir quatro dias antes – mas a renúncia do último dirigente do país, em discurso televisionado em 25 de dezembro de 1991, convenceu os últimos incrédulos de que a União Soviética não existia mais.


 


Os turistas que visitavam a Praça Vermelha naquela noite testemunharam a bandeira soviética sendo arriada. Em seu lugar, hastearam a tricolor bandeira czarista da “nova” Rússia, comandada por Boris Yeltsin.


 


Gorbachov fraquejou ao pronunciar o discurso. Embora tenha defendido as desastrosas reformas efetuadas com sua Perestroika, ao menos fez mea-culpa e assumiu erros claros na condução da União Soviética.


 


“Chave do desastre”
O discurso não foi uma surpresa, já que havia sido antecipado pela mídia na véspera. Foi motivado pela “nova realidade política” surgida após a criação da Comunidade dos Estados Independentes (CEI) naquele 8 de dezembro.


 


Em pleno momento em que seu modelo de gestão chegava à falência – e a URSS, à ruína -, Gorbachov discursou em favor da “preservação do Estado” e da “integridade do país”. O último chefe de Estado soviético disse até lamentar que as pessoas perderiam “a cidadania de um grande país”. Mas continuou a se considerar correto.


 


Ele já tinha perdido todos os símbolos do poder em 21 de dezembro, quando os líderes de 11 das antigas 15 repúblicas da URSS – menos a Geórgia e as três bálticas – nomearam um novo comandante das Forças Armadas. “Gorbachov contribuiu para o desaparecimento da URSS. E mais: foi a chave do desastre”, opinou Boris, de 28 anos.


 


De acordo com ele, Gorbachov “deixou-se usar como um títere. Agora, deveria viver como um aposentado e abster-se de participar da vida política. Seu momento já passou”. De fato, segundo pesquisas de opinião, mais da metade dos russos tem saudade da URSS. O índice supera os 75% entre pessoas com mais de 60 anos.