Artigo de Clarissa Peixoto: Todos pela democratização da comunicação

Travestida de democrática, mas vilã primeira da soberania nacional, a grande mídia tem corroborado para a manutenção de uma realidade nada justa, do ponto de vista da opressão de brasileiros sobre brasileiros. Se bem avaliarmos a postura dos grandes veícu

A imperiosa Globo se mostra protagonista do processo intitulado “maior escândalo brasileiro dos últimos tempos”. Plástica indiscutível, conteúdo grosseiro a olho nu.  Refiro-me, especialmente, as falácias propagadas, distorções de dados e fragmentações dos fatos noticiados, que tem como padrinhos uma elite raivosa, amparada nas concepções do neoliberalismo.



 


 


Essa máxima, abstraída pelos movimentos sociais de todas as frentes – bastante ultrapassada, se partirmos das reflexões de estratégia e tática, onde detectamos o inimigo – entoa a necessidade da ação acerca do compromisso dos meios de comunicação junto à sociedade. TV’s e rádios passam pelo crivo da cultura nacional e precisam despertar para a idéia da diversidade, exposta na face do brasileiro, que é multiétnico, com orientações sexuais diversas, jovens, mulheres e tem o direito de participar da produção da notícia.


 


 


É neste espaço que discutimos a democratização dos meios eletrônicos de comunicação e seu compromisso enquanto mecanismos públicos. Partindo deste pressuposto e da existência de regulamentações para o exercício das atividades em torno da comunicação, é fundamental e obrigatória uma atuação mais contundente dos movimentos sociais no que se refere à luta em prol da democratização da comunicação no Brasil.



 


 


Esta frente de luta passa pelas experiências de rádios livres e comunitárias, TV’s públicas, universitárias, movimento de software livre, campanhas como “Quem financia a baixaria é contra a cidadania”, e por aí, uma lista imensa de agentes que, há algum tempo, vêm se mobilizando neste sentido. A comunicação, enquanto área de conhecimento tem sido objeto de estudo sob a ótica da sociologia, da psicologia, da antropologia, estudos em educação e uma infinita gama de intersecções. Entretanto, é no campo popular, do direito ao acesso à informação, garantido pelo documento legislativo máximo, a Constituição Federal, que esbarramos na questão de cunho prático e objetivo.



 


 


Debates envolvendo o tema têm sido tecidos, ao ponto que, o diagnóstico sobre as dificuldades de ultrapassar barreiras como a gigantesca bancada de empresários da comunicação no Congresso Nacional, ou mesmo a natureza consultiva do Conselho de Comunicação Social, não nos serviram como desculpas para nos eximirmos de nosso papel frente à luta popular e à consolidação de uma comunicação não opressora, com matizes realmente democráticos. Os problemas são inúmeros, no entanto, precisamos de uma política clara e ampla que nos permita interferir, efetivamente, nas decisões a respeito dos direcionamentos da atividade midiática no Brasil.



 


 


Florianópolis, a pouco mais de dois meses, foi sede da XIII Plenária do Fórum Nacional de Democratização da Comunicação (FNDC), entidade que abriga diversas outras organizações que compõem o quadro de luta por uma sociedade mais democrática. O que passa, logicamente, pela democratização dos veículos de comunicação, contra o monopólio e oligopólio de cerca de 11 famílias que mantém, sob posse, o direito à informação, através de seus conglomerados comunicacionais.



 


 


O FNDC é repleto de méritos, e cumpre o papel mínimo de ocupar os espaços institucionais que lhe é dado. De qualquer forma, o que se pretende distinguir é que não basta o discurso abrasivo do militante, nem mesmo ocuparmos os espaços potenciais de debate. Isso é parte do processo, que deve ser amplo, fundamentado e, sobretudo, parte estratégica do projeto de nação que queremos construir. Nada se modifica se não houver um planejamento de comunicação firme, e não concretizaremos metade de nossos anseios se não tivermos formas de comunicação de massas com cara e conteúdo de povo, de nacionalidade, de cultura brasileira. A classe opressora constituiu um sistema impenetrável aos setores mais populares, e para que possamos no ver na televisão, falta ainda à inserção incisiva dos movimentos sociais nesta batalha. Não apenas destaca-se aqui, a incorporação por parte destes movimentos ao FNDC, mas, a criação de frentes pela democratização da comunicação, no interior de entidades como CUT, MST, UNE, UBES, UBM, entre outras, que formam a Coordenação dos Movimentos Sociais.



 


 


Depois deste escândalo protagonizado pela Rede Globo, Veja e veículos de comunicação afins, no desejo de coibir o avanço democrático em nosso país, está mais que na hora de encamparmos a luta contra os principais vilões brasileiros. Exemplo disso é a chegada da TV digital, que não é meramente uma mudança de sistema, mas um momento em que diversas questões de conteúdo, linguagem e políticas de comunicação deveriam ser discutidas. É momento histórico e de atenção por parte de todo o cidadão brasileiro. Não basta detectarmos a voracidade com que eles nos odeiam, temos que, definitivamente, elaborarmos a estratégia para modificar as relações entre mídia e sociedade, destacar a importância de veículos independentes de comunicação e nos posicionarmos numa ampla junção de forças sociais. Do ponto de vista da cultura e do esclarecimento político, é a hora deste movimento tomar maiores proporções e ser encabeçado pelos maiores interessados no assunto: as frentes populares.


 


 


Clarissa Peixoto é Jornalista, assessora da Prefeitura de Laguna, militante da UJS e do PCdoB.