Medo da inflação impede Brasil de crescer, diz Belluzzo

A adoção de “comportamentos defensivos” por parte do governo e do empresariado brasileiro é o grande entrave da economia brasileira nos últimos 25 anos, medo esse que vem freando o crescimento do país.

Na opinião do professor de economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Luiz Gonzaga Belluzzo, essa atitude “pé no freio” é um reflexo das décadas de 1980 e 1990, que sofreram com a recessão e com o colapso monetário e fiscal, frutos da hiperinflação.



“Em 2004, o país começou a crescer 5%, e o Banco Central, numa atitude defensiva, logo subiu a taxa de juros e a economia desacelerou rapidamente. Isso deixa o empresariado com um pé atrás”, exemplifica.



“As sucessivas crises levaram a uma atitude defensiva de todo mundo na proteção da sua riqueza. Começou na década de 1980, que pagou o preço da imprudência dos militares na década anterior. Criaram, assim, uma indexação com contração do crédito e volatilidade de preços. Já na década passada, penalizamos o investimento produtivo com uma taxa média de juros reais de 20% no governo de Fernando Henrique”, pontua Belluzzo.



O professor considera que esse tipo de comportamento é difícil de ser desarticulado e leva tempo para deixar o inconsciente empresarial e dos dirigentes do país.



“Esses entraves foram herdados e não tratados adequadamente, impedindo que a economia cresça. Agora, a mudança não é mecânica. É preciso que haja uma nova visão, uma articulação virtuosa entre o público e o privado, que haja confiança na continuidade do crescimento, porque tudo que aqui se começa, é interrompido bruscamente. Assim todos ficam receosos, com as barbas de molho”, completa.



Para os próximos quatro anos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Belluzzo acredita que o país possa ganhar essa confiança, desde que saiba combinar três questões econômicas centrais: manutenção do equilíbrio fiscal, redução dos juros e desvalorização cambial. “Se essa combinação não for feita de maneira adequada, não vamos crescer mais do que 3% ao ano”, finaliza.