Sem essa de areia de cemitério – Messias Pontes

Tirar ensinamento dos erros parece não ser o forte da maioria do Partido dos Trabalhadores. O exemplo da eleição de Severino Cavalcante (PP-PE) para a presidência da Câmara dos Deputados, que se constituiu num verdadeiro desastre, ainda está muito recente

Sua eleição se deu a partir da disputa de dois petistas – Virgílio Guimarães, de Minas Gerais, e Luiz Eduardo Grennhalg, de São Paulo, que diziam ter apoio da maioria, como hoje dizem o comunista Aldo Rebelo e o petista Arlindo Chinaglia.


 


Com a queda de Severino Cavalcante, no auge da crise do “mensalão”, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vislumbrou que o único nome da base aliada capaz de derrotar a direita, naquele momento, era o de Aldo Rebelo. E a vitória do parlamentar comunista foi de suma importância para a governabilidade do presidente Lula, bem como para resgatar a imagem do Poder Legislativo tão desgastada com o “mensalão” de setores da base aliada, inclusive de petistas, e o “mensalinho” de Cavalcante.


 


Hierarquicamente, o presidente da Câmara dos Deputados é o terceiro, uma espécie de 2º vice-presidente da República. O PT já tem o cargo mais importante, como recentemente frisou o presidente Lula, mas os petistas querem muito mais, apesar de ter sob seu comando a maioria dos ministérios. Por não ter uma cultura de coalizão, a maioria dos petistas não aceita dividir o poder e age como areia de cemitério, ou seja, quer comer tudo sozinho. A história está prenhe de exemplos de que essa é a pior política, mesmo quando se tem maioria parlamentar.


 


A candidatura de Arlindo Chinaglia é mais que legítima, mas não é a melhor para os interesses do Planalto e do próprio Congresso Nacional. Como bem afirmou o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, “o PT precisa aprender a ceder espaços, sob o risco de isolar-se e comprometer o projeto liderado pelo presidente Lula”. Enfatizou ainda o ministro que “se não aprender a conviver numa aliança heterogênea, o PT ou tende para o isolamento ou para um projeto autoritário”.


 


A diferença fundamental entre os dois é que Chinaglia é candidato mais do PT, e Rebelo é não só da base aliada, mas até mesmo da oposição, pois tem conduzido a Câmara com muita competência, imparcialidade e honestidade. Rebelo já tem o apoio declarado de 17 governadores, o que garante à sua candidatura um aspecto nacional, enquanto Chinaglia conta apenas com os quatro governadores do PT. O comunista não quer ser carimbado como um nome apenas da base aliada, mas como alternativa de consenso entre a maioria dos partidos com representação na Câmara.


 


Em declaração em Fortaleza, semana passada, o presidente nacional do PSB, Roberto Amaral, afirmou que o seu partido apóia a candidatura de Aldo Rebelo “porque temos a experiência da sua gestão”. E ainda “porque é fundamental para a República um bom entendimento entre o Planalto e o Congresso. Além da recondução do comunista para a presidência da Câmara, Amaral defende também a do peemedebista Renan Calheiros à presidência do Senado. É importante lembrar que o PSB governa O Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte, tem uma bancada federal razoável e é um importante aliado do presidente Lula.


 


Em função do amplo apoio que tem recebido, dentro e fora da base aliada, Aldo Rebelo mantém sua candidatura e tem tudo para presidir a Câmara nos próximos dois anos. O mesmo não ocorre com Arlindo Chinaglia porque é visto como um candidato eminentemente petista. E o ministro Tarso Genro fez um importante alerta na última segunda-feira: “O PT não tem maioria na sociedade, não tem maioria na Câmara nem no Senado. Se o partido não compreender essa especificidade, não vai conseguir cumprir seu papel”. Precisa dizer mais?


 


Se a base aliada for para a disputa dividida, o próximo presidente da Câmara será hostil ao governo Lula e isto é muito perigoso para a democracia, pois a possibilidade de um golpe, como foi tentado pela oposição, não está descartada. Depois não venham os petistas chorar o leite derramado, pois será tarde demais.


 


Messias Pntes é jornalista