Para Manuela, esquerda precisa se comunicar com mais eficácia

A edição de janeiro da revista Caros Amigos traz uma entrevista com Manuela D´Ávila eleita deputada federal pelo PCdoB gaúcho, concedida a Carolina Ruy. Após receber 270 mil votos em 1º de outubro, ela se prepara para assumir sua vaga na Câmara F

Abaixo, confira alguns trechos da entrevista, nos quais ela fala a respeito de sua trajetória política e sobre a falta de diálogo de parte da esquerda brasileira com seus eleitores.



Manuela D’Ávila nasceu em Porto Alegre em 1981. Fez jornalismo na PUC do Rio Grande do Sul, universidade onde começou a participar do movimento estudantil. Filiou-se à União da Juventude Socialista no mesmo ano em que entrou na faculdade, 1999, e no Partido Comunista do Brasil dois anos depois. Passou pela diretoria da UNE e participou de fóruns internacionais sobre juventude.



Em 2003 foi eleita vereadora em Porto Alegre com 9.498 votos, sendo, aos 23 anos, a mais jovem vereadora da história da cidade. Com uma plataforma voltada para políticas de juventude, apoiou projetos como: a criação de uma Comissão Especial de Políticas Públicas para a Juventude; criação da Semana da Juventude; isenção de taxa de inscrição no vestibular para desempregados; validação da passagem escolar durante todos os dias da semana; meia-entrada para estudantes em eventos culturais e esportivos; e reserva de vagas nas creches municipais para jovens mães que estudem. Também criou o Gabinete Itinerante, que vai até escolas e universidades dialogar com a juventude.



Em suas entrevistas, você diz que a esquerda precisa ser mais leve e descontraída. O que houve com a sisudez da esquerda?
Acho que a gente nunca pode abstrair historicamente as coisas. Não tem como querer me comparar a alguém que se forjou militante na época da ditadura de 64. Era uma realidade absolutamente diferente, existia a União Soviética etc. São momentos que geram trajetórias diferentes. Como diz o próprio Karl Marx: o homem é o que quer ser, mas com as condições que lhe são dadas. Devemos nos adaptar às nossas condições. Não se trata de uma sentença de condenação, de um determinismo, mas da necessidade de adaptar a forma como dialogamos. Eu sou formada em jornalismo, sou obcecada por formas. Acho que, no nosso espectro político, seja no PCdoB ou em algumas correntes do PT, temos que saber pensar, formular e passar nossas idéias políticas de forma que correspondam à realidade. Sabe aquela coisa, emissor, receptor e mensagem? Acho que, no caso, a mensagem está mal construída. O conteúdo também muda com a história e nossa visão política, naturalmente, também se altera. Eu vejo esses materiais e panfletos, são iguais aos da época da ditadura! Conheço uma pessoa que distribui panfletos que devem ser exatamente iguais aos que o Astrojildo Pereira distribuía lá em 1922. A gente tem que saber usar essas ferramentas e quebrar determinados bloqueios, sobretudo porque a gente vive numa época em que a comunicação assume um papel decisivo.  Por exemplo: o PT, que é o maior partido de esquerda da América Latina, não tem um site que dialogue com seus eleitores. Quem faz isso é o Vermelho, que é do PCdoB. Isso é uma parte de fazer política. Não é preciso ser sisudo, bravo, com jeito de furioso, pra ser de esquerda.



A íntegra da entrevista está na edição de janeiro da revista Caros Amigos.