Fórum Social Mundial: Ainda distante da opinião pública

O “ponto forte” do Fórum Social mundial é a defesa dos direitos humanos, da democracia e da diversidade, enquanto sua “principal deficiência” é a dificuldade para ser compreendido pela opinião pública, de acordo com participantes da última edição do FS

Outras deficiências apontadas por pouco mais de um quinto dos entrevistados são a “divisão entre os organizadores” e a “mensagem política confusa”, indicando certa insatisfação por questões exclusivamente internas. Mas, oferecer “um espaço para debate democrático de idéias” é um dos aspectos mais positivos do FSM. A defesa dos direitos humanos foi apontada por pouco mais da metade dos entrevistados pelo Ibase, seguida do “intercâmbio de experiências” e da apresentação de “alternativas à globalização neoliberal”.


 


Essa imagem que seus próprios participantes têm do FSM faz parte da publicação que o Ibase divulgará durante a sétima edição do Fórum em Nairóbi, capital do Quênia, de 20 a 25 deste mês. O FSM do ano passado aconteceu, pela primeira vez, em três sedes distantes, nas capitais da Venezuela e de Malí, em janeiro, e na cidades paquistanesa de Carachi, em março, e por isso foi denominado “policêntrico”. Esse fato permitiu ao estudo comparar características e opiniões dos presentes em Caracas e Bamako, sendo que em Carachi a pesquisa não pôde ser feita. E o resultado apresenta diferenças notáveis.


 


Na capital venezuelana, onde os latino-americanos eram quase a totalidade dos participantes, 64% dos 2.400 entrevistados disseram ter posição política de esquerda e apenas 1,2% disse ser de direita, enquanto o resultado foi, respectivamente, 30,4% e 8,7% entre os africanos em Bamako. A respeito do trabalho infantil, por exemplo, 33,1% dos entrevistados na capital de Malí rechaçaram totalmente sua proibição, contra apenas 10,1% em Caracas. A legalização do aborto teve oposição de 44,4% entre os africanos contra 19,4% dos latino-americanos, refletindo maior religiosidade na capital de Malí.


 


Os resultados refletem “diferenças culturais, outros conceitos, mas, as mesmas preocupações”, disse Cândido Grzybowski, diretor do Ibase. Enquanto na América Latina não há dúvidas sobre a necessidade de erradicar o trabalho infantil, entre os africanos, de cultura mais rural, as opiniões se dividem. Mas, às vezes, há distorções na pesquisa, porque uma mesma pergunta é entendida de maneira distintas nos dois continentes, “há diferentes percepções”, acrescentou.


 


A realização do encontro, agora reunificado, em Nairóbi permitirá “resgatar uma África excluída do debate”, superar a idéia de “continente perdido”, ignorado pela imprensa internacional, afirmou Grzybowski, membro do Conselho Internacional do FSM. A África “tem vitalidade, muita energia e diversidade” para apoiar os seus, acrescentou8. nas seis edições anteriores, quatro delas em Porto Alegre, somaram-se mais de 560 mil participantes. As distâncias e os altos custos de transporte fazem com que a esmagadora maioria dos participantes seja do continente onde acontece o encontro, um desafio para a globalização do Fórum, reconheceu Grzybowski. Mas, fazer anualmente o maior encontro de movimentos sociais, organizações não-governamentais e variadas agrupações da sociedade civil também exiges gastos de difícil financiamento.


 


A organização do sétimo FSM exigirá cerca de cinco milhões de euros (US$ 6,5 milhões), mas, o total deverá ser 10 vezes maior, estimou Grzybowski ao somar os gastos pagos pelos próprios participantes e contribuições não manejadas diretamente pelos organizadores. Por isso, pensa-se em não mais realizar o Fórum anualmente, como acontece desde 2001, substituindo-o por encontros regionais ou manifestações em diversas cidades durante o Fórum Econômico Mundial, que acontece todo mês de janeiro na localidade suíça de Davos. O FSM surgiu como contraponto a esse encontro empresarial, financeiro e de governos. Essa e outras questões sobre atuação futura e planejamento de ações estarão em discussão no quinto dia do encontro em Nairóbi.


 


Outro desafio do FSM é promover maior convergência e sistematização das idéias, a articulação das numerosas organizações e redes da sociedade civil que proliferaram nas últimas décadas. A fragmentação fez com que no FSM de 2005 houvesse mais de 5.000 atividades, um excesso reconhecido por todos. O problema é qual método usar para buscar consensos. “A divergência não é poblema”, a diversidade de idéias é criativa, mas, “não tanta que justifique milhares de atividades” em cada edição, “talvez o ideal seja reduzi-las a umas 500”, disse o diretor do Ibase.


 


Fonte: IPS/Envolverde