Lula pede integração e destaca avanços conquistados pelo Mercosul

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta sexta-feira (19/1), na abertura da cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro, que o bloco deve ter compromisso com a integração regional e utilizá-la para combater as históricas dívidas sociais da região.

Durante o encontro, Lula entregou  a presidência temporária do bloco a seu sucessor, o presidente paraguaio Nicanor Duarte Frutos. Citando números sobre os resultados do Mercosul, Lula disse que, em 1990, antes do Tratado de Assunção, o volume de comércio entre os países membros era de US$ 3 bilhões. Hoje, a cifra já ultrapassa US$ 30 bilhões.



Ao fazer um balanço da presidência temporária do Brasil, citou como avanços a instalação da cúpula social, o fórum dos municípios e províncias, o protocolo para acordo comercial com a Comunidade do Golfo Pérsico, os tratados com a Índia, a aproximação com a África Austral, Israel e a União Européia, a adesão da Venezuela e o início da integração da Bolívia.



''Que sejam bem-vindos nossos irmãos bolivianos e todos aqueles que queiram ingressar no nosso bloco'', disse Lula. E lembrou que, a exemplo de outros países da região, o Brasil passa a trazer em seu passaporte o nome Mercosul.



Para Lula, ''o pluralismo político ideológico é totalmente compatível com o nosso processo de integração''. O presidente disse estar plenamente convencido de que a convergência do Mercosul com a Comunidade Andina de Nações será em benefício de todos. ''Nunca existiu um clima político tão favorável para a nossa integração'', lembrou Lula.



Ele reconheceu que há muitos desafios nessa convergência e na criação da Comunidade Sul-Americana de Nações (Casa), que pretende reunir todos os países da região.  Lula assumiu que existem diferenças nas políticas internas dos países da região e que há diferentes graus de institucionalidade ''que podem acarretar superposições transitórias''.



O presidente brasileiro ressaltou, porém, que ''somos formados na adversidade''. De acordo com ele, as diferenças políticas não impedem a integração. Lula disse ainda que as razões que deram origem ao Mercosul permanecem e que ''nossa união é necessária''.



Banco do Sul e Gasoduto
O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, defendeu o fortalecimento de dois projetos centrais para a integração do Mercosul: a criação do Banco do Sul e a construção do chamado Gasoduto do Sul.



O Banco do Sul é uma idéia do presidente venezuelano, Hugo Chávez, que Kirchner classificou como ''instrumento indispensável para o financiamento de projetos para a região''. Kirchner defendeu, ainda, a criação de uma moeda única para o bloco.



Sobre o Gasoduto, projeto que integrará toda a região, partindo da Venezuela e chegando até a Argentina, Kirchner disse ter visto com muita alegria o acordo entre o Brasil e Venezuela para acelerar os estudos sobre o primeiro trecho da obra que ligaria a cidade de Guiria a Recife.



Paraguai e Uruguai
O presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, defendeu que o programa de trabalho do grupo já não deveria mais ''consumir tempo'' com travas que impedem a livre comercialização de mercadorias entre os países. ''É importante que todos os países deixem de lado a competitividade e garantam cooperação entre si. Por isso é conveniente entrar em uma outra etapa de discussões''.



O presidente do Uruguai, Tabaré Vasquez, também fez um discurso de crítica ao Mercosul, contrastando com as intervenções comemorativas realizadas antes pelos presidentes do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e da Argentina, Néstor Kirchner. ''O Uruguai pede justiça no tratamento no processo de integração'', disse.



Vasquez citou o Brasil nas suas críticas, ao dizer que o seu país exportou US$ 5 milhões em autopeças no ano passado, enquanto recebeu o equivalente a US$ 150 milhões em autopeças brasileiras.



Referindo-se nominalmente ao presidente Lula, o presidente uruguaio disse que é verdade que há êxito no bloco, ''mas para alguns países menores como o Uruguai o intercâmbio comercial no Mercosul é muito deficitário. Nossa realidade (do bloco) deve ser contemplada por uma flexibilização que o Uruguai pleiteou em outubro de 2006, em que fizemos um diagnóstico sério dessa situação'', disse.



Presença do Estado e soberania
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pediu mais presença do Estado nas economias locais dos países que compõem o Mercosul. “Não estou propondo o socialismo no Mercosul”, disse Chávez, “mas faço uma sugestão muito respeitosa de que cada país dê maior espaço para o Estado na economia”.



Com um discurso repleto de críticas ao imperialismo norte-americano e ao neoliberalismo, o presidente venezuelano reforçou o compromisso do país com o bloco. “Como disse Lula, somos produto de uma crise histórica. Por isso, estamos obrigados a não fracassar”, afirmou. “Terminou a época do imperialismo na América Latina. Ou pior, da ditadura”, proclamou.



De acordo com Chávez, o modelo econômico do bloco é altamente dependente de empresas de fora da região. “Boa parte do nosso comércio não somos nós que decidimos. E eles não têm interesse na nossa integração”, atacou. Segundo ele, das 300 maiores empresas que atuam no Mercosul, 40% são multinacionais e outros 36% são dependentes de matrizes multinacionais.



Chávez afirmou, ainda, que a autonomia dos Bancos Centrais dos países latino-americanos “é perversa e vai contra os interesses da sua própria pátria”, já que acabam por obedecer aos interesses do Fundo Monetário Internacional e do Banco Mundial. Para aumentar a independência econômica do bloco, o presidente venezuelano sugeriu o fortalecimento do projeto do Banco do Sul, que unificaria as reservas nacionais.



Ao finalizar seu discurso, Chávez pediu aos presidentes presentes e, especialmente, ao presidente do Peru, Alan García Perez, que não o excluíssem das discussões políticas. “Respeitamos a soberania de cada país como peço que respeitem a nossa”, solicitou.



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