Paulo Henrique Amorim seleciona textos sobre privatização

O acidente na Linha 4 do Metrô de São Paulo trouxe de volta a discussão sobre a privatização. Apesar do esforço da mídia conservadora de São Paulo, que tenta concentrar as responsabilidades nas empreiteiras e dar a impressão de que elas assinaram o contra

José Serra, Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso, as estrelas que mais brilham na constelação tucana de São Paulo, calaram-se diante da tragédia. Serra diz obviedades. (clique aqui).  Fernando Henrique Cardoso e Geraldo Alckmin não abriram a boca, nove dias depois da tragédia.(clique aqui).  A cratera é um rombo no centro da ideologia tucana.



Nenhum estado brasileiro seguiu com tanta devoção a “teologia da privatização” – Estado em que há doze anos mandam os tucanos. Os tucanos de São Paulo parecem seguir a estratégia: culpar as empreiteiras e fazer o tempo passar.



Como controlam a mídia conservadora, os tucanos de São Paulo esperam que a memória da cratera se apague rapidamente da cabeça dos eleitores. Antes que isso ocorra, o Conversa Afiada preparou uma mini-antologia sobre a privatização:



O que Fernando Henrique Cardoso já disse sobre privatização:



“Ele (Serra) não fez crítica nenhuma à privatização. Entenda-se bem o que ele disse. É preciso despetizar o estado, foi o que ele quis dizer. É que houve o setor privado ocupando o Estado e o partido é um setor privado. Isso que ele criticou”.
(FHC, 02/01/2007, se referindo ao discurso de Serra sobre as privatizações)



“Eu não sou contra a privatização da Petrobras (…) A Petrobras poderia deixar de ser uma estatal, de controle do governo, para passar a ser de controle público, formado por grupos da sociedade”.
(FHC, em entrevista à rádio CBN durante a campanha presidencial de 2006)



Depois FHC voltou atrás, disse que havia sido mal interpretado e divulgou a seguinte nota:
“Um cacoete de linguagem, de minha parte, e uma transcrição imprecisa da entrevista que dei hoje pela manhã à rádio CBN deram origem a um mal-entendido sobre minha posição quanto ao controle da Petrobrás e do Banco do Brasil. Minha posição é clara: estas empresas devem ser públicas. Ao contrário do que vem ocorrendo no governo atual, que as utiliza para fins privados, no interesse de grupos e partidos políticos. Perguntado sobre a onda de desinformação e terrorismo eleitoral em torno do assunto das privatizações, declarei textualmente: “Isto é demagogia. Ninguém vai privatizar a Petrobras. Eu disse isso quando foi feita a Lei (que flexibilizou o monopólio estatal no setor). Eu mandei uma carta ao Senado. Eu não (e aqui caberia a vírgula ou o ponto e vírgula que ficou faltando para dar sentido à frase), sou contrário à privatização da Petrobras. Ela deve ser outra coisa: uma empresa pública. E não ser utilizada para fins políticos”. Sobre o sentido da minha declaração, não cabe dúvida. Dúvida, aí sim, pesa sobre honestidade, inclusive intelectual, daqueles que fazem do vale-tudo um método de luta política.”
Fernando Henrique Cardoso.



“Outra área vital no processo de reformas em curso é a das privatizações. No período 1991-96, o Programa Nacional de Desestatização do governo federal arrecadou cerca de US$ 18 bilhões, entre novas receitas e transferência de dívidas. Poderemos realizar, apenas em 1997, em outra projeção conservadora, vendas acima de US$ 10 bilhões. No primeiro semestre deste ano, contamos privatizar a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), uma das maiores empresas de mineração do mundo, e a segunda mais importante estatal brasileira. Por outro lado, teve início em 1996 uma nova fase do programa de desestatização, voltada à privatização de serviços públicos como energia elétrica, ferrovias, rodovias, portos e telecomunicações. Até o final de 1998, teremos encaminhado a venda das grandes empresas do setor energético e de telecomunicações, cujo valor patrimonial é incomparavelmente superior ao que já obtivemos com o Programa Nacional de Desestatização. Esta modalidade também se estende aos governos estaduais, que têm seus próprios e importantes projetos de privatização”.
(Discurso do Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso, por ocasião do seminário organizado pela Cofindustria. Roma, Itália – 11/02/1997)



“Privatização não é uma questão ideológica. É uma questão prática. Há dois argumentos para provar isso. O primeiro é gerencial. O Estado, em certos setores, é bom gerente (…) O outro argumento é mais forte. As empresas precisam de expansão. E o Estado hoje não tem condições de sustentar a expansão dessas empresas”.
(FHC – entrevista à Veja on line em 24/08/1994)



O que Geraldo Alckmin já disse sobre privatização:



“A maioria (dos bancos estatais) já foi privatizada, mas deveriam ser todos. Tem muita coisa que se pode avançar. Susep, sistema de seguros, tem muita coisa que se pode privatizar”.
(Alckmin, em entrevista ao jornal O Globo em 15/01/2006)


 


 “Veja o caso da privatização da telefonia. Antigamente, telefone custava US$ 3.000 e você tinha que declarar no imposto de renda. Tinha uma fila enorme”.
(Alckmin, durante campanha em Varginha (MG), 20 de outubro de 2006)



“Não tem nenhum problema privatizar se for preciso. O que não pode é mentir”.
(Alckmin, durante debate no SBT em 19 de outubro de 2006)



“Meu governo manterá sob controle estatal e estimulará os papéis estratégicos que cumprem a Petrobras, o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e os Correios”.
(carta ao PDT assinada por Alckmin durante a campanha em 15 de outubro de 2006).



O que José Serra já disse sobre privatização:



“[Ele] fez um processo de privatização das teles limpo, que serviu aos interesses do país e do setor, uma área super-espinhosa. Imagine o que teria acontecido com as teles se as empresas de telecomunicações fossem estatais, não tivessem sido privatizadas”, discursou Serra, acrescentando: “A gente tem memória para apresentar”. (FSP 20 de dezembro de 2005)



“Eu era ministro e defendia a privatização da Vale”.
(Serra, comício de Alckmin em 25/10/2006)



“Fui a favor da privatização da telefonia, mas não vou privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal e a Petrobrás.”
(José Serra no programa eleitoral, 15/10)



“Estou aberto a discutir a possibilidade de presídios privados, é uma experiência que precisa ser avaliada”.
(Serra, O Estado de S. Paulo, 09/08/2002).



O que o presidente Lula já disse sobre privatização:



“A única coisa que eles [tucanos] souberam fazer foi vender o patrimônio todo para pagar as dívidas que eles mesmos fizeram. Não estou inventando, ele [Alckmin] acabou de privatizar a empresa de linha de transmissão de São Paulo”.
(Lula, na saída da Granja do Torto em Brasília em 14 de outubro de 2006)



“Nós não vamos vender nada, pelo menos da parte do governo federal”.
(Lula, em 18/01/2007)



“A única coisa que ele (Alckmin) sabe fazer é vender coisas. O PSDB não devia ser candidato a nada. Devia ser candidato a (comandar) uma empresa de vender empresas estatais para pagar dívida que eles mesmos contraíram.”
(Lula, em 10 de outubro).



O que Miriam Leitão já disse sobre privatização:



“Se todos os usuários de telefone celular que conseguiram acesso ao produto por causa da privatização votassem contra Lula, ele perderia a eleição. O debate da privatização foi o mais bobo da temporada eleitoral”.
(Miriam Leitão, O Globo, 24/10/2005)



“Lula se opôs à maioria dessas mudanças como: abertura da economia, fim das políticas protecionistas, queda da inflação com o real e privatização. Tudo aumentou a competitividade da economia brasileira, que, assim, preparou-se para aumentar as vendas externas quando o mundo começou a comprar mais”.
(Miriam Leitão, O Globo, 03/09/2005).