Somem originais de livro de Fernando Morais sobre Zé Dirceu

Com aproximadamente 300 páginas e já em fase de edição, o relato sobre a passagem do ex-deputado José Dirceu, de 60 anos, pelo Palácio do Planalto, que era escrito em parceria com o jornalista Fernando Morais, também de 60, não chegará às livrarias.

O autor informou que os originais, contidos em seu computador, foram furtados de sua casa de praia no Guarujá (SP) e que, por esse motivo, o projeto “acabou”. O incidente só veio à tona agora, meses após a ação dos criminosos, cuja data nem a polícia nem Morais souberam precisar. “Deve ter sido em fevereiro ou março do ano passado”, contou o escritor.


 


A história do furto foi confirmada, por e-mail, pelo ex-ministro, que não quis falar sobre o assunto. Segundo Morais, além do computador, foram furtados uma caixa de charutos e um taco de beisebol autografado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Dias depois, os objetos foram encontrados num terreno na praia da Enseada, segundo a polícia – mas, no computador, havia sido retirada a memória da máquina.


 


“Alguma coisa consegui salvar, porque estava guardada em cartuchos de filmes que gravamos em Cuba, mas os depoimentos estavam gravados lá”, disse Morais. O investigador da Polícia Civil do Guarujá Paulo Carvalhal, que disse ter trabalhado na ação, relatou que um suspeito chegou a ser detido.


 


Sem edição
Em um primeiro contato, Morais afirmou não possuir cópia do material, ao qual nem mesmo Dirceu tivera acesso. Dias depois, em entrevista ao jornal Correio Braziliense, disse que o ex-deputado estava “com os originais para publicar quando quiser”.


 


À Folha de S.Paulo, Morais explicou que o ex-ministro tinha em mãos um material bruto, não o editado – e que este estava apenas no computador. “(Quando Dirceu soube), teve uma reação de espanto. Se aparecer, eu devolvo e ele decide se publica”, disse Morais.


 


O livro – que seria intitulado Trinta Meses – começou a ser idealizado logo após o petista ter os direitos políticos cassados pelo plenário da Câmara, em novembro de 2005. Hoje Dirceu, tenta reaver seus direitos políticos, cassados até 2015, no STF e via anistia pela Câmara.


 


Isenção
Chamado de “homem forte” do presidente Lula até ter o nome envolvido nos escândalos Waldomiro Diniz e do mensalão – que resultaram em seu afastamento, em junho de 2005 -, Dirceu dizia que o livro não seria “chapa-branca”.


 


Isso apesar de ele manter antiga amizade com o autor que, durante o processo de sua cassação na Câmara, promoveu eventos com intelectuais em solidariedade ao amigo e, em setembro de 2005, depôs no Conselho de Ética como testemunha de defesa do petista. O relato – que deveria expor “as limitações e erros do governo” – deixou alguns quadros do Planalto preocupados com o eventual teor da obra.


 


Segundo o escritor, Dirceu já negociava com uma editoria – cujo nome Morais disse desconhecer. Morais afirmou que, durante a empreitada, recolheu material para escrever, um dia, a biografia de José Dirceu. Ele garante, entretanto, que este projeto é ainda a longo prazo e que, por enquanto, vai se dedicar apenas à biografia que escreve sobre outro amigo, o escritor Paulo Coelho.