PSB fecha com Aldo, tucanos recuam de voto no PT

Em meio a uma negociação entre alguns partidos pequenos para montar um bloco de esquerda que isole o PT, tenha atuação coletiva e torne-se uma das três maiores forças políticas da Câmara Federal, a maior das legendas, o Partido Socialista Brasileiro (PSB)

A decisão era previsível, pois várias lideranças socialistas já haviam declarado voto em Aldo. Mas, com os candidatos correndo atrás de fatos positivos – ou tentando criá-los – para explorar na eleição, o gesto não só ajudou Aldo, como colaborou para prejudicar o concorrente do PT, Arlindo Chinalgia (SP).



PSB quer Câmara “equilibrada”



Isso porque o posicionamento do PSB ocorreu no mesmo dia em que o PSDB recuou da intenção de votar em Chinaglia, para apoiar um postulante do partido, Gustavo Fruet (PR). Fruet entrou na disputa lançado por um grupo de parlamentares autodenominado “terceira via” e “independente”, embora seja controlado por tucanos.



Ao justificar o a opção por Aldo, o PSB, que é aliado do governo Lula, argumentou que ele teria mais chance de ganhar e de deixar a Câmara “equilibrada” do que o petista. “O atual presidente aglutina mais forças na Casa que o Chinaglia”, afirmou o líder do partido, Renato Casagrande (ES), que não poderá votar no comunista, pois se elegeu senador.



Aproximação socialistas e comunistas



Entre auxiliares de Aldo, mais do que as chances de vitória, a decisão do PSB deve ser entendida como um movimento político para além da eleição interna da Câmara. Ela aproxima um pouco mais socialistas e comunistas, reforçando a disposição de ambos de descolar-se do PT na eleição de 2010 para, unidos, disputarem a sucessão do presidente Lula. O candidato deles seria o ex-ministro e deputado federal eleito Ciro Gomes (PSB).



Nas cinco eleições presidenciais que Lula enfrentou, o PCdoB sempre se aliou ao petista já no primeiro turno. Em 2002, o PSB teve candidato – Anthony Garotinho, hoje no PMDB –, mas esteve com Lula naquele segundo turno e no primeiro das demais campanhas. Agora, no entanto, os dois partidos ensaiam uma tentativa de quebrar a hegemonia do PT no chamado campo político da esquerda.



A eleição de 2010 e a quebra da hegemonia petista também estão por trás da negociação para que se crie um bloco de esquerda na Câmara. As conversas até agora envolvem PSB, PCdoB, PDT, PV, PMN, PHS e PAN. Caso o bloco vingue, teria mais de 80 deputados e quase se igualaria às duas maiores bancadas da futura Câmara – PMDB (89 parlamentares) e PT (83).



Proporcionalidade e racha tucano



Os dois maiores partidos estão juntos na eleição para a Presidência da Câmara, e este era um dos motivos para que o PSDB, dias atrás, tivesse manifestado a intenção de votar em Chinaglia. Nesta terça-feira (23), contudo, o PSDB desistiu de seguir o chamado princípio da proporcionalidade (o maior partido comanda a Câmara) e abandonou o voto no petista, para que não houvesse uma briga entre tucanos.



Porta-voz da escolha anterior, o ex-líder do deputado Jutahy Jr. (BA), que na mesma reunião foi sucedido por Antonio Carlos Pannunzio (SP), admitiu que os simpatizantes de Chinaglia voltaram atrás para evitar um racha no tucanato. A ala ligada ao ex-presidente Fernando Henrique rejeita qualquer acerto com o PT. “Não podemos pensar na ponte e esquecer que estamos em guerra”, afirmou Jutahy.



Vacarezza, novato coordenador



A aproximação – ou, pelo menos, uma convivência pacífica – era vista com boa-vontade pelos governadores de São Paulo, José Serra, e Minas, Aécio Neves. O trabalho de qualquer governador fica mais fácil se ele tiver uma boa relação com o poder federal, já que Brasília faz investimentos nos estados que escolhe, o que é sempre uma decisão política.



O entendimento de Chinaglia com tucanos passou especialmente por Serra. O símbolo do acordo é coordenador da campanha petista, o deputado federal eleito Cândido Vacarezza (PT-SP). Vaccarezza é novato em Brasília, conhece poucos parlamentares federais de fora do PT e quase não tem trânsito no Congresso. Ou seja, um perfil nada favorável para quem precisa conseguir votos justamente no Congresso. Mas Vaccarezza liderou o PT na Assembléia Legislativa de São Paulo e ainda tem ascendência sobre a bancada. Tal influência pode ser usada para facilitar ou atrapalhar a vida de Serra na Assembléia, o que explica sua função na coordenação da campanha.



Daí que a campanha petista ainda conte com votos tucanos, apesar de a situação ter piorado com o recuo público do PSDB. A esperança agora está no fator “traição”, já que o voto é secreto. Nesta terça-feira (23), Chinaglia almoçou com o presidente nacional do PMDB, deputado federal Michel Temer (SP). Os dois avaliaram que o ideal seria vencer a eleição no primeiro turno, pois, numa segunda votação, a união de forças anti-PT e anti-governo poderia favorecer o adversário do petista, seja Aldo, seja Fruet.



* Intertítulos do Vermelho