Milhares de americanos vão às ruas pelo fim da guerra

Sob o lema “Unidos por paz e justiça”, dezenas de milhares de manifestantes se mobilizaram neste sábado (27/01), em Washington, para forçar o Congresso a aprovar o fim da guerra no Iraque. O ato contou com a presença de líderes civis e religiosos, como o

Antes de os manifestantes fazerem uma marcha ao redor do Capitólio, vários deles se revezaram, por mais de duas horas, para criticar o presidente George W. Bush e a presença americana no Iraque. “Quando servi na guerra, pensava que estava servindo por algo honrado. Em vez disso, fui para a guerra por motivos que se provaram fraudulentos”, disse o veterano da guerra do Iraque, Garett Reppenhagen.


 


“Tragam os soldados de volta imediatamente!”, pediam os manifestantes, em várias faixas. “A escalada no Iraque – caminho interditado”, resumiam outras bandeirolas, em meio a slogan repetido por cerca de 20 mil manifestantes perto do Capitólio.


 


Sentimento de revolta
Um grupo de famílias que tiveram seus familiares mortos na guerra segurava imagens de seus parentes. Uma das famílias carregava uma foto de um soldado uniformizado e deitado em um caixão. Mais de 3 mil americanos morreram na guerra do Iraque desde 2003.


 


“Estou convicta de que essa guerra é de Bush. Ele tem sua própria agenda lá (no Iraque). Nós estamos lá por razão nenhuma”, disse Anne Clay, segurando uma imagem de seu filho John, 19, que está servindo no Iraque.


 


“Viemos aqui pedir aos líderes políticos que não se conformem – e que, se não votarem uma resolução tão significativa quanto as perdas humanas causadas pela guerra, nós não vamos apoiá-los”, declarou Sean Penn. “Vamos protestar até que seja aprovada uma resolução de compromisso no Congresso para cortar os recursos destinados à guerra, e que traga nossos soldados de volta.”


 


O reverendo Jesse Jackson também falou para a multidão. “Deixem lugar para a esperança. Não mais mortes, não mais dinheiro. Mantenham a esperança viva, tragam nossas tropas de volta”, afirmou o ativista.


 


A volta de Jane
Jane Fonda explicou que decidiu se somar aos protestos contra o conflito no Iraque porque “o silêncio não é mais uma opção”. “Já faz 34 anos que eu não participo de um encontro contra a guerra”, lembrou a atriz. “Tinha medo de que, por causa das mentiras divulgadas sobre mim (e a guerra do Vietnã), eu fosse utilizada para denegrir este novo movimento antibélico.”


 


Há cerca de 30 anos, a atriz foi apelidada de “Hanói Jane” por ter se deixado fotografar sobre um canhão antiaéreo vietnamita em julho de 1972. Agora, aos 69 anos – e ao lado de Tim Robbins e Susan Sarandon -, ela declarou que “muitas pessoas lhe perguntavam qual é a diferença entre a guerra de hoje e a do Vietnã”.


 


A resposta foi categórica: “Eu vou dizer a vocês: uma enorme diferença, fundamental. Foram precisos seis anos para que os ex-combatentes do Vietnã, os militares e seus familiares começassem a se manifestar contra a guerra. Agora bastaram três anos”, destacou a atriz.


 


Oportunidade única
Para Len Singer, de 74 anos, que percorreu 300 quilômetros para ir de Portsmouth (Virgínia) a Washington, manifestações desse tipo são importantes para se lutar contra a guerra no Iraque.


 


“Se os democratas desperdiçarem esta ocasião, não terão jamais outra oportunidade de cortar os recursos destinados à guerra, nem de destituir o vice-presidente Dick Cheney e o presidente George W. Bush”, insistiu.


 


Os manifestantes se empenhavam em fazer circular um abaixo-assinado pedindo ao Congresso “aprovar a retirada imediata de todas as forças americanas no Iraque” – e a “votar contra toda a emenda orçamentária destinada a financiar a mínima ação militar no Iraque, com exceção da destinada a retirada em segurança de todos os nossos militares”.


 


Bush emparedado
A manifestação acontece num momento em que o Senado se prepara para votar em alguns dias várias resoluções não-vinculantes denunciando a nova estratégia anunciada pelo presidente Bush no dia 10 de janeiro, entre elas a mobilização de 21.500 militares suplementares.


 


O estado-maior democrata, no entanto, excluiu a hipótese de cortar os recursos destinados à guerra, por temor de agravar ainda mais os perigos que enfrentam os cerca de 140 mil militares atualmente no terreno.


 


Em revanche, vários candidatos à indicação democrata para a presidencial anunciaram iniciativas para forçar o governo a manter os efetivos militares no Iraque no nível do início do ano, exigindo autorização explícita do Congresso para toda a mobilização suplementar.


 


Crise entre republicanos
Um número crescente de eleitos republicanos, entre eles líderes do partido, expressaram por sua vez desconfiança com a condução da guerra, mas nenhum deles propôs até agora alguma emenda destinada a forçar o fim da guerra.


 


A mobilização deste sábado, sob um sol fraco, parece a de maior repercussão, desde a última manifestação contra a guerra de setembro de 2005. O coletivo “United for peace and justice” (“Unidos pela paz e a justiça”) chegou a reunir na ocasião entre 100 mil e 300 mil pessoas, também em Washington.