Por favor, libertem Barguti; é a saída para a Palestina e Israel

Os homens-bomba estão de volta, com quatro mortos numa padaria em Eliat. E só há um plano de paz: o dos prisioneiros palestinos. E só um líder… A exigência circula faz tempo. Mais que uma exigência, é uma dessas soluções que parecem óbvias e no fim são

A pergunta poderia conter para alguns uma possível escapatória de uma situação bloqueada. De um lado e do outro. No interesse de uma e outra parte, de Israel e da Palestina.



Em três dias 32 palestinos foram mortos. Vítimas de confrontos entre facções opostas. Uma dissenção que se tornou guerra civil e que ninguém parece em condições de encerrar. De nada servem os apelos à unidade do primeiro ministro Ismail Haniyeh e do presidente Mahmud Abbas. E no entanto, por trás dos apelos e das inúteis negociações destes meses em busca de um governo de unidade nacional, o que se prepara é um ruinoso ajuste de contas.



O homem-bomba na padaria



No momento de maior dificuldade da ANP (Autoridade Nacional Palestina), retornam ao cabo de nove meses os ataques suicidas. Um homem-bomba se fez explodir na cidade israelense de Eliat, localidade turística às margens do Mar Vermelho. Escolheu para a explosão uma padaria cheia de gente. Os mortos são quatro.
Pontual, o presidente da ANP, Mahmud Abbas, incontinenti condenou o atentado. Sempre o fez. Porém a ação traz a assinatura da Jihad Islâmica e das Brigadas dos Mártires de al Aqsa, esta última o braço armado da Al Fatá, partido do presidente. Que já não controla os seus homens.



O Hamas não condenou. Seu porta-voz disse que “o ataque realizado por um suicida contra os civis de Eliat é a resposta natural à política israelense na Cisjordânia e na faixa de Gaza”. Um ato de resistência face a uma ocupação que nunca acaba: “O inimigo sionista é o responsável pela deterioração do quadro entre os palestinos e compete à resistência defender os interesses do povo”.



]Resta ver o que tinha a ver com a defesa dos interesses dos palestinos a retomada dos ataques de homens-bomba contra civis. A menos que, registro, sirva para apontar contra o “inimigo comum sionista” as armas que hoje os palestinos da Al Fatá e do Hamas apontam uns para os outros. Por enquanto, contudo, o único resultado é a espera da previsível revanche israelense, o fim da trégua vigente em Gaza e a retomada dos assassinatos seletivos.



A saída, no documento dos prisioneiros



E apesar disso existe uma saída, para a ANP e para Israel. Esta vem de líderes políticos de todos os grupos, hoje prisioneiros de cárceres israelenses. É o chamado documento dos prisioneiros, um plano para encontrar a unidade palestina e alcançar um diálogo de paz.



A proposta, estruturada em 18 pontos, prevê a constituição de um Estado dentro das fronteiras de 1967, com capital em Jerusalém Oriental e um reconhecimento, de fato, do Estado de Israel. Foi assinada pelos chefes do Hamas, da Jihad Islâmica, da frente Popular, da Frente Democrática, da Al Fatá, de todos os elementos do plural universo político da ANP. São os líderes mais ouvidos, aqueles que estão à margem das rixas e violências cotidianas, com autoridade moral para falar no interesse do próprio povo. E o promotor, o homem que mais se empenhou pela plataforma, é Marwan Barguti.



O tribunal distrital de Tel Aviv, a quem nunca se reconheceu qualquer legitimidade, condenou-o a mais de 40 anos de cárcere. Quando os israelenses o sequestraram em Ramalá, em abril de 2002, ele era considerado o sucessor natural de Iasser Arafat, o segundo em popularidade depois do presidente.



E se Barguti saísse do cárcere?



Barguti tem reputação de líder confiável, não corrompido, politicamente destemido. É o símbolo da intifada, da nova guarda contra a velha dentro da ANP. E sobretudo é considerado um pragmático, distante de fanatismos, com notável capacidade de mediação e agregação.



De sua cela, ele continuou a manter contatos e trabalhar por uma retomada do diálogo. Israel se beneficiou desse trabalho, para escândalo da direita. aquilo que é um tabu, há um movimento de realpolitik.



Isto conduz à sua conseqüência lógica.  Caso Barguti  saísse do cárcere e voltasse a ter um papel ativo na política palestina, ninguém poderia ignorá-lo. Nem Abbas, nem Al Fatá, nem o Hamas, nem a Jihad Islâmica. Seu retorno traria de volta à mesa as infrutíferas negociações sobre o governo. Esconjuraria a guerra civil nos territórios ocupados, mas seria útil também para o precário governo de Olmert. Haveria um interlocutor, que quem sabe conseguisse reconquistar também o monopólio da força, subtraindo-a às facções fora de controle, o que é essencial à segurança de Israel.
Sâo considerações banais. Então, por que, banalmente, pragmaticamente, não se põe Barguti em liberdade, antes que se chegue a um ponto sem retorno?



É o que solicita uma petição, promovida por europarlamentares, entre os quais Luisa Morgantini, da Refundação Comunista italiana. O governo israelense nega, mas o trabalho continua, pois pode ser a única solução. E o governo italiano? Não seria uma sugestão de puro bom senso a dar a um país amigo?