Preço do transporte faz brasileiro comprar menos alimentos

Estudo publicado pelo economista Márcio Pochmann, professor da Universidade de Campinas (Unicamp), mostra que o brasileiro está reduzindo gastos com alimento para poder bancar o custo cada vez mais elevado dos transportes.

Conforme o levantamento, que analisou o orçamento familiar dos trabalhadores brasileiros de 1958 a 1995, o aumento nas tarifas fez com que a população “desviasse” dinheiro, que antes era utilizado para compra de alimento e para a habitação.



Gastos incomprimíveis
“Os gastos com transporte são incomprimíveis, não podem ser substituídos”, afirmou o docente. “Se você não pega o ônibus, não chega ao trabalho, que é a fonte de renda. Mas a pessoa pode usar uma roupa por mais tempo, comprar um alimento que não seja tão caro”, justificou, adicionando não saber se a troca “é interessante”.



Os dados mostram que em 1958 o setor de Alimentação correspondia a 45% do orçamento familiar, a Habitação, 33% e os Transportes, 2%. Já em 1995, essa representatividade passou para, respectivamente, 27%; 24% e 14%.



Tempo perdido
Além disso, Pochmann ressaltou no estudo que um em cada dois moradores das regiões metropolitanas do país gasta mais de uma hora por dia para chegarem ao trabalho. Em São Paulo e no Rio, essa representatividade chega a 60%.



E a diferença, explicou, aumenta de acordo com a disparidade de renda. “Os ocupados de maior remuneração tendem a residir não tão distante do local de trabalho, ao contrário dos trabalhadores de menor salário”, afirmou, no estudo de divulgação.



Resultado
Por fim, o economista afirmou que o comprometimento de horas a mais no descolamento para quem já tem uma jornada de oito horas diárias de trabalho representa não apenas custos elevados para quem paga, mas também rebaixamento de produtividade e da renda.



Conforme Pochmann, com base nas informações da Pesquisa Nacional por Análise de Domicílio realizada em 2002, quase 19% do total da renda anual de trabalho era desperdiçada com o “tempo morto” do trajeto casa-trabalho/trabalho-casa. Isso representava, à época, quase R$ 93 bilhões.