Mario Monicelli: “O novo mundo nascerá da América do Sul”
Conhecido como “rei da comédia italiana” e idealizador de clássicos como Os Eternos Desconhecidos e O Incrível Exército de Brancaleone, o cineasta Mario Monicelli, de 92 anos, acredita que “o novo mundo nascerá na América do Sul, diante
Publicado 06/02/2007 18:07
Monicelli apresentará no Festival do Cinema de Mar da Prata, na Argentina, previsto para março, o seu último filme, Le Rose del Deserto (As Rosas do Deserto), uma adaptação da novela Il Deserto della Líbia, de Mario Tobino.
Realizador de 65 filmes, além de produzir e escrever roteiros de muitos outros, Monicelli falou ao telefone com a Ansa sobre a complexa filmagem no Saara e outros temas, antes de viajar para o Irã, convidado pelo seu colega Abbas Kiarostami para o Festival de Cinema de Teerã.
Le Rose del Deserto, com Michele Placido, conta com ironia e sarcasmo o dia-a-dia, em 1940, de um grupo militar que oferece ajuda sanitária na Líbia e que embarcou na ofensiva ordenada por Mussolini no norte da África.
Entraves
Durante as oito semanas de filmagem na Tunísia, Monicelli e a sua equipe enfrentaram o clima, com temperaturas de 50 graus e tempestades de areia; dificuldades idiomáticas com os nativos que falavam árabe e um pouco de francês; e ameaças freqüentes de greve pela falta do pagamento de salários, entre outros desafios.
“Foi uma experiência muito difícil e que exigiu muito esforço”, conta o diretor, mas valeu a pena diante da boa repercussão de público e crítica de seu país no ano passado. Agora espera que o filme seja distribuído no exterior.
“Sobrevivente de uma geração privilegiada”, como se define, levou o cinema italiano a dar voltas pelo mundo, junto com seus conterrâneos Luchino Visconti, Vittorio de Sica, Carlo Ponti e Sergio Amidei, entre outros.
Dirigiu todos os “grandes” do cinema de seu país: Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni, Alberto Sordi, Sofia Loren, Gina Lollobrigida, Ugo Tognazi, Anna Magnani ou Gian Maria Volonté.
Sem lealdade
Monicelli tem saudade do ambiente solidário e de amizade que reinava entre os seus colegas nos anos que se seguiram ao Pós-Guerra, quando surgiu o neo-realismo. Diz que agora reina “o desejo de ganhar a qualquer custo; não há lealdade”.
Este veterano com mais de cinco décadas de atividade, que passou por duas Guerras Mundiais (na primeira era menino e na segunda combateu nos Bálcãs), afirma que “o Ocidente está desaparecendo, humanamente falando”.
“Vivemos na obscuridade, no crepúsculo de uma grande época que está desaparecendo”, reflete com certa amargura sobre o chamado Primeiro Mundo. “O Novo Mundo são vocês, toda a América do Sul. Daqui é que vem a mudança”, entusiasma-se o militante da Refundação Comunista, que conta que tratou de se informar sobre o que acontece na região.
O diretor de A Grande Guerra afirma: “Neste momento não tenho projetos de filmar porque francamente, na minha idade, é arriscado para um produtor ou para quem injeta dinheiro em um filme”.
A vez da música
Ainda fiel à sua vida inquieta e mente lúcida, apesar da idade, admite ter “dois ou três projetos, mas tem que ser algo que valha a pena para mim e para o produtor”. Enquanto isso, pretende estudar música no conservatório.
Além do prêmio David di Donatello (o máximo prêmio italiano do cinema) por Um Borghese Piccolo Piccolo em 1977, recebeu o Leão de Ouro pela carreira no Festival de Veneza em 1991.
Na sua primeira viagem à Argentina, apresentará a sua última obra no festival que nos anos 60 o premiou pelo filme I Compagni (Os Companheiros).