Mario Monicelli: “O novo mundo nascerá da América do Sul”

Conhecido como “rei da comédia italiana” e idealizador de clássicos como Os Eternos Desconhecidos e O Incrível Exército de Brancaleone, o cineasta Mario Monicelli, de 92 anos, acredita que “o novo mundo nascerá na América do Sul, diante

Monicelli apresentará no Festival do Cinema de Mar da Prata, na Argentina, previsto para março, o seu último filme, Le Rose del Deserto (As Rosas do Deserto), uma adaptação da novela Il Deserto della Líbia, de Mario Tobino.


 


Realizador de 65 filmes, além de produzir e escrever roteiros de muitos outros, Monicelli falou ao telefone com a Ansa sobre a complexa filmagem no Saara e outros temas, antes de viajar para o Irã, convidado pelo seu colega Abbas Kiarostami para o Festival de Cinema de Teerã.


 


Le Rose del Deserto, com Michele Placido, conta com ironia e sarcasmo o dia-a-dia, em 1940, de um grupo militar que oferece ajuda sanitária na Líbia e que embarcou na ofensiva ordenada por Mussolini no norte da África.


 


Entraves
Durante as oito semanas de filmagem na Tunísia, Monicelli e a sua equipe enfrentaram o clima, com temperaturas de 50 graus e tempestades de areia; dificuldades idiomáticas com os nativos que falavam árabe e um pouco de francês; e ameaças freqüentes de greve pela falta do pagamento de salários, entre outros desafios.


 


“Foi uma experiência muito difícil e que exigiu muito esforço”, conta o diretor, mas valeu a pena diante da boa repercussão de público e crítica de seu país no ano passado. Agora espera que o filme seja distribuído no exterior.


 


“Sobrevivente de uma geração privilegiada”, como se define, levou o cinema italiano a dar voltas pelo mundo, junto com seus conterrâneos Luchino Visconti, Vittorio de Sica, Carlo Ponti e Sergio Amidei, entre outros.


 


Dirigiu todos os “grandes” do cinema de seu país: Vittorio Gassman, Marcello Mastroianni, Alberto Sordi, Sofia Loren, Gina Lollobrigida, Ugo Tognazi, Anna Magnani ou Gian Maria Volonté.


 


Sem lealdade
Monicelli tem saudade do ambiente solidário e de amizade que reinava entre os seus colegas nos anos que se seguiram ao Pós-Guerra, quando surgiu o neo-realismo. Diz que agora reina “o desejo de ganhar a qualquer custo; não há lealdade”.


 


Este veterano com mais de cinco décadas de atividade, que passou por duas Guerras Mundiais (na primeira era menino e na segunda combateu nos Bálcãs), afirma que “o Ocidente está desaparecendo, humanamente falando”.


 


“Vivemos na obscuridade, no crepúsculo de uma grande época que está desaparecendo”, reflete com certa amargura sobre o chamado Primeiro Mundo. “O Novo Mundo são vocês, toda a América do Sul. Daqui é que vem a mudança”, entusiasma-se o militante da Refundação Comunista, que conta que tratou de se informar sobre o que acontece na região.


 


O diretor de A Grande Guerra afirma: “Neste momento não tenho projetos de filmar porque francamente, na minha idade, é arriscado para um produtor ou para quem injeta dinheiro em um filme”.


 


A vez da música
Ainda fiel à sua vida inquieta e mente lúcida, apesar da idade, admite ter “dois ou três projetos, mas tem que ser algo que valha a pena para mim e para o produtor”. Enquanto isso, pretende estudar música no conservatório.


 


Além do prêmio David di Donatello (o máximo prêmio italiano do cinema) por Um Borghese Piccolo Piccolo em 1977, recebeu o Leão de Ouro pela carreira no Festival de Veneza em 1991.


 


Na sua primeira viagem à Argentina, apresentará a sua última obra no festival que nos anos 60 o premiou pelo filme I Compagni (Os Companheiros).