Emir Sader: Pró-imperialismo ou antiimperialismo, eis a questão

De repente, o oligopólio midiático brasileiro desata suas campanhas ideológicas, acreditando que somos um povo imbecil. Volta agora a acusação de “antiamericanismo” da parte de um ex-embaixador do Brasil nos EUA. Somos antimperialistas ou pró-imperialista

Críticas à ocupação dos territórios palestinos e ao bloqueio ao direito dos palestinos disporem de um Estado como Israel dispõe são desqualificadas pelo epíteto de “anti-sionismo”, quando não de conivência com o Holocausto nazista. Se valem de fantasmas da “guerra fria” e da reiteração “goebbelsiana” dos mesmos clichês, no lugar de argumentos – que lhes falta, na mesma medida de que dispõem de vastos espaços diários que não sabem como preencher.



Volta agora a acusação de “antiamericanismo” da parte de um ex-embaixador do Brasil nos EUA, desatada a partir do órgão oficial do bushismo, e o oligopólio repercute com ecos diários em todas suas publicações – cada vez mais parecidas entre si, a ponto de que em algum momento poderiam ser uma única, e então se destruiriam menos árvores para imprimir as mesmas coisas nesses vários veículos das mesmas quatro famílias do apocalipse – Mesquitas, Frias, Marinhos, Civitas.



O que se quer? Desarmar qualquer política que represente um mínimo grau de autonomia em relação não a um país qualquer, mas ao maior império da história da humanidade. Ao país que expropriou mais da metade do território mexicano, incluindo simplesmente a Califórnia, o Texas, a Flórida, entre outros territórios. Ao país que invadiu Cuba e impediu a independência desse país até a revolução de 1959. Que invadiu inúmeras vezes a países como República Dominicana, Haiti, Nicarágua, Panamá e de novo Cuba, entre tantos outros países do continente. Do país que até hoje mantem Porto Rico como semicolônia.



Do país que decretou o direito de proliferar pelo mundo afora “guerras infinitas”, que invadiu o Iraque contra decisão da ONU, com um pretexto que se revelou mentiroso. Que destruiu as bibliotecas e os museus da civilização mais antiga, buscou apropriar-se do seu petróleo e produziu mais de 300 mil mortes desde então. Um país que invadiu o Panamá e seqüestrou seu presidente para julgar em seu território, conforme suas leis e seus processos forjados. Que instarou a mais brutal prisão do mundo em território usurpado de Cuba, pela força, em Guantánamo.



Do país que tentou impor ao continente suas leis de livre comércio e foi bloqueado pelo Brasil, que impediu a vigência da Alca. Do país que tem tropas em centenas de bases militares no mundo, inclusive grandes destacamentos na Colômbia, no Paraguai, no Equador.



O que significa ser antiamericano? E o que significa ser pró-americano? O primerio é ser contra as dominações imperiais, as ocupações, é ser contra Abu-Graieb, ser contra Guantánamo, ser contra a ocupação do Iraque, contra a ocupação do Afeganistão, é ser a favor do povo palestino dispor do seu Estado, é ser a favor do direito cubano de não ser bloqueado econômica e militarmente, do direito dos povos decidirem livremente seu destino.



O que significa não ser antiamericano? Significa desconhecer que os EUA são uma nação imperialista, belicista, que concentra o poder militar, econômico e da mídia, para tentar consolidar seu poder em nível mundial. Significa desconhecer que os EUA não assinam o Protocolo de Quioto e são os maiores responsáveis pela contaminação em escala mundial. Que são a potência que aprovou agora o maior orçamento bélico de sua história, revelando seus planos de militarização dos conflitos. Que pretendem avançar sobre a biodiversidade mais rica do mundo, na Amazônia.



Dá para desconhecer tudo isso e crer que se entende algo do mundo de hoje?
Não dá para ser outra coisa: ou se é pró-EUA ou se é antiimperialista – e não antiamericanista. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, é um feroz adversário do governo dos EUA, mas vende petróleo com 40% de desconto a milhões de norte-americanos. Não está contra o povo dos EUA, mas contra a política imperial de seu governo.



E nós, somos antimperialistas ou pró-imperialistas? Esta é a grande questão, camuflada por diplomatas equivocadamente nomeados para nos representar diante do império. Votemos.