´Estadão´ se horroriza com processos trabalhistas

''O Brasil conseguiu abocanhar mais um título para a sua extensa lista de conquistas negativas. Com cerca de 2 milhões de processos por ano, o país é campeão mundial em ações trabalhistas'', reclama o artigo de capa do jornal O Estado de S. Paulo

A matéria do jornalista Renée Pereira omite estas informações. Também silencia sobre o conteúdo da ''reforma trabalhista radical'' pretendida por Pastore e outros expoentes da ala direita neoliberal: defesa do trabalho terceirizado sem limites, da flexibilização dos direitos, com a prevalência do negociado sobre o legistado, do fim da CLT no trabalho agrícola, da extinção do Bolsa Família. Limita-se a comentar que ''o quadro caótico é resultado de inúmeras falhas'' e ''uma delas é a qualidade da legislação trabalhista, considerada anacrônica, ultrapassada, detalhista e irreal''.



Pastore se horroriza com os direitos obtidos na justila pelos trabalhadores. ''Para ter idéia, em 2005 foram pagos aos reclamantes R$ 7,19 bilhões e, em 2006, R$ 6,13 bilhões até setembro. Na média mensal, o volume de 2006 ficou 13% superior ao do período anterior, segundo dados do Tribunal Superior do Trabalho (TST).''



Pazzianotto esqueceu o Dieese



Outra fonte consultada pelo Estadão é Almir Pazzianotto, ex-ministro do TST, depois de passagens pela bancada do PSDB na Câmara e pelo ministério do governo Fernando Henrique, na contramão do seu distante início de carreira, quando defendia o que hoje combate, à frente do Dieese (Departamento Intersindical de Estudos e Estatísticas Sócio-Econômicas). ''Nossa lei não foi feita para um mundo moderno, globalizado. O elevado número de ações não é um bom sintoma”, condena o advogado.



Em seus hoje esquecidos tempos de Dieese, Pazzianotto tinha outras explicações para o grande número de processos na Justiça do Trabalho. A começar por uma mentalidade patronal herdada de quase quatro séculos de escravidão, que produz violações sistemáticas da legislação trabalhista. No estadão, ele adere ao apelido condescendente dado a essas violações — ''informalidade'' — e também pede menos direitos para o trabalhador. “Hoje muitas pessoas trabalham sem registro por causa da elevada carga tributária sobre os salários'', argumenta.



Talvez por sentir o vezo reacionário da pauta que lhe passaram, o jornalista garante que ''os pedidos de mudanças no sistema não significam retirar do trabalhador a possibilidade de reivindicar seus direitos. Segundo especialistas, o Brasil, a exemplo do que ocorre em vários países, deveria adotar mais os mecanismos de conciliação extrajudicial, como arbitragem e conciliação prévia'', atenua. Mas em tempos bem recentes, quando a ofensiva neoliberal do patronato corria mais solta, cogitou-se até da extinção sumária da Justiça do Trabalho no Brasil.