Lula cobrará de Bush compromisso dos ricos com o meio ambiente

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai repetir para o presidente norte-americano, George W. Bush, as cobranças que tem feito aos países ricos para a preservação do meio ambiente e redução da emissão de gás carbônico. Lula disse nesta segunda-feira (12

''Esse é um dos assuntos que vamos conversar com o presidente Bush'', afirmou o presidente. A visita de Bush ao Brasil está marcado para os dias 8 e 9 de março, segundo informações do Ministério das Relações Exteriores. A Coordenação Nacional dos Movimentos Sociais (CMS), que reúne entidades como a CUT, MST, UNE, Ubes e Conam, reúne-se no dia 16 em São Paulo para programar manifestações de protesto contra o representante número um do imperialismo norte-americano.



No programa radiofônico, Lula condenou a administração George Bush por se recusar a assinar o Protocolo de Quioto, embora seja o maior poluidor da atmosfera da Terra com gás carbônico. ''O Brasil tem autoridade moral e política para exigir que os países ricos, em vez de ficarem produzindo protocolos que depois não assinam, cumpram com a sua obrigação de despoluir o planeta. Nós faremos a nossa parte, agora, é preciso que eles façam a deles'', disse Lula.



O presidente explicou que sensibilizar os países ricos não é simples. ''Não é uma coisa fácil, porque isso tem uma ligação direta com a questão econômica de cada país'', comentou. ''Só para ter uma idéia, a Europa inteira hoje tem apenas 0,3% da mata que ela tinha há oito mil anos atrás. O Brasil tem 69%.''



O presidente ainda destacou o esforço  promover a utilização do etanol, do biodiesel e outros biocombustíveis em outros países — outro tema que deve entrar na pauta das conversações com Bush. Segundo Lula, o Brasil produz hoje 16,5 bilhões de litros de álcool, o que coloca o país à frente de outros países na utilização de combustíveis menos poluentes.



''Estamos numa frente de trabalho muito forte do governo e dos empresários na tentativa de convencer o mundo desenvolvido a colocar álcool na gasolina para diminuir a emissão de gases que tanto poluem o planeta Terra e tanto preocupam os países do mundo e preocupam os ambientalistas'', disse.



Leia a íntegra do programa Café com presidente



Apresentador: Bom dia você em todo o Brasil. Começa agora o Café com Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. Tudo bem, presidente?



Presidente Lula: Tudo bem, Luiz.



Apresentador: Presidente, o senhor esteve sábado na Bahia e foi inaugurada mais uma fábrica de biocombustível. O biodiesel, assim como o álcool, são substitutos viáveis do petróleo e isso interessa a todos os países. Quais são as perspectivas do Brasil nesta área, presidente?



Lula: O Brasil, Luiz, vive um momento muito interessante, eu diria um momento auspicioso porque o Brasil detém a tecnologia da produção de álcool como nenhum outro país do mundo detém. Nós estamos hoje não apenas produzindo 16,5 bilhões de litros de álcool no Brasil e utilizando 23% de álcool na gasolina, como nós estamos numa frente de trabalho muito forte do governo e dos empresários na tentativa de convencer o mundo desenvolvido a colocar álcool na gasolina para diminuir a emissão de gases que tanto poluem o planeta Terra e tanto preocupam os países do mundo e preocupam os ambientalistas. Mas o Brasil saiu mais um passo na frente que foi o começo da produção do biodiesel. Ou seja, de diesel construído à base de mamona, à base de pinhão manso, à base de dendê, à base de girassol, à base de caroço de algodão, à base de soja. Nós estamos outra vez na frente mostrando ao mundo que é possível ter um combustível renovável, menos poluente, muito mais barato, muito mais rentável, muito mais gerador de emprego porque você contrata isso da agricultura familiar. Todos nós assistimos ao relatório divulgado pela ONU [Organização das Nações Unidas] do aquecimento do planeta. Ou seja, são as mudanças nos oceanos, as mudanças, chove mais em um lugar do que choveu há alguns anos atrás, faz mais calor em outros do que fazia há algum tempo atrás. Então, nós estamos diante de um problema da humanidade, ou seja, nós queremos preservar ou não o planeta que nós vivemos? Nós não podemos destruir o nosso habitat natural, o nosso meio ambiente.



Apresentador: Você está ouvindo Café com Presidente, o programa de rádio do presidente Lula. A ministra Marina, do Meio Ambiente, fala muito em desenvolvimento sustentável. É possível isso mesmo, presidente? Desenvolver um país, principalmente os países mais pobres mantendo o meio ambiente em ordem?



Lula: É possível. Não só é possível como é necessário e é inteligente. Se você pegar o projeto que nós fizemos da construção da BR-163, que liga Santarém, no Pará, a Cuiabá, no Mato Grosso, você vai perceber que em torno dela tem um projeto de exploração da floresta que pode gerar até 100 mil empregos com manejo correto da floresta, você podendo tirar as árvores e, ao mesmo tempo, tendo a obrigação de plantar outras árvores. Você vai poder utilizar a floresta com mais inteligência, com mais sabedoria, e você vai poder manter a floresta praticamente intacta, tirando apenas aquilo que você pode tirar e replantando aquilo que você tirou. Então, tudo que nós fizermos para o desenvolvimento do país tem de ter uma combinação perfeita entre a melhoria da qualidade de vida das pessoas levada pelo desenvolvimento e a preservação ambiental, que é um item da qualidade de vida que as pessoas precisam ter para viver bem. E isso o Brasil está fazendo com muita responsabilidade. Nós estamos cumprindo com a nossa parte, estamos contribuindo para despoluir o planeta e nós precisamos exigir que os países ricos, que são responsáveis pela emissão de 70% do gás carbônico jogado no mundo, diminuam essa poluição.



Apresentador: Pois é, o senhor vem defendendo uma campanha para sensibilizar os países mais ricos a entrarem nesse jogo de preservar o meio ambiente. O senhor conseguiu sensibilizar alguns líderes mundiais já, presidente?



Lula: Olha, não é uma coisa fácil porque isso tem uma ligação direta com a questão econômica de cada país, mas eu vou dar um exemplo: a Embrapa fez um estudo comparando o desmatamento da floresta existente há oito mil anos atrás e ao que nós chegamos agora. Só para ter uma idéia, a Europa inteira hoje tem apenas 0,3% da mata que ela tinha há oito mil anos atrás. O Brasil tem 69%. A América do Norte toda tem 32% por causa do reflorestamento do Canadá para produzir papel e celulose. Então, o Brasil tem autoridade moral e política para exigir que os países ricos, em vez de ficarem produzindo protocolos que depois não assinam, cumpram com a sua obrigação de despoluir o planeta. Nós faremos a nossa parte, agora, é preciso que eles façam a deles.



Apresentador: Presidente, dia 9 de março o senhor recebe o presidente dos Estados Unidos aqui no Brasil, George W. Bush. O meio ambiente vai entrar na pauta desse encontro?


Lula: Vamos conversar. Esse é um dos assuntos que vamos conversar com o presidente Bush. E esse é um assunto que nós vamos conversar no G-8 que eu já estou convidado para ir à Alemanha no mês de julho. Ou seja, os países pobres não podem aceitar a tese dos países ricos apenas de que eles criam um fundo para ajudar os países que não desmatam. Ou seja, nós não desmatamos e eles continuam poluindo o planeta. O que nós queremos é, além de preservar as nossas matas, que é obrigação nossa para melhorar a garantia de vida do nosso povo, explorar floresta da forma mais civilizada possível com o manejo correto da floresta e, ao mesmo tempo, fazer uma forte cobrança para que os países ricos diminuam a emissão de gás carbônico.



Apresentador: Ok, presidente, obrigado, um abraço e até semana que vem.



Lula: Obrigado a você, Luiz, e obrigado aos nossos ouvintes.



Apresentador: Valeu você que acompanhou o nosso programa, a gente volta segunda-feira que vem. Obrigada pela sua companhia e até lá. Acesse o programa também na internet: www.radiobras.gov.br.



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