Pesquisa traça perfil do jovem de escola particular

Parte do projeto “Este Jovem Brasileiro”, a pesquisa teve a participação de adolescentes de 54 escolas particulares, em 17 estados, e abordou temas como violência, preconceito, honestidade e princípios, individualismo e meio ambiente. Os resultados mostra

Há um claro desencontro entre a forma como os jovens se enxergam e a maneira como se comportam. Ou seja, o valor que eles têm de si mesmo, muitas vezes, não combina com muitas de suas atitudes. Eles são contra a violência, mas já bateram em alguém. Auto intitulam-se como não preconceituosos, mas não gostam da idéia de ter um vizinho, um amigo gay. Consideram-se honestos, mas negociam com cambistas. Essas são apenas algumas conclusões da pesquisa realizada pelo Portal Educacional o primeiro e maior portal de conteúdo educacional do país. A pesquisa foi idealizada e coordenada pelo psiquiatra e colaborador do Portal Jairo Bouer. O levantamento ouviu cerca de 6.500 jovens, de 54 escolas particulares, em 17 estados. Trata-se de um rico material para reflexão e trabalho dentro e fora da sala de aula e para educadores e pais interessados nas necessidades e inquietações da juventude brasileira.


 


“Nossa idéia é entender um pouco melhor o que o jovem de hoje pensa sobre uma série de temas centrais da sua vida. Nessa pesquisa, buscamos os valores e atitudes dos jovens em relação a assuntos como política, meio ambiente, honestidade, preconceitos, individualismo e outros”, explica Bouer.


 


Realizada entre os dias 18 de setembro e 20 de outubro e mediada pelos professores que inscreveram suas turmas, a pesquisa preservou o anonimato de cada aluno participante. O resultado nacional, no entanto, é compartilhado com todas as escolas e traz revelações inquietadoras.


 


Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço
No tema Valores e Atitudes, por exemplo, um dos dados que chama a atenção é a tolerância desenvolvida em relação ao comportamento violento. Na pergunta “Sou ou não violento?”, 86% responderam negativamente, mas 50% assumiram que já bateram em alguém (entre os meninos o índice é de 64%, entre as meninas, 38%). 94% já xingaram uma pessoa e cerca de 30% já sofreram agressão física (com os meninos esse número chega a 42%). A tolerância volta a aparecer nas questões sobre preconceito, honestidade e princípios e quando se leva a questão do meio ambiente para a vida prática.


 


A pergunta “Sou uma pessoa sem preconceitos?” revela que 82% dos jovens não se consideram preconceituosos e 50% acham que o preconceito não atrapalha o desenvolvimento do país.


 


Avaliando as respostas de questões relacionadas, fica claro que as coisas não são bem assim. Se a questão aborda a possibilidade de ter vizinhos gays, por exemplo, 26% dos estudantes afirmam que ficariam contrariados.


 


A descoberta da homossexualidade de um amigo seria suficiente para decretar o afastamento para quase 40% (entre os meninos o índice sobre para 58%, avaliando só as respostas da menina, o resultado cai para 17%). Do outro lado da moeda, 40% dos jovens disseram que já foram vítimas de algum tipo de preconceito. “Esse deveria ser um motivo a mais para evitá-los, já que qualquer pessoa pode ser vítima deles. Mas isso não parece “vacinar” ninguém contra esse tipo de atitude”, avalia Bouer.


 


Embora tenham mais atitudes intolerantes do que admitiram inicialmente, 90% disseram que nunca se sentiram obrigados a adotar um discurso mais preconceituoso por pressão do grupo, 84% namorariam alguém de outra raça ou grupo social e quase 95% não terminariam esse namoro por pressão do grupo de amigos. Já quando a família entra na jogada, esse relacionamento poderia acabar para 21% dos jovens, o que mostra o poder de influência que pode vir de casa nessa fase da vida.


 


”Assim, o que dá para a gente perceber é que ter um preconceito ou outro não significa, para muitos jovens, considerar-se preconceituoso, o que revela uma certa tolerância com algumas formas de discriminação. É quase como se houvesse um espaço para um pouquinho de preconceito, desde que outras formas de discriminação possam ser evitadas ou até combatidas”, conclui Bouer.


 


Meio Ambiente em questão
Para saber se a preocupação com o meio ambiente é mais um modismo ou se está sendo levada à sério, e avaliar o que os adolescentes realmente pensam sobre a preservação da natureza, foram incluídas algumas questões sobre o tema na pesquisa. 80% dos jovens afirmam que se preocupam com o meio ambiente, e mais de 90% acham que as pessoas poderiam se envolver mais nessa questão ou concordam que os acontecimentos atuais são absurdos.


 


Mas, do ponto de vista das atitudes em relação ao meio ambiente a história é outra: quando dão de cara com alguém jogando lixo na rua, mais de 80% dos entrevistados disseram não reparar ou “deixam quieto”. Apenas 20% deles, aproximadamente, têm uma postura mais ativa, como recolher o lixo jogado ou chamar a atenção do porcalhão.


 


Entre os que se consideram preocupados com o meio ambiente, não parece haver uma mudança significativa de atitude. Dos entrevistados, 87% já jogaram lixo na rua, embora mais de 75% afirmem que preferem guardá-lo na mochila ou no bolso ou, ainda, procurar uma lixeira. Só 31% se sentem culpados quando jogam lixo na rua, e 11% chegam a voltar para recolhê-lo. No quesito economia de água, 64% assumem que tomam banhos demorados, mas 76% dizem fechar a torneira enquanto escovam os dentes.


 


Individualismo
Outro item abordado foi como o jovem enfrenta o individualismo. A constatação inicial é que a maioria dos jovens (66%) não se considera individualista. No entanto, quando questionados sobre sua maior preocupação, o item mais citado é de cunho estritamente pessoal (45% estão preocupados basicamente com estudo e futuro profissional). 30% esboçam uma preocupação mais coletiva (a violência), embora esse resultado possa estar sendo influenciado pela questão da segurança individual.


 


Em casa, mais de 60% dos entrevistados preferem ficar sozinhos em seus cantos, em vez de dividir o espaço com pais e irmãos. 60% nunca participaram de trabalhos sociais ou comunitários, 77% nunca se envolveram com grêmios ou movimentos estudantis e quase 90% nunca protestaram na rua contra nada.


 


Além disso, 55% desses jovens não seriam solidários com seu grupo de amigos em caso de problemas na escola (como suspensão ou cola) para não se prejudicarem. “Individualismo é uma das palavras mais usadas para classificar o jovem atualmente. Sem grandes participações sociais ou interesses políticos, as prioridades são basicamente as individuais e, mesmo em relação aos amigos, pode prevalecer o interesse próprio”, analisa Bouer.


 


Honestidade e princípios? Até certo ponto… – Mais de 90% se consideram honestos. No entanto, 42% passariam por cima de princípios para chegar lá; 35% não devolveriam troco que recebessem a mais; 29% não devolveriam uma carteira achada na rua; 64%, mesmo afirmando não comprar, por princípio, ingressos de cambistas, negociariam com eles em caso de um show imperdível.


 


Chama atenção que esses números praticamente não apresentam variação entre aqueles que responderam, inicialmente, que não passam por cima de seus princípios. “Também nesta questão, aparece uma certa dose de tolerância com alguns comportamentos, que no geral não interferem com a imagem que o jovem tem de si mesmo em relação à sua honestidade. Assim, “ficar com uma carteira achada na rua”, “não devolver troco que foi dado a mais”, “comprar ingresso de cambista”, “passar por cima dos princípios” são atitudes consideradas por eles admissíveis em algumas circunstâncias”, conclui Bouer. É bom lembrar também que, para quase 30% dos jovens, a honestidade é o item que mais influenciaria na escolha do seu candidato nas eleições.


 


Auto-retrato
Como definir a geração dos adolescentes de hoje? No capítulo sobre Geração, os resultados do Portal Educacional revelam que consumista é o termo que melhor define a geração para a maioria dos entrevistados. Em segundo lugar aparece estressada e, depois, individualista e acomodada.


 


No outro extremo, as características menos citadas para definir esse grupo foram tolerante e solidária. É bom lembrar que, para essa questão, cada um dos entrevistados poderia escolher as três palavras (entre oito opções) que, em sua opinião, melhor definem o jovem hoje.


 


Política, Brasil e futuro
Quase 90% dos entrevistados não votaram nas últimas eleições majoritárias e o principal motivo foi a falta de idade ou do título eleitoral. Apesar desse número, praticamente 70% acreditam no poder de seu voto. Mais de 80% apontam a violência como um grande problema do Brasil, e quase 45% já foram vítimas de furto, roubo, assalto ou seqüestro. Já 86% dos entrevistados acham que sua vida vai melhorar daqui a 10 anos. Por outro lado, esse otimismo não se reflete na visão que eles têm da política, pois apenas 16% deles acreditam que os políticos vão melhorar. Em relação ao futuro do País, há um equilíbrio entre achar que a situação estará igual, melhor ou pior.


 


“Com esses números, a gente percebe que a questão da violência social é uma das preocupações mais presentes na vida dos jovens. Parece haver também um desencanto com os políticos, apesar da crença de que seus votos, no futuro, poderão mudar o País. Há também otimismo em relação ao próprio futuro, o que revela, novamente, um possível interesse pessoal prevalecendo sobre o coletivo”, explica Bouer.


 


Resultados
Os resultados gerais da pesquisa estão disponíveis no Portal Educacional (http://www.educacional.com.br/projetos/estejovembrasileiro2), com os números e as conclusões de Bouer. Além disso, as escolas participantes que atingiram uma amostra significativa estão recebendo seus números individualizados, com a recomendação de que eles sejam transmitidos aos alunos e discutidos junto com os professores para delinear estratégias.


Portal Educacional