Monsanto despejou lixo tóxico no Reino Unido

Agência do Meio Ambiente do País de Gales abre inquérito sobre a ação da transnacional que despejou 67 produtos químicos em um terreno ao Sul do país, incluindo derivados do Agente Laranja, utilizado na Guerra do Vietnã

Evidências indicam que a transnacional Monsanto contratou empresas para despejar milhares de toneladas de lixo altamente tóxico em terrenos britânicos, apesar do conhecimento de que tais substâncias poderiam contaminar a vida de animais e pessoas. Na última terça-feira (13/2), a Agência de Meio Ambiente do País de Gales noticiou que um inquérito foi aberto após os produtos químicos terem sido encontrados – poluindo lençóis freáticos e a atmosfera – mesmo após 30 anos depois de eles terem sido despejados.



De acordo com a agência, a limpeza de um terreno ao Sul do país – onde ocorreu o que vem sendo chamado de ''uma das maiores contaminações do país'' – pode custar mais de 100 milhões de libras. Um informe prévio elaborado pelo governo, publicado pelo jornal The Guardian, aponta que 67 produtos químicos, incluindo derivados do Agente Laranja, dioxinas e PCBs -polychlorinated biphenyls- foram despejados pela Monsanto em uma pedreira porosa, na qual a presença de produtos químicos não era permitida.



A pedreira Brofiscin, nos arredores do vilaregio de Groesfaen, próximo de Cardiff, estourou em 2003, exalando fumaça na área, mas a comunidade tem dito pouco acerca das reais condições da pedreira. Ontem, o governo foi criticado por falhar na publicação de informação sobre a dimensão e a exata natureza da contaminação.



Douglas Gowan, um consultor de poluição, que produziu o primeiro informe oficial sobre a pedreira de Brofiscin, em 1972, quando nove vacas morreram envenenadas, disse: ''As autoridades tomaram conhecimento da situação há anos. Mas nada foi feito. Há evidências de que não há apenas negligência e incompetência, mas também acobertamento e o problema só vem crescendo''.



Histórico criminoso



Muitas das novas informações sobre as atividades da Monsanto no Reino Unido nos anos 1960 e no começo dos 1970 têm surgido de documentos judiciais, arquivados nos EUA, e de documentos internos da corporação. Eles mostram como a empresa já sabia em 1965 que os PCBs – usados principalmente para combater o fogo – eram acumulados no leite humano, nos rios, peixes, frutos do mar, animais silvestres e plantas.



Os documentos mostram que em 1953 a empresa testou o PCB em ratos e, com uma dose de nível médio, mais de 50% das cobaias morreram. Entretanto, a Monsanto deu continuidade à manufatura dos PCBs e os despejou no sul do país de Gales até 1977, mais de uma década após a evidência de que esses produtos podiam contaminar seres humanos e o meio ambiente.



Em 1968, um comitê de especialistas da empresa realizou a tarefa de assessorar a Monsanto e lhe fornecer algumas opções, já que o grupo verificou a contaminação de humanos e de animais, via PCBs, em vários locais do mundo, inclusive no Reino Unido.



''No caso dos PCBs, a companhia pode sofrer uma publicidade adversa.. As pressões da Justiça e da opinião pública para eliminar ou prevenir uma contaminação global são inevitáveis e, provavelmente, não poderão ser evitadas,'' diz o relatório interno da Monsanto preparado pelo comitê de especialistas.



O relatório, que foi apresentado por 12 pessoas, continua: ''As alternativas são: não fazer e não dizer nada e parar imediatamente a produção de Aroclors (PCBs) ou agir de maneira responsável, admitindo o crescimento das evidências de contaminação do meio ambiente…''. Uma nota final diz: ''A grande questão é: o que nós vamos dizer aos nossos clientes. (Devemos) continuar no negócio ou ajudar nossos clientes a limpar o seu uso?''



A Monsanto parou de produzir PCBs nos EUA em 1971, mas no Reino Unido o governo, que sabia dos danos dos PCBs ao meio ambiente já nos anos 1960, permitiu sua produção no País de Gales até 1977.



Em nota, a Monsanto afirmou ontem: ''Em nome da Pharmacia Corp (empresa que pertencia à Monsanto), estamos lidando com questões relativas à manufatura de PCBs no País de Gales. Nós continuamos trabalhando com o Departmento de Meio Ambiente de Gales e outros órgãos regulatórios para resolver esses problemas. Uma completa revisão vai mostrar que a Pharmacia tinha informado seus contratantes sobre a natureza dos resíduos antes do despejo, e que a Pharmacia não havia despejado os resíduos com seus próprios veículos''.



A Agência de Meio Ambiente do país de Gales disse que estava investigando os poluentes presentes no terreno em questão: ''Esse é um dos terrenos mais contaminados do país e remediar essa situação é uma prioridade, porque o terreno é muito próximo a uma área residencial,'' disse John Harrison, gerente da Agência, na região de Taf e Ely.



''Há contaminação na água, mas nós não achamos que haja algum perigo para a saúde humana. Já gastamos cerca de 800 mil libras investigando o depósito de lixo. Nosso corpo jurídico está reunindo todas as evidências e estamos tentando calcular os custos''.