120 mil italianos no protesto contra expansão de base dos EUA

Com alegria, “música a todo volume e danças no estilo brasileiro” – segundo o site do diário L'Lunitá –, uma enorme multidão tomou as ruas de Vicenza neste sábado (17), em protesto contra o projeto que duplica a  base militar dos EUA&nb

Os manifestantes, chegados de vários pontos da Itália, desde a manhã, iniciaram a passeata às 15h40 (hora local). Mas o enorme cortejo já tinha chegado ao fim do percurso e a cauda ainda não tinha como sair do ponto de partida.



Uma rejeição que se radicalizou



Cinzia Bottene, porta-voz do movimento “No Dal Molin” (Dal Molin é o nome do local de expansão da base), entusiasmou-se: “A cidade está completamente abraçada pelo povo, são milhares de vicentinos que estão protegendo a cidade de um futuro que não queremos”.  Michele De Palma, responsável da Refundação Comunista no movimento, estimou os participantes em 200 mil.



As bases militares dos EUA na Itália, mantidas desde  a 2ª Guerra Mundial, nunca gozaram de grande popularidade. Mas a rejeição se radicalizou depois da Guerra de Kossovo (1999) e principalmente após a ocupação do Iraque, ambas com a participação de tropas italianas.



A moradora de Vicenza Simone Pasin, que carregava uma bandeira com um símbolo de paz, disse que construir uma base militar “não é um gesto de um governo pacífico”. “É tempo de desativar bases militares e construir estruturas de paz”, afirmou.



Polêmica da base racha o governo



A manifestação, pacífica, foi impulsionada pela Refundação Comunista, o Partido dos Comunistas Italianos (uma cisão da RC), os Verdes, mas também pela “Margarida”, a coligação de centro-esquerda majoritária no governo de Romano Prodi.



A direção da “Margarida” na província (Vêneto) rebelou-se contra a cúpula de Roma para aderir à passeata. O senador Cesare Salvi, expoente da coligação e vice-presidente do Senado, compareceu ao protesto e disse que Prodi “vai rever” sua posição. “O movimento de Vicenza mostrou que não é subversivo e colocou questões concretas: a população não foi consultada sobre a decisão”, comentou.



O primeiro ministro Romano Prodi, que reluta em demarcar-se com os EUA em sua política externa, preferiu ser diplomático. “A maioria no governo, concorde com o protesto ou, como eu, discorde, parabeniza o movimento por ter encerrado de modo ordeiro”, disse Prodi. Prodi disse que “o governo não tem nenhuma razão” para se opor à ampliação, e ainda proibiu a participação de ministros no protesto.



Americanos no protesto



Além de se oporem ao uso militar do território italiano pelo Pentágono, os moradores também têm motivos muito práticos para protestar. A duplicação da base deve causar problemas de tráfego, excesso de barulho e poluição, escassez de recursos como água potável e gás devido ao aumento excessivo do consumo, e ainda o perigo de atentados.



Uma ala particularmente aplaudida da manifestação era formada por cidadãos  americanos. Eles ignoraram o alerta da Embaixada dos EUA, para evitar a cidade, e se somaram ao protesto, carregando um cartaz em que se lia “Não em nosso nome”.
“Os EUA não deveriam construir bases militares, os EUA deveriam pensar em problemas domésticos”, disse à agência de notícias Associated Press o americano John Gilbert, que vive na Itália há 25 anos.



A denúncia de Dario Fo



A manifestação se concluiu com um show de meia hora de Dario Fo. O veterano escritor, teatrólogo e músico italiano, 80 anos, Prêmio Nobel de Literatura, recordou os US$ 13 bilhões que o Estado italiano gastará na compra, transporte e manutenção de aviões de guerra Fighter Distrutor, produzidos pela Lockheed, empresa estadunidense celebrizada por suas conexões com escândalos de corrupção. “Eu gostaria que Prodi pedisse desculpas aos vicentinos, pois não estamos falando aqui de uma simples ampliação, e sim de uma base nova”, denunciou Dario Fo.



Mas um porta-voz do Consulado dos EUA em Milão, David Bustamante, disse que a expansão da base “é certa”. “Não acho que há como voltar atrás. Isso é o que disse Prodi e o que disseram as autoridades locais” (o Conselho Municipal, equivalente italiano da Câmara de Vereadores, aprovou as obras.).



Tropas passarão de 2.900 para 5 mil



A base Ederle tem cerca de 2.900 militares na ativa e a expansão de deve ocorrer no aeroporto Dal Molin, em outro ponto da cidade. Com a expansão, poderão ser removidos soldados que estão na Alemanha, o que deverá aumentar o número de soldados americanos em Vicenza para 5 mil.



A expansão faz parte do plano do Exército dos EUA de reduzir o número de soldados na Europa para 88 mil até 2012. Durante a Guerra Fria, o Pentágono chegou a ter 480 mil soldados na Europa. Com o fim da União Soviética, um remanejamento estratégico pretende concentrar mais tropas em outros pontos, em especial o Oriente Médio.



A construção deve começar neste ano e terminar até 2011, com um custo total de US$ 576 milhões. O governo italiano determinou que uma equipe, conduzida por italianos, consultasse a população próxima da área da expansão para que o plano pudesse ser ajustado.



Da redação, com agências