Déda acusa Meirelles de ''cuíca desafinada'' no samba do PAC

O governador Marcelo Déda (Sergipe) acusou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, de ''atravessar o samba'' com sua política ortodoxa de juros. ''Deu a impressão de uma bateria atravessada anunciar o PAC num dia e depois os juros caírem 0

Déda, um petista que costuma medir as palavras, não chegou a pedir a cabeça de Meirelles mas foi particularmente duro na crítica. Sua declaração alimentou as esperanças da ala desenvolvimentista da base do governo. Os desenvolvimentistas enxergam no presidente do Banco Central um remanescente do ''paloccismo'' e dos fundamentos macroeconômicos neoliberais.



''Todos nós queremos mudar os juros''



''Deu a impressão de uma bateria atravessada anunciar o PAC num dia, tocar o bumbo do desenvolvimento e depois entrar uma cuíca meio desafinada dizendo que os juros cairiam 0,25. Isso é público, é notório'', disse o governador.



Visto como uma estrela em ascenção na safra dos governadores petistas de 2006, Déda  também explicitou que sua posição não é um simples eco do documenro do Diretório Nacional petista, aprovado no sábado passado (10). ''Não é uma questão do PT. Eu diria que o PT, a torcida do Flamento e a torcida da Mangueira, para citar três organizações que têm a minha devoção, todos nós queremos mudar o ritmo da queda dos juros. Isso é uma amarra para o desenvolvimento, porque é um pressuposto para que todas as forças produtivas se desamarrem e comecem a melhorar o investimento'', agregou.



Fogo centrado na política



''Não estamos satisfeitos com os atuais níveis da taxa de juros e gostaríamos que a queda fosse mais acelerada. É preciso mudar a política. É necessário um ritmo de redução da taxa Selic mais acelerado, mais articulado com a retomada dos investimentos públicos e com a recolocação do desenvolvimento na agenda política do país'', disse o governador.



''Na hora em que o governo se convencer de que vai mudar a política econômica, isso se refletirá no Banco Central. O presidente tem sensibilidade suficiente para entender o que deve ser feito'', acrescentou.


 


As alternativas do presidente



Lula pode, em tese, mudar o presidente do Banco Central por motivo da reforma ministerial a ser anunciada ainda este mês. Este já não conta com o beneplácito do seu superior hierárquico formal, o ministro da Fazenda, desde que Guido Mantega substituiu Antonio Palocci na pasta. E a política de juros alcançou uma quase unanimidade contrária, entre empresários e trabalhadores, por seus efeitos desestimuladores do desenvolvimento.



Resta saber se o presidente ousará descontentar os poucos porém poderosos sujstentadores de Meirelles. Entre eles estão os porta-vozes do capital financeiro, dentro e fora do país, as oposições conservadoras (PSDB e PFL) e uma mídia que flerta com a crítica à política de juros mas dá sustentação ao seu promotor.



Uma solução intermediária seria manter Meirelles, fazer mudanças no segundo escalão do Banco Central e com isso levar o Copom (Comitê de Política Monetária) a se afastar da ortodoxia reafirmada no último dia 7. Pode ser a via escolhida por Lula, que insiste em dar ao BC uma autonomia de fato, embora sem se dispor a dar a ela um status institucional, como Palocci e Meirelles vêm defendendo publicamente desde antes do primeiro mandato.



Da redação, com agências