Em exame nova prorrogação da missão da ONU no Haiti

O mandato da Minustah, Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti, que expirou na quinta-feira passada (15), pode ser prorrogado por mais oito meses. É o que propõe um projeto de resolução apresentado pelo Peru. O Conselho de Segurança da ONU

O Peru, autor do projeto, seguiu as recomendações do Grupo de Contato sobre o Haiti, integrado por 15 países que participam ou contribuem para a Minuistah, mais sete organizações internacionais.



China quer limitar prazo



Países-membros do Conselho de Segurança, entre eles a China, insistem que o prazo de permanência dos capacetes azuis – como são conhecidas as tropas sob bandeira da ONU – não ultrapasse mais seis meses no Haiti.



“Defendemos a mudança a cada seis meses, já que esta é a norma para todas as missões de conservação da paz”, declarou Li Junha, membro da legação chinesa em Washington, onde há vivas contradições sobre as dimensões e a extensão do mandato.



O governo haitiano pede apoio internacional devido ao precário estado da Polícia Nacional, com efetivos de apenas 4 mil homens, mal armados e em muitos casos corrompidos. O Estado esforça-se agora para ampliar, preparar e educar essa força.
Os habitantes das cidades do norte do país, consideradas “fora do Estado de direito”, e outros setores sociais têm expressado sua rejeição à presença de quase 9 mil soldados e policiais estrangeiros no país, desde 2004, vendo-os como uma força de ocupação.



O presidente do Haiti, René Préval, que estimula a preparação de agentes policiais locais, considera que seu governo não tem condições suficientes para acabar com as ganques.



As ações militares em Cité Soleil



Seis dias depois de uma operação das tropas da Minustah no bairro de Cité Soleil, na orla marítima de Porto Píncipe, este bairro pobre e vulnerável continua a ser uma das maiores preocupações das autoridades. Cerca de 700 efetivos da ONU, apoiados por blindados, helicópteros e aviões de reconhecimento, participaram da operação frustrada para prender um chefe de gangue da zona de Boston, em Cité Soleil.



O deslocamento militar provocou um êxodo em massa da população civil, para outros pontos da capital, e muitas manifestações de protesto. Os soldados da Minustah fiseram uso de armas de fogo e bombas de gás lacrimogêneo.



Para a missão da ONU, Cité Soleil é o reduto de gangues de seqüestradores que atual na cidade. A última dessas ações, no início do mês, capturou dois pastores, Nathan Dieudonné, um norte-americano, e John Gordon, libertados após o pagamento de elevados resgates.



O representante no Haiti do secretário-geral das Nações Unidas, Edmundo Mulet, o chefe da Minustah, Carlos Alberto Dos Santos Cruz, e o comandante do contingente brasileiro, Magno Barrosso, anunciaram novas operações na parte norte de Porto Príncipe.



Os chefes das principais gangues das cidades concordam em aderir ao Plano de Desarmamento e Reinserção, lançado pelo governo, mas apresentam como condição a retirada da Minustah. Eles conservam a memória de uma ação dessas tropas, em 6 de junho de 2005, que passou à história como um massacre.



O texto da Comissão Justiça e Paz



Um relatório da Comissão Episcopal Nacional de Justiça e Paz contou 539 pessoas mortas nas ruas no último trimestre de 2006, devido a violências provenientes de grupos armados durante operações da ONU. “No decurso de novembro e dezembro, a Polícia haitiana e a Minustah se tornaram mais ativas na luta contra o banditismo, e suas ações também provocaram vítimas”, diz o texto.



Segundo uma organização religiosa, conhecida pela sigla Jilap, “certos grupos se servem disso na busca de um objetivo político: seja derrubando o governo, seja forçando-o a certas mudanças, certas decisões, seja para debilitá-lo”.



O documento diz que “o clima geral de insegurança no país permite que alguns se dediquem a ajustes de contas pessoais, a extorsões”, e não descartam a existência de “conexões” entre os seqüestros e o narcotráfico, opinião partilhada por Préval.