CUFA denuncia repressão em Cuiabá e chama o povo pra lutar

DJ Taba, integrante da Cufa-MT, denuncia repressão tucana contra estudantes, trabalhadores e moradores de bairros, em luta contra o aumento abusivo do transportes coletivo em Cuiabá.

A violência tomou conta da cidade de Cuiabá quando estudantes universitários, secundaristas, moradores dos bairros de periferia Jardim Vitória e Residencial Sucuri, além de membros da CUFA/MT fizeram uma manifestação contra o aumento da passagem de ônibus. Mas a violência partiu da PM.
Segundo o dj Taba, membro da Cufa/MT (em Cuiabá), que acompanhou os moradores do Jardim Vitória, era uma oportunidade para de um protesto pacífico apresentando o break, um dos elementos do hip hop, que teve origem através de manifestações nos Estados Unidos contra a Guerra do Vietnã.
Cerca de 200 manifestantes foram em passeata até a ponte do rio Coxipó, um dos locais mais movimentados de Cuiabá, capital de Mato Grosso. Lá queimaram pneus, cantaram palavras de ordem, empunharam faixas e cartazes. Algumas pessoas estavam com as caras pintadas em sinal de protesto. Todos reivindicavam que o prefeito Wilson Santos (PSDB) não aumentasse a tarifa do transporte de R$ 1,85 para R$ 2, 05, pois o valor atual já está superfaturado.
Além disso, os manifestantes lutavam para que a administração municipal revertesse à dívida dos empresários de ônibus em benefícios para a população, como renovação da frota, colocação de aparelhos de ar condicionado nos coletivos (pois Cuiabá é uma das cidades mais quentes do Brasil), adaptação de 20% dos veículos para os deficientes físicos, como diz o contrato de concessão. Os empresários devem R$ 138 milhões em multas, taxas de outorga e impostos, segundo a CPI do Transporte da Câmara de Vereadores.
Conforme as palavras de Taba, “Entendemos que nós da Cufa temos que estar do lado da população a todos os momentos, e por pertencemos a ela estamos todos os dias participando dos seus anseios e das suas angustias. Sei que na comunidade onde moro, o Jardim Vitória, muitos pais de família não têm condição de procurar trabalho ou participar de qualquer coisa fora da comunidade pagando este absurdo na passagem. Aí fica o dilema: se estamos na comunidade, temos que lutar por ela. Não podemos ver tudo e fingir que não é conosco”.
Seguindo o relato, quando todos estavam puxando músicas contra o aumento da tarifa, de repente a PM começou a agir de forma violenta, sem negociar com os manifestantes que trancava meia-pista da ponte. Os policiais começaram a pegar as pessoas que eles consideravam líderes do movimento. Eram os PMs da Rotam (polícia especializada para situações de alto conflito, o que não era o caso naquela situação).
Doze pessoas foram presas e várias ficaram feridas. Um dos garotos levou vários chutes e corre o risco de quebrado a costela. As demais pessoas correram para debaixo da ponte, para o bairro mais próximo (Boa Esperança), para o matagal. Houve desespero e choro. E tudo isso sendo filmado pelas emissoras de TV locais Centro América (Globo) e Gazeta (Record), além do fotógrafo do jornal Folha do Estado.
De acordo com o testemunho de Taba, “Estávamos com senhoras, crianças, e isto não foi levado em consideração pela PM. Spray de pimenta, pancada e borracha dada em todos, sem exceção”.
Em seguida as pessoas foram levadas para a Delegacia Metropolitana. Quatro advogados intercederam em favor dos manifestantes para evitar mais abuso de autoridade da PM, comandada pelos coronéis Tamborile e Farias. Cada uma delas foi intimada para prestar depoimento e em seguida liberada pelo delegado da Polícia Civil, que não viu delito algum por parte dos manifestantes.
Na segunda-feira, dia 05, uma comissão de representantes de estudantes, moradores de bairro, MST, Sindicato dos Bancários, PT, Sindicato dos Trabalhadores na Educação foi até o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, Carlos Brito, e cobrou dele a abertura de investigação sobre os procedimentos violentos da PM. Diante da pressão, o secretário à reivindicação. Sem seguida o grupo foi ao Ministério Público Estadual, entregou documentos, fotos e vídeos da violência e cobrou investigação criminal acerca do tema, o que também foi atendido. Agora é esperar e cobrar pra ver.
Diante do ocorrido, Taba conta uma lembrança. “Minha filha chorou um dia em que o ônibus em que estava foi parado pela policia pra uma averiguação de rotina. Ela dizia: ‘Pai, a polícia vai bater na gente’. Mas com cautela eu expliquei pra ela: ‘Calma, filha. Eles estão aqui pra nos proteger’. Só que agora, depois desta, vai ser mais difícil convencer minha filha e toda a comunidade que sofre esta repressão todos os dias. Este modo de proteger não dá resultado. Proteger com repressão nunca deu resultado. Prova disto está aí no Iraque”.
E Taba dá um recado a toda à sociedade: “Mas não vamos nos calar ou parar. Não podemos. Fizemos uma escolha, que é lutar pelo nosso povo. Então, que assim seja. Lutaremos, e para isto é que viemos resgatando as origens do hip hop. Viemos mostrando pros jovens de periferias que existe um modo de lutar sem se envolver com o crime. Aliás, é disto mesmo que querem nos tachar: de marginais. Mas fazemos justamente o contrário”.
Por fim, o dj deixa uma mensagem à PM de Mato Grosso: “Ao invés de entrar com violência nas nossas comunidades, que tal o caminho inverso? Meu povo precisa de cultura, lazer, educação, saneamento básico, saúde e uma tarifa de ônibus justa. Já está provado que isto é uma prevenção muito mais eficaz e que traz muito mais resultado do que a opressão”.