Novas oportunidades para quem precisa

Beneficiária do Bolsa Família há três anos, Adriana pôde aprender como ganhar seu dinheiro. Hoje, planeja devolver o cartão e abrir seu próprio negócio.

Por Priscila Lobregatte


Mônica ainda toma banho quando sua mãe lhe chama para o almoço. Os outros dois irmãos e o pai já aguardam na mesa. É sábado e tem carne moída, bife, purê de mandioquinha, jiló, arroz e feijão. Geovane, o menino do meio, come pouco e passa a sobra para o irmão mais velho, Bruno, que deu conta das duas porções. Na casa de Adriana Silva França, 35 anos, casada, mãe de três filhos, todo mundo pode comer bem, mas não se desperdiça comida. A família, que mora num conjunto habitacional popular em Diadema, na Grande São Paulo, é uma das 475.061 que recebem o Bolsa Família na região, composta por 39 municípios. A cidade, a 20 quilômetros da capital paulista, teve, no mês de dezembro, 14.161 famílias beneficiadas pelo programa do governo federal.


Nivaldo, o marido, está desempregado há dois anos e vive de bicos variados. Adriana é responsável por boa parte da renda, adquirida de formas variadas.Recebe atualmente 95 reais do programa e intera o orçamento, que pode chegar a 350 mensais, fazendo de tudo um pouco. “Produzo sabonetes de aroeira, alecrim, neutro, antialérgico, sais de banho, sabonete líquido, saches”, conta Adriana, que aprendeu o ofício em curso oferecido pelo Ministério do Desenvolvimento Social em parceria com a Petrobras para as famílias que recebem o benefício. Além de ensinar como fazer, o projeto deu também um kit para que os alunos começassem sua própria produção. “Nunca escolhi trabalho e quando soube do curso, agarrei a oportunidade com as duas mãos”, disse.


Mas Adriana não pára por aí. Também faz roupas de crochê, sorvete, picolé, cestas de café da manhã e o que mais aparecer. A dona de casa não tem sossego. De manhã logo cedo até tarde da noite, é um entra e sai em sua casa. Isso porque ela também vende doces e salgadinhos, o que faz de sua casa um verdadeiro entreposto para a molecada da vizinhança.


Adriana conta que a vida ficou melhor depois que passou a receber o Bolsa Família, há cerca de três anos. Antes, os cinco moravam numa favela da cidade, ironicamente chamada Novo Habitat. Nivaldo perdeu o emprego e, tempos depois Geovane, o filho do meio, começou a sofrer de leucemia. “O pouco dinheiro que entrava era reservado para tratar o menino”, lembra-se angustiada.


Como se não bastasse o quadro crítico da criança, Geovane também teve de passar por uma cirurgia por causa de uma hérnia e sofreu anemia falciforme. Foi aos poucos que a família conseguiu tratar o menino. “Ele tinha sete anos quando comecei a receber o dinheiro. Com essa idade, ele tinha apenas 11 quilos, era raquítico. Começamos a lhe dar a multimistura, com a ajuda da Pastoral da Criança”, disse.


Foi nessa época que as coisas começaram a melhorar. Com a saúde do filho em recuperação e o auxílio do programa, Adriana pôde abastecer a casa com comida e comprar o material escolar das crianças. “O Geovane tem o pé grande, perdeu seu tênis e ia para a escola de chinelo. Logo que recebi o primeiro benefício, comprei o tênis e fiz compras para a casa”, recorda. Hoje, todos os filhos de Adriana estão estudando. O casal também pôde voltar para a sala de aula: a mãe está fazendo o primeiro ano do segundo grau e o pai cursa a sétima série. “Nossa prioridade eram as crianças, então, todo dinheiro que entrava era empregado nelas. Mas, depois do Bolsa Família, também pudemos estudar”, conta. Articulada, Adriana diz que pôde planejar melhor a vida a partir do benefício e que já fez 12 cursos. “Já estudei informática, consultoria e técnica de vendas, maquiagem, administração condominial. Tudo quanto é curso gratuito que aparece, eu faço”.


A paulistana, que chegou a passar fome e morar nas ruas da Liberdade, em São Paulo, antes de formar sua família, sonha em ter seu próprio negócio. “Quero montar uma lojinha de artesanato e vender o que sei fazer”, diz. No curto prazo, ela planeja abrir mão do benefício. “Meu pai enfartou e teve começo de derrame então, estou ajudando ele também. Mas, logo que melhorar, vou devolver o meu cartão”.


Adriana nunca votou em Lula, mas reconhece que o programa mudou sua vida. “Sei que o Bolsa Família não é um programa eleitoreiro”. Alheia a clichês, Adriana diz que com o programa aprendeu a pescar. “Eles me deram o peixe, mas também me deram a vara. Eu preferi aprender a mexer com a vara porque quando o peixe acaba e sinto fome, eu mesma posso pescar”.

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