França inaugura superescola de economia em Paris

A ciência econômica francesa está repleta de talentos. Mas quem sabe disso? Era preciso dotar os economistas franceses de uma vitrine. O premiê Dominique de Villepin inaugurou nesta quinta-feira (22/2) a Escola de Economia de Paris, que dentro de alguns a

A nova instituição será abrigada num dos prédios da Escola Normal Superior (ENS), no Boulevard Jourdan, no 14º “arrondissement” de Paris.



Para reunir economistas de alto nível num mesmo espaço, o presidente da nova instituição, Roger Guesnerie, professor de Collège de France, e seu diretor, Thomas Piketty, diretor da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Ehess), realizaram uma proeza.



“Foi como querer criar a Microsoft na União Soviética”, brincou Piketty. Isso porque a escola, que já está sendo apelidada de PSE (Paris School of Economics, numa referência à ilustre London School of Economics, ou LSE), precisou passar por várias provações. Entre os fundadores da PSE estão grandes escolas francesas (a ENS, a Ehess, a Escola Nacional de Pontes e Calçamentos, o Instituto Nacional de Agronomia), mas também a Universidade de Paris I-Sorbonne e o Conselho Nacional de Pesquisas Científicas (CNRS).



E, no mundo do ensino e da pesquisa francês, não se fundem facilmente instituições como essas, que têm sua história, sua cultura e sua organização próprias e que são visceralmente ligadas a suas identidades.



A criação da PSE provocou reações contrárias na Paris-I.  Apesar de os estudos na PSE serem gratuitos, sua estrutura privada não agradou a todos, porque a nova escola tem o estatuto de fundação.



Fundadores privados
Num primeiro momento, o Estado a está dotando de 20 milhões, aos quais se somam 4 milhões de “fundadores privados”. Uma fundação dos EUA, a American Foundation for the PSE, contribuiu com 1 milhão. Seu presidente, Georges de Ménil, diretor de estudos da Ehess desde 1978, tem um perfil atípico na universidade. Herdeiro da família Schlumberger, faz parte dos acadêmicos que trocaram a França pelos EUA em 1981, após a eleição do socialista François Mitterrand.



A nova escola oferecerá formação apenas a partir do mestrado e vai selecionar seus estudantes. Nas publicações internacionais, a PSE deve ganhar destaque. É uma questão de subir de escalão nas classificações internacionais em matéria de pesquisa. Hoje, quando se somam todas as publicações científicas das seis instituições fundadoras, a PSE supera a londrina LSE. É uma performance que vai permitir atrair mais estudantes estrangeiros. Também se buscará atrair de volta pesquisadores franceses que se radicaram nos EUA. Philippe Aghion (Harvard) e Esther Duflo (MIT) tiraram licença de seis meses para tentar a aventura da PSE.



Claudia Senik, professora na Sorbonne e responsável pelas relações externas da PSE, explica: “Nos EUA, todos os anos é realizada uma “feira de trabalho” em que as universidades do mundo inteiro recrutam seus pesquisadores em economia. A França não podia participar dela” devido a suas restrições burocráticas e financeiras.



Apesar de ter dado apoio ao projeto, o Estado francês teve dificuldade em abrir mão de sua tutela. “O Estado nem sequer participa do conselho de administração”, diz Thomas Piketty. “Investiu dinheiro, mas perdeu a hegemonia.”



As equipes do Ministério da Pesquisa e da direção do ensino superior teriam preferido conservar um vínculo de dependência por meio do canal financeiro. Mas o dinheiro público usado para a fundação da escola será bloqueado, e apenas seus juros vão financiar o funcionamento da instituição.



“Foi a única forma de garantir nossa autonomia com relação aos parceiros privados e ao Estado. A fundação não pode ser uma máquina de lavar subvenções públicas”, diz Piketty. É uma pequena revolução.