Bevilaqua, sumo sacerdote da ortodoxia, sai do BC

Afonso Sant´Anna Bevilaqua, tido como um dos sumo-sacerdotes da ortodoxia monetarista do Banco Central, demitiu-se nesta quinta-feira (1º) do cargo de diretor de Política Econômica, o segundo cargo mais importante do BC, alegando motivos pessoais. O presi

A alternativa encontrada por Meirelles, nada ortodoxa, foi anunciar e aceitar a demissão, mas agregar que o diretor demissionário vai participar da reunião do Copom nos dias 6 e 7 próximos. A última deliberação do Comitê, em janeiro, de reduzir o ritmo de corte nos juros de 0,5 para 0,25 ponto percentual, foi particularmente mal recebida, por acontecer dois dias depois do lançamento do Plano de Aceleração de Crescimento (PAC) pelo governo Lula.



Substituto alinhado



Bevilaqua tem sido visto como o voto mais conservador do Copom. Mas seu substituto, hoje  diretor de Estudos Especiais, também se alinha com a política ortodoxa do órgão. Bevilaqua e Mesquita publicaram em conjunto no início do ano um texto em inglês intitulado Brasil, domando as expectativas inflacionárias. O documento, uma análise das decisões do Copom durante o governo Lula, é uma defesa da política ortodoxa do órgão.



O anúncio pelo IBGE nesta quarta-feira (28), de que o Produto Interno Bruto brasileiro cresceu apenas 2,9% no ano passado, reforçou as críticas ao monetarismo. Esta levou à manutenção da taxa Selic em 19,75% ao ano até setembro de 2005, e sua redução contida, mantendo-a como a mais elevada taxa de juros do mundo, equando a inflação passada e a projetada estão abaixo da já arrochada meta de 4,50% ao ano.



Durante os quatro anos que permaneceu na diretoria do BC, Bevilaqua sempre foi duramente criticado pelos trabalhadores, o chamado capital produtivo e até setores do governo. O próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva não ocultou sua contrariedade com a decisão do Copom no mês passado, embora tenha optado por dar ao Banco Central uma “autonomia de fato”.



“Nenhuma decisão sob pressão”



O diretor demissionário afirmou que sua saída não foi fruto de pressão política. Em tom descontraído, disse que o “fogo amigo”, de membros do governo, nunca o abandonou. “Não tenho nenhuma decisão motivada por pressões sofridas nos últimos quatro anos”, proclamou ainda, reforçando a controvertida versão de que a ortodoxia do BC se deve a uma contuta “técnica” e não “política”.



O presidente do BC também negou que tenha sofrido pressão política para afastar seu auxiliar. “Não tem sentido vincular a razões subjetivas a saída de um diretor”, disse Meirelles.



A situação de Meirelles



Bevilaqua era visto também como um anteparo ao próprio Meirelles, a quem serviu como braço direito. Depois da queda de Antonio Palocci do Ministério da Fazenda, um ano atrás, o presidente do BC ficou mais isolado. E o isolamento se acentuou após a campanha eleitoral de outubro, que reduziu o espaço para a manutenção do hibridismo predominante na política econômica do primeiro mandato de Lula.



Nesta mesma quinta-feira, o presidente fez elogios à política monetária do BC, o que foi interpretado como um sinal de que Meirelles não será substituído na próxima reforma ministerial. Mas há indagações sobre o principal – a manutenção ou não da ortodoxia monetária. E há o temor de que o Copom, que tem decidido politicamente em favor do grande capital financeiro, por mais que se socorra de argumentos “técnicos”, desaponte novamente o país com uma redução a conta-gotas da Selic, apenas para afirmar sua “autonomia”.



A indicação de Mario Mesquita é por tempo indeterminado, mas ele continua no seu cargo atual, e não se acredita que o acúmulo possa perdurar. No ritual das reuniões do Copom sobre a taxa de juros, cabe ao diretor de Política Econômica  fazer as exposições iniciais, o que dá a ele uma influência considerável sobre a decisão final.



Da redação, com agências