Luis Nassif: O acordo do etanol

Quais as perspectivas do acordo Brasil-EUA sobre o bioetanol? Para o Ministro das Relações Exteriores Celso Amorim, dependerá o memorando que poderá ser assinado ou não por Lula e por George W. Bush no seu próximo encontro.
Por Luis Nassif*

Se assinar, será inicialmente um memorando de intenções, de cooperação na área científica, visando buscar padrões técnicos mundiais que permitam transformar o etanol em uma commodity (ou seja, em um produto com as mesmas características em qualquer parte do mundo). A padronização exige o desenvolvimento de normas internacionais. Brasil e Estados Unidos deverão juntar esforços no fórum internacional que está sendo montado inicialmente com seis países.



Um segundo objetivo relevante será juntar esforços para investir no etanol de segunda geração, o chamado álcool celulósico (que poderá ser produzido a partir de qualquer resíduo), que nenhum dos dois países ainda domina.



Uma terceira linha possível será a cooperação para atuar em terceiros países, especialmente da América Centra, Caribe e África. Para o Brasil seria interessante montar modelos de atuação no Haiti.



O que não deverá avançar nessa reunião será a questão tarifária, de redução das barreiras para a entrada do etanol brasileiro nos EUA. A esperança de Amorim é que, com o etanol se transformando em uma commodity energética, esse tema será resolvido por si só. A própria lógica interna da economia americana se imporá, ao se conferir que a importação do etanol brasileiro ajudará no aumento da produtividade interna, quando comparado ao etanol de milho.



De qualquer modo, são temas que poderão rolar nesse encontra Lula-Bush, mas nada está ainda definido.
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O Itamarati começou a pensar, mas ainda não está claro como o Brasil irá se prevalecer dessa nova preocupação mundial coma as mudanças climáticas. A conversa com Bush dará as primeiras pistas de como será a futura estratégia brasileira. Na próxima reunião do G8 (o grupo dos países mais desenvolvidos) haverá uma plenária, chamada de 8+5, com mais cinco países, incluindo o Brasil, onde o tema será levantado também.



Para Amorim, dois dos temas centrais serão a energia e a mudança do clima. Somando os dois, se chega ao bioetanol. É aí que o Brasil poderá se tornar um parceiro estratégico. A questão do etanol e da bioenergia abre espaço para a colaboração em diversas outras áreas. Funcionários americanos já comentaram com Amorim sobre a possibilidade de um acordo com o Brasil nos moldes do que os EUA fecharam com a Índia na cooperação nuclear, depois que aceitaram o status da Índia, e ela assinou tratados de não proliferação e de cooperação nuclear para fins pacíficos.



Ou seja, há um tremendo espaço para ganhos adicionais nas áreas de informática, biotecnologia e outras correlatas. No fundo, se tentará com os EUA algo similar ao que está sendo negociado com o Japão na área da TV digital.
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O grande negociador brasileiro, nessa área, contudo, é o ex-Ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, que tem avançado nas conversas com o governador da Flórida, irmão de George W. Bush.



Fonte: http://luisnassif.blig.ig.com.br/