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Petista defende revolução democrática durante Encontro de Comunicação do PCdoB

Por Priscila Lobregatte


 


Começou na tarde desta sexta-feira, 2 de março, o Encontro Nacional do PCdoB, que se estende até domingo, dia 4. O objetivo do evento é reunir profissionais da área de comunicação do partido para debater t

O primeiro a falar nesta tarde foi Juarez Guimarães. Ele apresentou a tese “O Brasil que queremos”, tese elaborada para o congresso do PT. Integrante da corrente Democracia Socialista, Guimarães defendeu mudanças no Partido dos Trabalhadores e ajustes na condução da política nacional sob um viés socialista. Ele defendeu o que chamou de revolução democrática no Brasil, ou seja, um conjunto de mudanças nas concepções do Estado de maneira a promover a maior democratização e inserção social. 


 


O professor da Universidade Federal de Minas Gerais chamou atenção para a necessidade de neutralização de fatores que acabaram por dificultar mudanças mais estruturais no primeiro mandato de Lula. Entre eles, destacou a política econômica conservadora, a força das oposições neoliberais – que, segundo ele, “minaram a governabilidade”- a crise no Estado brasileiro – dada pelo desmonte recente de sua estrutura, iniciado com o governo Collor e fortalecido na era FHC -, e as próprias debilidades do PT.


 


Para ele, o segundo mandato começa em melhores condições. “Houve aprofundamento da consciência popular, que se tornou resistente às pressões midiáticas”, explicou. Além disso, Guimarães lembrou que as principais forças de oposição ao governo Lula, PSDB e PFL, vivem hoje uma crise programática e de identidade. Outro fator positivo ressaltado pelo professor são os reflexos de políticas sociais iniciadas no primeiro mandato, como o Bolsa Família, que “já trazem melhoras, inclusive no que diz respeito à distribuição de renda”.


 


Entre os pontos que devem ser defendidos para a implantação desse novo ciclo, Guimarães destacou a construção de uma nova esfera pública, sob uma ética renovada que privilegie os interesses do povo. Em nome da DS, o professor disse que “não aceitamos a corrupção e aqueles que dilapidam o patrimônio do povo brasileiro”.


 


Guimarães tratou ainda da necessidade de se aprofundar a democracia e a universalização do Estado; de construir novas formas de controle e regulação da atividade mercantil com o fortalecimento dos direitos dos trabalhadores e do povo brasileiro. “Isso exigiria a reforma do Estado para maior resistência ao poder econômico, de maneira a deixá-lo mais poroso ao controle da sociedade”.


 


O professor disse ainda ser favorável à construção de uma opinião pública pluralista e democrática. “Queremos mais liberdade de imprensa e opinião, para que aqueles que hoje não têm voz passem a ter”. Para isso, defendeu a criação de uma tevê nacional pública que tenha peso na formação da opinião pública e o incentivo às formas comunitárias de comunicação.


 


Paradoxo no segundo mandato
 


Ao iniciar sua palestra, Renato Rabelo enfatizou o atual momento da busca pela via socialista. “O objetivo que perseguimos é a tentativa de alcançar a transição ao socialismo”, disse. Ele lembrou que desde a queda das experiências socialistas ocorrida na década de 90, os comunistas encontram-se num momento de “defensiva estratégica com sentido revolucionário”. Para ele, essa construção passa, sobretudo, pela atualização da teoria revolucionária. “Não podemos copiar aquela elaborada por Lênin, apesar da grande contribuição que ela tem para a construção de nossa tática e estratégia. O desafio é construir uma teoria revolucionária para nossa época”.


 


Para se chegar a um período de transição para o socialismo, Rabelo defendeu, desde já, “a conquista do poder político por forças políticas e sociais comprometidas com essa transição”.


 


O presidente do PCdoB lembrou que, nessa luta de resistência, é essencial a defesa de três bandeiras centrais: a  soberania nacional, a  democracia e a garantia e amplitude das conquistas sociais. Rabelo salientou que, no que diz respeito à busca por uma posição mais afirmativa do Brasil frente à hegemonia norte-americana, o governo Lula teve êxitos. “O Brasil saiu de uma posição de submissão a projetos como a Alca e isso tem um sentido estratégico forte, bem como a paralisação do projeto de privatização. São vitórias parciais, mas de grande importância”.


 


O dirigente chamou atenção ainda para a necessidade de se pôr em prática um estruturado projeto nacional de desenvolvimento. Para isso, disse, é preciso que haja “sustentação do governo por amplas forças políticas interessadas nesse novo projeto”, que “seja impulsionado pelo movimento social integrado com a luta política” e “que tenha participação ativa das forças democráticas afim de reunir pensamento mais avançado”.


 


Sobre o processo que levou à eleição de Alindo Chinaglia para a presidência da Câmara, Rabelo disse que “campo majoritário assumiu uma concepção pragmática e centrista”, que “dificulta a construção de um projeto democrático, de soberania nacional”. 

O dirigente criticou a  posição do PT de colocar como centro do núcleo de governo a aliança PT-PMDB. “É dessa forma que se vê a fragilidade disso que se chamou de núcleo. Essa é uma espécie de negação de mais de vinte anos de história”. Para Rabelo, isso é paradoxal, “porque reunimos condições melhores na conjuntura, mas há retrocesso político no campo da esquerda”.