Wagner Gomes lamenta ação do governo contra direito de greve

O vice-presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Wagner Gomes, avalia que o governo Lula erra ao insistir na restrição ao direito de greve dos funcionários públicos. Para Gomes, é lamentável que a tentativa de restringir o direito

Cláudio Gonzalez


 


Em declaração ao Vermelho, o sindicalista lembra que já há um precedente preocupante em São Paulo, onde os governos tucanos recorrem ao judiciário para, sistematicamente, perseguir e punir o Sindicato dos Metroviários com multas pesadíssimas por realizarem paralisações.


 


Para Gomes, a multa, assim como as pretensas restrições ao direito de greve são formas de sufocar o movimento sindical.


 


O vice-presidente da CUT afirma ainda que as entidades do movimento sindical irão reagir à qualquer iniciativa do governo que restrinja o direito de greve dos trabalhadores.


 


O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, principal defensor da proposta, afirmou, após ser informado sobre a reação contrária das centrais, que irá procurar as entidades para negociar o projeto que enviará ao Congresso estabelecendo limites para as greves no serviço público.


 


Lula: ''Talvez a CUT esteja chateada com a manchete do jornal''


 


Neste sábado (3/3), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva saiu em defesa do ministro e disse que só um governo formado por ex-sindicalistas, como o chefiado por ele, tem autoridade para estabelecer a proibição de greve em setores essenciais do funcionalismo público. Ao defender a proposta de limitar as paralisações, Lula criticou supostos abusos cometidos pelos sindicalistas.


 


''Cada um de nós paga o preço pelos exageros que cometemos'', afirmou ele, em rápida entrevista antes de participar, na capital da Guiana, de um encontro com presidentes do Caribe e da América do Sul.


 


Indagado se havia abuso em paralisações de servidores em áreas como saúde e controle de vôos, o presidente Lula foi cuidadoso. ''Há abuso de greve não apenas no setor público, mas em outras categorias'', afirmou. ''Na verdade, o que queremos garantir na organização do trabalho do Brasil é maior responsabilidade, maior liberdade e, portanto, mais atos conseqüentes de todos nós.''


 


Lula afirmou que nos anos 70, quando ele presidia o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e liderava greves, tinha a preocupação de garantir o funcionamento de determinado serviços das empresas. ''Nós acordávamos que alguns setores não deviam parar, não aconteceria nada'', disse. ''Num momento, é possível concluir que um setor não pode fazer greve e, no outro, pode.''


 


O que o governo pretende enviar ao Congresso é um projeto ratificando a Convenção 151 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), texto do qual o Brasil é signatário e que estabelece regras para greves. O presidente assegurou que o projeto vai garantir a livre contratação do trabalho e maior liberdade de negociação. ''Quando se fala em regulamentação, pode ou não limitar greve, depende dos acordos que fizer'', disse. ''Com a liberdade para negociar, vai ter que aumentar as responsabilidades do governo e dos sindicatos. Tudo fica mais fácil quando as pessoas têm responsabilidade.''


 


Ao comentar a reação da CUT, que na véspera já se manifestara contra a proibição à greve em setores essenciais do serviço público, Lula avaliou que há um mal entendido. ''Talvez a CUT esteja chateada com a manchete do jornal'', declarou. ''Mas pergunte se ela é contra a convenção.''


 


A proposta, segundo o presidente, garante liberdade de negociação entre patrões e empregados. ''Vai ter mais responsabilidade'', previu. ''Quando sentarmos à mesa de negociação, vamos saber que a coisa é para valer. Um contrato coletivo anunciado precisa ser cumprido.''