Mulheres são responsáveis por 40% do PIB mundial

A importância da mulher na economia começa a ser reconhecida. Será o fim da desigualdade de gênero?

As mulheres são apontadas pela revista britânica The Economist como o principal fator de crescimento das riquezas geradas no planeta, nas duas últimas décadas. O sexo feminino responde por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Mais que a China e a Índia — países emergentes que crescem a taxas anuais de dois dígitos — elas viraram peça-chave da economia global.


 


O raciocínio da publicação estrangeira se sustenta em dois pilares: a alta qualificação feminina (elas entram com mais facilidade nas universidades e são responsáveis por 60% das inscrições nos cursos de pós-graduação e MBA) e o consumo. Segundo pesquisa da LatinPanel, o sexo feminino comanda 80% das decisões de compras. Além disso, 41% delas têm cartão de crédito.


 


A igualdade entre os sexos e a valorização da mulher é um dos Objetivos do Milênio, da Organização das Nações Unidas (ONU). Até 2015, todos os 191 estados-membros da entidade multilateral assumiram, entre outros compromissos, promover a autonomia das mulheres.


 


´O Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) procura promover o gênero feminino dentro de todos os oito Objetivos do Milênio, buscando condições de igualdade entre os sexos´, explica João Paulo, assessor de imprensa da ONU no Brasil.


 


No Brasil, elas representam 45% do mercado de trabalho


 


No Brasil, a importância da mulher na economia pode ser mensurada pela sua crescente participação no mercado de trabalho. Segundo o Instituto Brasileiro do Geografia e Estatística (IBGE), as brasileiras representam 45% da população economicamente ativa (PEA). São 41.741.144 de trabalhadoras — sendo 1,08 milhão delas no Nordeste — contra 54.290.827 homens na força de trabalho nacional.


 


No Estado, de uma PEA total de 4.093.280 pessoas, as mulheres correspondem a 56,3% (2.303.703), conforme os dados mais recentes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), de 2005. ´No Ceará, existe 0,75 mulher para cada homem ocupado´, avalia Mardônio Costa, diretor de Estudos e Pesquisas do Instituto de Desenvolvimento do Trabalho (IDT). Já a relação de gênero na desocupação é de 1,16 mulher desempregada para cada homem em igual situação.


 


´O ajuste do mercado nos anos 90, com a globalização, a abertura comercial e a conseqüente redução dos custos para garantir competitividade às empresas, promoveu o crescimento das taxas de desemprego no País´, diz Costa. Desligamentos que atingiram principalmente a força de trabalho masculina. A conseqüência, comos se sabe, foi a ida em massa da mulher para o mercado, numa tentativa de complementar renda ou substituir aquela perdida pelo seu companheiro.


 


´As taxas de atividade femininas no Estado passaram de 49,17% em 2001 para 52,27% em 2005, segundo o IBGE´, afirma Costa. Já os indicadores de ocupação saltaram de 45,11% para 47,24%, no mesmo intervalo de comparação. Por outro lado, revelando a pressão feminina sobre o mercado, a taxa de desocupação delas também subiu: de 8,26% para 9,62% no período.


 


O paradoxo, conforme Helena Selma Azevedo, economista doméstica e professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), é que as mulheres avançaram em ocupações, mas com baixa ou nenhuma remuneração. No Ceará, de 1.617.503 mulheres ocupadas, 12,1% não recebem qualquer remuneração. Entre os homens, de 2.155.192, apenas 9,6% trabalham sem receber qualquer renda pelo esforço.


 


PIB engordaria R$ 225 bilhões



Se colocado na balança o trabalho doméstico — praticamente invisível nas estatísticas e realizado quase que exclusivamente por mulheres — o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro engordaria em R$ 225 bilhões. Ou seja, em vez de R$ 1,9 trilhão (PIB de 2005), o somatório das riquezas geradas no País poderia chegar a R$ 2,125 trilhões. Os cálculos são de Claudio Considera, da Universidade Federal Fluminense.


 


Dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) revelam que, entre os homens ocupados, apenas 1,1% são trabalhadores domésticos no Ceará, contra uma taxa de 14% de domésticas entre as mulheres com alguma ocupação. Já do total de pessoas do sexo masculino ocupadas 19,8% têm carteira assinada, contra 16,3% de mulheres ocupadas formalmente.


 


Helena Selma Azevedo, economista doméstica e professora da UFC, acrescenta que a mulher sempre colaborou arduamente para o crescimento da economia. ´O problema é que o trabalho doméstico, sua principal contribuição, não é contabilizado. Ou melhor, só passa a fazer parte das estatísticas quando é feito por doméstica com carteira assinada´, diz.


 


A pesquisa do IBGE reforça os comentários da professora. Em 2005, do total da população cearense que cuidava de afazeres domésticos — estimada em 4.504.753 — 32,2% eram homens, contra 67,8% de mulheres. Ou seja, a taxa feminina chega a ser o dobro da masculina. Além disso, o IBGE calculou a média de horas semanais gastas com afazes domésticos para os gêneros. O resultado foi: enquanto elas gastam 26,4 horas por semana, eles ralam apenas 10,8 horas.


 


´O trabalho doméstico ainda é considerado uma obrigação da mulher, não foi dividido com o homem´, lamenta Selma. Como tem de dedicar mais tempo aos afazeres de ´Amélia´, elas acabam perdendo oportunidades no trabalho fora. ´A mulher avançou mais no espaço público, do que o homem no espaço privado. São poucas as famílias de classe média em que eles são mais participativos nas atividades de casa e nos cuidados com os filhos´, resume. Necessariamente, a análise da situação da presença feminina no mundo do trabalho passa por uma revisão das funções sociais da mulher — diz a professora. 


 


Fionte: Diário do Nordeste