Política externa colocou Brasil e EUA em lados opostos

Apesar do discurso de boas relações entre os presidentes e de interesses comuns em várias áreas, as principais bandeiras de política externa de cada país colocaram Brasil e Estados Unidos em lados opostos nos últimos anos.

Os Estados Unidos não tiveram o apoio do governo brasileiro para a guerra do Iraque e, por sua vez, nunca se sensibilizaram com a demanda brasileira de reforma e ampliação do Conselho de Segurança das Nações Unidas.


 


A obtenção de uma vaga permanente no Conselho de Segurança é uma das maiores prioridades da política externa do governo Lula, que não conseguiu vencer a resistência dos Estados Unidos nem convencer número suficiente de países a apoiar a mudança.


 


Os dois países também estiveram em lados opostos das negociações na Rodada de Doha da liberalização do comércio mundial.


 


Uma das bandeiras da criação do G-20, o grupo dos países em desenvolvimento liderado pelo Brasil, é a resistência à pressão americana para uma maior abertura na área de serviços e o respeito às leis de propriedade intelectual.


 


Só agora, recentemente, os dois governos estão empenhados em reabrir as negociações e têm uma posição conjunta, para forçar a uma abertura maior da União Européia na área agrícola.


 


Acordos bilaterais


 


Também na área comercial, o Brasil conseguiu colocar na geladeira uma Alca que considera insatisfatória para seus interesses, mas viu os Estados Unidos “tentarem” vários dos países da região com acordos bilaterais que acabaram deixando o Brasil isolado.


 


Nos últimos anos, fizeram acordos de comércio com os Estados Unidos países da América Central, Peru e Colômbia.


 


Em janeiro, os EUA assinaram com os uruguaios um acordo de investimento, tornando o país mais próximo de um acordo de livre comércio, que poderia ameaçar a unidade do Mercosul.


 


Por outro lado, o Brasil venceu na OMC um processo pelo fim do subsídio ao algodão americano e conseguiu evitar que o país cancelasse o Sistema Geral de Preferências (SGP), que garante acesso livre a cerca de 15% das exportações brasileiras.


 


O ex-embaixador brasileiro em Washington Roberto Abdenur, alinhado com o ramo da diplomacia mais vinculado aos interesses norteamericanos e à s bandeiras do neoliberalismo- criticou o que considera falta de empenho do governo brasileiro para promover as exportações brasileiras nos Estados Unidos.


 


Ele diz que a política externa tem um elemento antiamericanista e que a ênfase no comércio sul-sul acontece em detrimento do mercado americano.



Boa parte da imprensa brasileira, igualmente subserviente à política externa dos Estados Unidos, aplaudiu a ladainha de Abdenur e deu-lhe grandes espaços nos principais veículos de comunicação.


 


Mas os números desmentem o ex-embaixador. Já que, nos últimos anos, houve  aumento, em relação a 2001, das transações comerciais entre Brasil e Estados Unidos.


 


Disputas políticas


 


Brasil e Estados Unidos também estiveram em lados diferentes em várias disputas políticas, por posições em organismos multilaterais regionais ou globais.


 


Em julho de 2005, o ex-ministro do Planejamento João Sayad perdeu a disputa para a presidência do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) depois de passar pouco menos de um ano como um dos diretores da instituição.


 


Indicado pelo governo brasileiro, ele perdeu para o colombiano Luis Alberto Moreno, apoiado pelos Estados Unidos.


 


Dois meses antes, os Estados Unidos haviam amargado o que seria sua maior derrota política no continente no governo Bush.


 


Numa queda-de-braço com o presidente venezuelano, Hugo Chávez, o governo americano saiu derrotado da eleição para escolher o novo secretário-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA).


 


O chileno José Miguel Insulza, apoiado abertamente por Chávez e pelo qual o Brasil trabalhou intensamente nos bastidores, foi eleito depois que a secretária de Estado, Condoleezza Rice, costurou a renúncia do mexicano Luiz Derbez, candidato apoiado pelos americanos.


 


Relações iguais com os EUA e Venezuela


 


Hoje, a ministra Chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, procurou não alimentar as diferenças entre Brasil e Estados Unidos e afastar a idéia que o governo brasileiro possa capitular diante de pressões políticas do governo Bush, sobre em relação ao governo venezuelano. Segundo a ministra, o Brasil mantém relações idênticas com os Estados Unidos e com a Venezuela.


“A posição do Brasil é clara. Temos relações tanto com os Estados Unidos como com os demais países latino- americanos, inclusive com a Venezuela”, disse a ministra, em declarações à Agência Brasil.


 


A declaração de Dilva Rousseff surgiu a poucas horas da chegada do presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, a São Paulo, onde se reunirá, na sexta-feira com o seu homólogo brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva.


 


Na segunda-feira, durante um programa de rádio, o próprio Lula descartou a possibilidade de Bush utilizar a visita para “neutralizar” as ações do presidente da Venezuela, Hugo Chávez, na região.


 


“Acredito que não haja espaço para discutirmos problemas de outros países”, apenas para tratar “dos nossos próprios problemas”, salientou o presidente.


 


O périplo de George W. Bush pela América Latina, entre hoje e 14 de Março, inclui também o Uruguai, Colômbia, Guatemala e México.


 


Com agências