Comunista homenageada diz que Dia da Mulher estimula debate

''A comemoração contribui – na conjuntura atual, onde muitos elementos da subalternidade ainda persistem – para levantar o debate sobre as questões de gênero'', disse Maria Yvone Louzeiro Ribeiro, uma das homenageadas com o Diploma Mulher-Cidadã Bertha

Ao anunciar o nome das homenageadas, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), destacou o nome de Maria Yvone, ''como quem tive a satisfação e honra de partilhar de momentos intensos de luta pela redemocratização do país'', disse, dirigindo-se à conterrânea.



A entrega do prêmio à Maria Yvone foi feita ''por outra alagoana ilustre, a ex-senadora Heloísa Helena''. A senadora Serys Slhessarenko (PT-MT) embargou a voz ao chamar Maria Yvone para receber o prêmio, destacando que ''ela foi perseguida pelo movimento militar, que lhe tirou o marido, mas não conseguiu calar a sua ânsia por uma sociedade justa. Presa, condenada a 10 anos de prisão, ainda teve forças e fundou a União de Mulheres de Maceió''.



Alémd e Maria Yvone, outras quatro mulheres foram agraciadas com o Diploma Mulher-Cidadã este ano: Beatriz Moreira Costa, do Rio de Janeiro, conhecida como Mãe Beata de Iemanjá; Sueli Batista Santos, de Cuiabá, jornalista e fundadora do primeiro jornal feminino do estado, o Rosa Choque; Moema Libera Viezzer, de Toledo (PR), considerada uma das figuras mais importantes do país na área de educação para novas relações de gênero e proteção ao meio ambiente e Ivana Farina Navarrete Pena, de Goiânia, promotora de Justiça que sempre atuou em defesa da Justiça social e dos direitos humanos,



Maria Yvone, que faz parte da direção estadual do PCdoB em Alagoas, avalia que houve evolução muito grande na luta das mulheres, principalmente nas últimas três décadas.


 


''Assistimos ao impetuoso despertar das mulheres, ocupamos espaço enorme'', disse, acrescentando que ''a grande conquista desse final de século, foi a igualdade jurídica, uma demanda histórica das mulheres, que eram regidas por um Código Civil de 1916, ultrapassado, conservador, que incluía todas as limitações à mulher,. Perante a lei nós éramos subalternas e submissa aos homens''.


 


Desafio maior



Para o momento atual, Maria Yvone identifica ''um desafio muito maior, que é a igualdade na vida prática,  no dia-a-dia, nas relações homem-mulher. Essa é uma questão cultural, que não se muda por lei'', diz, defendendo como estratégias para superar essa dificuldade, ''a comunhão de esforços dos poderes públicos – federal, estadual e municipal, executivo, legislativo e judiciário'', enumera, acrescentando a eles, ''a sociedade organizada e a escola, que joga papel fundamental na mudança de mentalidade''.



Ela sugere a inclusão do conteúdo dos direitos da mulher nas disciplinas escolares, ''forjando uma nova mentalidade, para evitar a violência e a subalternidade''.



O senador Inácio Arruda (CE), um dos poucos homens que  prestigiou a sessão especial no Senado, fez questão de participar da entrega do prêmio à Maria Yvone, junto com a ex-senadora Heloísa Helena e a embaixadora da Nicarágua, Suyapa Patilla. Também os deputados comunistas Jô Morais (MG) e Chico Lopes (CE), foram ao Senado, prestigiar a companheira de partido.



Após a entrega da premiação, os parlamentares se revezaram na tribuna da Casa para discursarem, tendo como ponto em comum de suas falas ''a necessidade de congraçamento de homens e mulheres em busca da prevalência de valores democráticos'', disse a senadora Serys, resumindo nas palavras da pensadora alemã Hannah Arendt a defesa da participação da mulher na vida política do País: ''Vamos fazer da política um gesto de amor à humanidade''.


 


Exposição



Ainda como parte da programação em homenagem ao Dia Internacional da Mulher, será inaugurada nesta segunda-feira (5) a exposição Prêmio Bertha Lutz, que reúne fotografias das premiações concedidas anualmente pelo Senado Federal desde 2001.



O prêmio Berta Lutz foi instituído pela Mesa do Senado como forma de homenagear mulheres de todo o país que tenham prestado relevantes serviços na defesa dos direitos femininos e em questões de gênero.



Bertha Lutz, que dá nome ao prêmio, nasceu em São Paulo, em 2 de agosto de 1894. Era filha da enfermeira inglesa Amy Fowler e do cientista e pioneiro da Medicina Tropical Adolfo Lutz.  É conhecida como a maior líder na luta pelos direitos políticos das mulheres brasileiras. Foi ela que se empenhou pela aprovação da legislação que outorgou o direito às mulheres de votar e de serem votadas.



Assumiu a cadeira de deputada na Câmara Federal em junho de 1936 e sua atuação parlamentar foi marcada por proposta de mudança na legislação referente ao trabalho da mulher e do menor, visando, além de igualdade salarial, a isenção do serviço militar e a licença de três meses para a gestante.



De Brasília
Márcia Xavier