É Tudo Verdade: Filme conta história de Michelle Bachelet

A atual presidente do Chile tem sua história contada no documentário de Maria Elena Wood, que retrata momentos decisivos da trajetória política de Michelle desde o golpe de 1973 até a vitória nas urnas em 2006.


 


Por Silas Martí (<

A mulher simples que conquistou a empatia do povo e abraça eleitores em campanha é a mesma que cresceu ao lado de militares e foi vítima de torturas no período mais sangrento da história do Chile. A história de Michelle Bachelet, atual presidente do país, é destaque no festival de documentários É Tudo Verdade, que começa em 22 de março em São Paulo.


 


Em A Filha do General, a documentarista chilena Maria Elena Wood acompanhou momentos decisivos da trajetória política de Michelle, momentos antes de sua eleição para a presidência do Chile no ano passado. Com depoimentos do ex-presidente Ricardo Lagos, familiares e amigos da atual dirigente do país, o documentário faz um retrato íntimo da mulher que reconciliou uma nação com seu passado.


 


Filha do general da Força Aérea chilena, Alberto Bachelet, Michelle cresceu entre outros filhos de militares, tendo vivido em várias bases ao longo da infância. Ela conta no filme que em determinado momento sofreu um “brutal distanciamento afetivo”, tamanha a falta de contato com o resto do mundo. Uma cena do filme mostra seqüências de fotografias feitas pelo pai dela antes da ditadura chilena.


 


Tortura e morte


 


Um ano antes do golpe militar de Augusto Pinochet, que derrubou o socialista Salvador Allende em 11 de setembro de 1973, o pai de Michelle foi apontado diretor da Junta de Abastecimento e Preços. Ele aparece dizendo, em entrevista, que o Chile não era um país capaz de seqüestrar ou matar pessoas. Menos de um ano depois, em 12 de março de 1974, Alberto Bachelet morreria vítima de torturas numa prisão militar.


 


Michelle e a mãe Ángela, a viúva e a filha de um militar antigolpista, foram levadas para Villa Grimaldi, onde sofreram torturas por um ano. As duas se tornaram ícones das vítimas da repressão no país. Partiram para o exílio na Austrália em 1975 e depois para a Alemanha Oriental, onde Michelle continuou seus estudos de medicina.


 


De volta ao Chile, Michelle reverte a história. O pai militar que morreu traído por colegas das Forças Armadas não poderia imaginar que a filha se tornaria a primeira mulher a ocupar o cargo de ministra da Defesa na história da América Latina.


 


Reconciliando o Chile


 


Em cenas históricas, A Filha do General mostra Michelle discutindo o caráter do poder militar em reunião com generais. Ela se emociona ao rebater acusações de que sua liderança não passaria de uma artimanha populista para humanizar o exército. Michelle diz que o que fez, ao assumir o posto, foi reconciliar o país com seu passado, trazendo à tona os erros condenáveis cometidos durante a ditadura militar.


 


A mulher que não era ninguém até março de 2000, como Michelle gosta de se descrever, acaba transformando-se em fenômeno midiático. O documentário registra os bastidores da campanha, em que ela brinca em sessões de fotos, recebe o carinho do povo nas ruas e trata os candidatos da oposição com a firmeza de quem precisa conquistar a cadeira mais cobiçada do palácio de La Moneda.


 


No momento da posse, após dois turnos eleitorais, Michelle passa os soldados em revista e é chamada de senhora presidente. Não podia haver nada além do triunfo para uma mulher cuja trajetória de vida pessoal e política impressiona do começo ao fim.


 


A Filha do General terá duas sessões ao longo da programação do festival É Tudo Verdade, em São Paulo. O filme poderá ser visto no Centro Cultural Banco do Brasil no dia 29 de março, às 20 horas, e em 31 de março, às 18 horas.