Blanchard Girão – O doce-amargo da cana-de-açucar

O caderno cearense do Portal Vermelho publica o último artigo de Blanchard Girão, falecido neste domingo, dia 25, e que deixou um exemplo de jornalismo engajado na defesa dos interesses nacionais e do povo brasileiro.

A cana-de-açucar parece mesmo destinada a ditar os rumos da economia brasileira. Na Colônia, os engenhos produziam a riqueza dos barões da casa grande com o suor e o sangue do negro. É um dos mais tristes capítulos da história de nosso País. Mas foi ela, por certo, que alavancou o desenvolvimento através da sua cultura extensiva, ocupando, com quase exclusividade, as melhores terras úmidas do Rio de Janeiro, de Pernambuco, de São Paulo e de tantos outros pontos do nosso imenso território. O ciclo da cana-de-açucar, tão bem descrito por escritores como José Lins do Rego e José Américo de Almeida, foi aos poucos cedendo espaço a outras culturas, o café em primeiro plano, enquanto abriam-se amplas perspectivas para a pecuária bovina e o cultivo de grãos.


 


 


Eis que, na evidência preocupante do aquecimento da temperatura terrestre, associado ao esgotamento das reservas petrólicas, volta a cana-de-açucar a assumir posição relevante na cena econômica nacional.


 


 


A visita do presidente dos Estados Unidos deixou um rastro polêmico sobre o futuro do bem sucedido programa de produção do etanol, como alternativa energética da sociedade industrial subjugada às jazidas do denominado “ouro-negro”, com o comprovado envenenamento da atmosfera pelo CO2 lançado das chaminés e dos motores em combustão de milhões de veículos em todo o globo.
O aceno norte-americano para uma parceria com o Brasil na produção e comercialização do etanol aguçaria os planos de ampliação da cultura canavieira no Brasil. Voltaríamos a ter, com renovada força, um novo ciclo da cana-de-açucar, agora a transformar-se em álcool.


 


 


O “Greenpeace” já deu o alerta; o presidente da Venezuela, também lançou seu brado de advertência: “Vão tirar alimento da boca dos pobres para mover os carros dos ricos.” É preciso cuidado, senão teremos só o doce-amargo da cana.