Estudante agredido na UnB defende maioria

“Não defendo os agressores, defendo a maioria. Estamos aqui há muito tempo e a imagem que passaram para África não é isso. Eu conheço o Brasil de outro jeito, não levo imagem ruim, espero contribuir, com isso, para defender a imagem que passaram para m

Ele participou, junto com outros estudantes vítimas do ataque, da audiência pública sobre racismo realizada pela Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado, nesta terça-feira (3) – na qual também se discutiu o incêndio criminoso contra estudantes africanos ocorrido na UnB.


 


Nivaldo Gomes disse que “me deu medo por que é anormal”. Ele disse que conhece amigos que estão há cinco anos no Brasil sem terem sofrido agressões ou discriminações. As palavras delicadas do estudante que, em determinado momento, chegou a pedir desculpas e agradeceu a oportunidade de puder estudar no Brasil, comoveu a platéia que aplaudiu a sua fala.


 


Após a audiência, os estudantes africanos e representantes do movimento negro, de entidades pela promoção racial e do corpo diplomático do Itamaraty foram recebidos no plenário do Senado, onde receberam palavras de “desagravo e solidariedade” do presidente da Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) e demais senadores. O reitor da UnB, Timothy Mulholland, também esteve presente.


 


Conivência


 


“O Brasil ainda não conseguiu superar os cerca de 400 anos de escravidão”, declarou Zulu Araújo, presidente da Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura. “Essa situação se reflete, agora, nas universidades – disse ele, referindo-se ao ataque aos estudantes africanos.


 


Zulu afirmou ainda que a sociedade brasileira é conivente com o racismo, pois, “se assim não fosse, não teríamos visto os filhos da elite assassinando, em Brasília, um indígena, para depois serem protegidos, enquanto, por outro lado, tenta-se reduzir a maioridade penal para colocar na prisão os jovens negros filhos da favela”.


 


Ivair Augusto dos Santos, assessor especial da Secretaria de Estado dos Direitos Humanos (vinculada à Presidência da República), defendeu a aprovação do Estatuto da Igualdade Racial, projeto de lei de autoria do senador Paulo Paim (PT-RS). A proposta, já aprovada no Senado, agora tramita na Câmara dos Deputados.


 


Na UnB


 


O Diretório Central dos Estudantes (DCE) Honestino Guimarães da UnB realiza, nesta quarta-feira (4), ato de solidariedade aos estudantes africanos. O movimento estudantil quer também a investigação rigorosa dos fatos para a adoção das medidas cabíveis aos responsáveis, “não apenas pelo delito praticado, mas por ter ocorrido nas dependências da Universidade de Brasília, espaço onde devem ser cultivados valores como a justiça, respeito, paz e solidariedade”, diz o panfleto-convite para o ato.


 


O texto diz ainda, em defesa do estímulo de uma cooperação que integre melhor brasileiros e africanos, que “tem grande significado a contribuição do nosso país para a formação universitária de estudantes africanos tendo em vista o nosso passado e a nossa dívida histórica com a África”.


 


De Brasília
Márcia Xavier
Com Agência Senado