Umberto Martins: neoliberalismo está vivo e aparece na emenda 3

“Se não começarmos uma mudança profunda em âmbito nacional, as nossas lutas específicas não terão perspectivas”, acredita o jornalista Umberto Martins. Membro do Centro de Estudos Sindicais (CES), colunista do PORTAL VERMELHO e editor da revista Debate Si

 


Durante a palestra, o jornalista destacou a participação dos trabalhadores na mudança social e econômica do país e da América Latina. Também elogiou a mobilização do movimento sindical contra a Emenda 3. Centrais de diferentes tendências partidárias organizam um ato no dia 23 de abril em todo o país. “Os sindicatos devem se unir pra fazer prevalecer os seus direitos, manter os direitos sociais e abrir caminho para um novo projeto de natureza antineoliberal e que tenha como protagonista a classe trabalhadora”. Leia a entrevista que o jornalista.


 


Vermelho – Que perspectivas você vê para a América Latina a partir da frente que ela está fazendo em relação aos países que sempre dominaram a área econômica?


Umberto Martins – Eu vejo com otimismo. Embora seja inicial essa articulação latino-americana visando a união, uma integração mais solidária, ela significa a derrota do projeto dos Estados Unidos para a região, que era a implantação da área de livre comércio, a Alca. É uma iniciativa mais altiva, mais soberana. Nesse sentido, pode confluir para uma integração não-imperialista, solidária sob o ponto de vista político. Uma integração num projeto antineoliberal e anti-imperialista, que se destaca do domínio dos Estados Unidos. É um projeto sem hegemonias que visa uma integração mais justa dos povos, sem espoliação, sem exploração, sem opressão e sem domínio de uns países sobre os outros ou do país mais forte das Américas, que é os Estados Unidos. Esse movimento resgata os ideais de grandes líderes revolucionários latino-americanos como é o caso do Bolívar e Sandino da Nicarágua, sem contar Fidel Castro e o próprio Chaves, grandes líderes populares que já estão envolvidos nessa integração. O problema são as dificuldades, os obstáculos que eles vão enfrentar justamente pela posição do governo americano. Ele vem tomando iniciativas no sentido de sabotar esse projeto do desenvolvimento integrado dos países latino-americanos através dos chamados tratados bilaterais de comércio. Também procuram dividir os países, fazer acordo com o Uruguai, flertar com o Paraguai. Tudo pra sabotar o Mercosul. Procura dividir. Porque esse projeto se contrapõe aos desígnios do império, de um país que quer manter e aprofundar a dominação dos outros povos da região.



Vermelho – Qual o papel da classe trabalhadora nesse contexto e de que forma ela pode atuar de maneira mais ofensiva na disputa da hegemonia?


Umberto Martins – Se a gente for analisar mais rigorosamente do ponto de vista das classes sociais o fenômeno político que vem ocorrendo na América Latina, as eleições do Chaves (Venezuela), do Kirshner (na Argentina), do Evo Morales (na Bolívia), já constituem manifestações da classe trabalhadora contra o capital. Sobretudo na Venezuela, isso é muito claro. Quem tentou dar o golpe no governo Chávez foram as elites empresariais, apoiados pelos Estados Unidos. O presidente da federação empresarial mais forte lá esteve à frente do golpe. E quem apoiou Chávez foram, em massa, os trabalhadores, um movimento organizado ali. Mas a meu ver, é preciso aumentar o protagonismo da classe trabalhadora nessa luta, participando mais ativamente. É preciso que a classe trabalhadora discuta, aprofunde e elabore um projeto de desenvolvimento nacional, em particular eu estou falando do Brasil, que tenha como fundamento a valorização do trabalho, a distribuição de renda, a democracia e mais justiça social. E aí tem algumas coisas fundamentais, como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário, a elevação do salário mínimo, a maior valorização do salário mínimo e a ampliação dos direitos sociais. Esses são alguns pontos-chave. Mas a classe trabalhadora tem que lutar contra o neoliberalismo que ainda ta de pé nesse país e contra as classes dominantes pra fazer valer os seus pontos de vista, na disputa por um projeto de desenvolvimento. Isso significa o quê? Os sindicatos devem se unir, discutir o tema, mobilizar e conscientizar bases para a necessidade dessa luta e realizar grandes manifestações e mobilizações como a do dia 23 contra a emenda 3 pra fazer prevalecer os seus direitos, manter os direitos sociais e abrir caminho para um novo projeto de natureza antineoliberal e que tenha como protagonista a classe trabalhadora e que seja fundado nos interesses dessa classe.


 


Saiba mais sobre a mobilização contra a emenda 3 www.cut.org.br/publique/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=9288&sid=6


De Florianópolis,
Ana Claudia Araujo