Novo diretor do BC defende juro menor e ganha aval do Senado

O plenário do Senado aprovou na noite desta terça-feira (24) a indicação do economista Mario Torós para um dos cargos mais importantes do Banco Central (BC), a Diretoria de Política Monetária, peça-chave em decisões sobre taxa de juros. Pela manhã, ele ha

O comentário do senador traduz a impressão geral deixada pelo novo diretor, durante a sabatina. A de que se trata de um economista com pensamento menos conservador e mais “desenvolvimentista” – ao menos no que se refere à taxa de juros –, apesar de ter trabalhado 15 anos no sistema financeiro.



“Acho que a taxa é cadente e pode cair muito mais ao longo das próximas reuniões”, disse Torós. A referência dele às reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom), formado pela diretoria do BC para decidir os juros, reforça a expectativa de que o banco pode aumentar o ritmo de corte da taxa a partir de junho. O novo diretor vai participar da próxima reunião no lugar de Rodrigo Azevedo, tido como bastante conservador. Na semana passada, houve uma vitória apertada dos conservadores na reunião do Copom por quatro votos a três.



Outro momento da sabatina em que Torós alimentou a expectativa de que não seria “monetarista” – apesar de ter se negado a responder se seria “desenvolvimentista” – foi ao teorizar sobre taxa de juros. Segundo ele, o país estaria perto de deixar para trás uma fase em que juro alto, o maior do planeta, seria supostamente necessário, para entrar numa etapa de taxas mais civilizadas e alinhadas com o resto do mundo. Depois de controlar a inflação, a política monetária já poderia ser “relaxada”.



“Não acho que o Brasil seja condenado a uma taxa alta por muito tempo. Estamos no fim de uma travessia, caminhamos para taxas mais baixas”, afirmou o economista, ressaltando, contudo, que “o fim da travessia” teria de ser feito com “prudência” pelo BC. Tradução: o juro não deve cair de forma abrupta.



Falam os senadores
Ao desatacar a necessidade de “prudência” do BC, Torós frustrou um dos senadores que tiveram posição mais crítica à política de juros, durante a sabatina. Para Valter Pereira (PMDB-MS), o BC patrocina “agiotagem”, ao praticar juro alto. “Essa política tem sido indiferente aos anseios da sociedade, o juro tem caído a conta-gotas”, afirmou.



Como Pereira, quase todos os integrantes da CAE presentes à sabatina manifestaram-se de forma crítica à política de juros do BC, num sinal de que, ao menos politicamente, a fase do juro alto vai mesmo ficando para trás, como acredita Torós. Até mesmo senadores ligados aos dois maiores partidos adversários do governo, PSDB e DEM, foram críticos ao juro, contrastando com a atitude que adotaram numa recente audiência pública, na mesma CAE, com o presidente do BC, Henrique Meirelles.



Ao questionar Torós, o senador Jayme Campos (DEM-MT) quis saber se a indicação dele marcaria o fim do “conservadorismo” da diretoria do BC. Flexa Ribeiro (PSDB-PA) perguntou a opinião de Torós sobre a taxa de juro “mais alta do mundo”. Eduardo Suplicy (PT-SP) indagou se o juro não deveria cair mais depressa e ser menor, para “reduzir o desemprego e distribuir renda”.



“Há espaço para uma queda mais acelerada da taxa de juros. Ninguém está pedindo uma mudança brusca, o que não podemos é perder uma janela de oportunidade”, afirmou o presidente da CAE, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).



A exceção na sabatina foi o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM). Como fizera na audiência pública com Meirelles, o tucano voltou a defender o Banco Central. Para ele, o BC tem de ser “conservador mesmo” e deveria ter autonomia operacional garantida em lei, o que o protegeria de influências políticas – e, portanto, do desejo da sociedade expresso nas eleições. Assim, disse o tucano, o juro poderia até cair mais.



Fonte: Agência Carta Maior