Mineiros da Bolívia: imagens captadas do coração

''O fotógrafo suíço Jean-Claude Wicky compartilha com Havana sua exposição ''Mineiros da Bolívia'', todos os dias, à noite, a qual, com a força das imagens, evidentemente captadas do coração, não precisam muitas palavras explicativas''. Por Mireya Castañe

Trata-se de cem fotografias, algumas de grande tamanho, em branco e preto, em que, sem dúvida, um estremecido Wicky (Moutier, Suíça, 1946) reflete as paisagens áridas bolivianas e seus mineiros. Não são cartões-postais.



O fotógrafo consegue transmitir os rostos envelhecidos (esperança de vida de 38 anos) e doces dos mineiros e seus acampamentos (povos artificiais que surgem ao redor das minas) e fundamentalmente como trabalham no interior de uma terra rica em prata e estanho que o Homem sulcou de quilômetros de túneis.



Mostra assim as infinitas e escuras abóbadas (compreendendo imediatamente o porquê do branco e preto) e o espectador sente a falta de oxigênio, a umidade da chuva azeda que corrói a roupa e a pele.



De maneira magistral Wicky mostra a personalidade do mineiro boliviano e seu entorno mágico, porém, dantesco.



Na inauguração, no Centro Hispano-Americano da Cultura, o embaixador boliviano em Cuba, Saúl Chávez, lembrou que a história da mineração em seu país remonta à conquista espanhola e sublinhou que o Cerro Potosí, que em quíchua significa Magnífico, se revelou como a mina de prata mais rica do mundo, dando lugar a expressões como ''vale um Potosí''.



A mina gerou fortunas como a do mestiço Simón Patiño — salientou — e uma classe de trabalhadores submetida às piores condições de vida.



Por sua parte, o conselho da embaixada da Suíça, Francesco Ottolini, manifestou que é uma honra para seu país expor, pela primeira vez, no Centro Hispano-Americano e se referiu à obra de Wicky, cuja mostra data de 1978, ''Através da América índia''.



Eusebio Leal, Historiador da Cidade, destacou que, em pouco tempo, Havana desfrutou de três mostras de três brilhantes fotógrafos suíços, Luc Chessex, Burri (presente na inauguração) e Wicky.



Afirmou que as fotos de Wicky revelam o olhar do artista que nasce do mais alto da consciência. Ao concluir a simples cerimônia inaugural, o artista teve uma conversa com o Granma Internacional.



Como chegou à Bolívia e aos mineiros?



Uma vez, viajando pelo mundo, cheguei à Bolívia e visitei uma mina, naquela época, a única que deixavam ver aos turistas e só vi um mineiro, mas no dia seguinte subi um pouco mais no Cerro, o Potosí, e passei o dia todo na mina onde trabalhavam cooperativistas. Saí tão impressionado, tão perturbado da mina, que eu disse a mim próprio, um dia vou fazer ums exposição de fotografias sobre os mineiros bolivianos. Só pude começar este trabalho dez anos depois. Acostumava a viajar à Bolívia uma vez por ano. O conjunto de fotos, que são cem as que estão aqui, é o resultado de 15 viagens à Bolívia durante 17 anos.



O que o seduz, os rostos, as minas?



A Bolívia é um país diferente de outros da América Latina, talvez mais autêntico, mais misterioso. Seduziram-me suas paisagens áridas e a ternura da gente. Entrei por sua porta mais dolorosa, os acampamentos mineiros e as minas.



O que é para o senhor a fotografia?



A fotografia é o que se sente, não o que se vê. A fotografia consegue ser entendida, mas o importante é mostrá-la (a exposição foi exibida em mais de 30 cidades latino-americanas) não por presunção de que pode mudar o mundo, mas é uma pedra a mais no caminho da informação.



São fotos muito impressionantes.



Obrigado. Sim, mesmo reduzindo ao máximo a imagem. Os mineiros bolivianos realizam um trabalho quase desumano. Cada foto tem uma história de amizade e solidariedade. Não é sensacionalismo, mas mostrar a vida da gente com respeito.



Vendo as fotos se compreende por que utiliza o branco e preto.



É assim. Nas minas, acredito que não teria justificação a cor, porque o interior da mina é um mundo branco e preto.



O que significa esta mostra para o senhor?



O trabalho foi uma experiência humana extraordinária.