Unegro ataca redução da maioridade penal
Leia abaixo o artigo de Geovani Machado, geógrafo e membro da executiva da Unegro (União dos Negros do Brasil) em que o militante negro explica seus motivos contra a redução da maioridade penal.
Publicado 03/05/2007 21:50
Redução da maioridade penal é condenação da juventude brasileira
* Geovani Machado
A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado Federal, aprovou a redução da maioridade penal de 18 para 16 anos. Segundo dados oficiais apenas 10% dos delitos no Brasil são cometidos por crianças e adolescentes. No mundo esta média fica acima dos 11%.
A hipocrisia e o cinismo têm vendado os olhos da população com notícias falaciosas. A maioria dos delitos ( mais de 70%) é cometido através de pichações, depredações, etc, ou seja, contra o patrimônio público, não contra pessoas. Ao contrário do que tanto alardeiam desde 1950 os crimes praticados por jovens não ultrapassam 8%.
Com o bombardeio da grande mídia a população é levada, de arrasto a uma opinião que contraria os dados acima expostos!
A juventude brasileira com esta aprovação do Senado será mais uma vez a grande vítima do Estado. Já não basta ser excluída do sistema produtivo do país e do sistema educacional, agora será levada pra cadeia sem que haja, por parte inclusive do presidente Lula, uma política mais ousada para enfrentar o drama do desemprego e da falta de condições de dignidade para nossa juventude, especialmente a pobre e negra!
A hipocrisia é tanta e o racismo ainda maior! Não dá para enfrentarmos as mazelas de uma sociedade como a brasileira, olhando a violência como um fim sem entender que este problema precisa ser enfrentado com coragem e vontade política de ousar mais através de políticas que coíbam a cooptação de nossa juventude pelo crime organizado!
Mais do que nunca é urgente os setores da sociedade verdadeiramente preocupados com o futuro de nosso país pressionar o governo para parar de sangrar nosso país com juros estratosféricos e investir massiçamente em políticas voltadas para a erradicação da pobreza e da miséria que ainda cerca as milhares de favelas brasileiras.
A deputada federal Manuela Dávila(PCdoB/RS) tem afirmado: “É impossível que um jovem morto aos 16 anos no narcotráfico torne-se médico aos 30. Trata-se, portanto, de alterar o presente. É evidente que nada disso torna-se possível se o Brasil não se desenvolver de maneira soberana”. Precisamos fazer com que a economia cresça e inclua nossa juventude no mercado de trabalho. Não é possível um Senado caduco como o nosso aprovar a redução da maioridade penal e não apresentar uma alternativa que viabilize e desenvolvimento e o progresso neste país!
É preciso reagir. Neste sentido o dia primeiro de maio poderá ser um termômetro para que a sociedade civil organizada, o movimento negro brasileiro e gaúcho se manifestem pelo fim deste retrocesso histórico em que mais uma vez a vítima é o povo brasileiro, especialmente a nossa juventude.
A Unegro recentemente desenvolveu uma campanha denominada “Não matem nossa juventude” que objetiva denunciar o genocídio da juventude negra nas periferias do país. Esta bandeira deve ser novamente desfraldada para que a população se sensibilize e passe a tirar a venda dos olhos apontando para uma política que seja capaz de incluir não de exterminar nossa juventude que já é vítima, não culpada pela violência que acomete este país!
* Geovani Machado – Geógrafo e Membro da Executiva da Unegro RS