´L'Humanité`: “Sarkozy esconde sua verdadeira cara”

Na véspera do segundo turno presidencial francês deste domingo (6), o diário comunista L'Humanité está em campanha para eleger a candidata Ségolène Royal (PS), desmentindo as pesquisas que dão uma vantagem de 10 pontos a Nicolas Sarkozy. O artigo

Presidencial: Ultraliberal, antipobres, partidário de (George W.) Bush, segregacionista, liberticida… Para conquistar o poder supremo, o candidato da UMP (União por um Movimento Popular) dissimula um projeto de uma chocante brutalidade.



Há cinco anos ele só pensa naquilo, e “não somente ao fazer a barba”. Domingo, ele saberá se os franceses decidiram confiar-lhe as chaves do Palácio do Eliseu (sede da presidência) ou se, ao contrário, perferiram Ségolène Royal.



É o desfecho de uma campanha onde o candidato da UMP não recuou diante de nada para conquistar o poder. Nocolas Sarkozy conhece bem o preço do fracasso, pois perdeu todas as eleições importantes das quais já participou: em 1995, ao lado de (Édouard) Balladur contra (Jacques) Chirac, que ele traiu; em 199, à frente da lista do RPR (predecessor da UMP), nas eleições européias; em 2004, com a UMP, nas regionais. Desta vez, não cogita de fracassar assim tão perto do objetivo. E para tanto só há um meio: dissimular seu projeto.



Sarkozy e o social: uma guerra-relâmpago de verão



Caso eleito, Sarkozy não dará trégua ao mundo do trabalho. Ele prepara uma guerra-relâmpago a ser deflagrada durante o verão (na Europa, de junho a agosto), logo após as eleições legislativas (10 de junho). Seu programa de “revalorização do trabalho” é conversa mole para enganar a vigilância dos franceses.



Sob a cobertura de restaurar o poder de compra dos cidadãos, de reduzir o desemprego, o candidato, com a cumplicidade ativa do Medef (Confederação patronal francesa), que defende um programa idêntico, pretende dar o golpe de misericórdia na semana de 35 horas (jornada de trabalho semanal conquistada no governo de Lionel Jospin, do PS).



Em nome da luta contra os déficits, ele quer submeter o país a uma cura pela austeridade que faria vacilar François Bayrou (candidato da UDF nas presidenciais, que ficou em terceiro lugar). É um programa que nem (Margaret) Thatcher ou (Ronald) Reagan ousaram aplicar, carreando para as finanças públicas 4% do PIB (70 bilhões de euros, cerca de R$ 200 bilhões).



Sarkozy e os bairros: jogar uns contra os outros



Sarkozy despreza os pobres e os jovens. Ele o mostrou ao manejar a arte do insulto contra os bairros populares poviados pela “canalha”, que se propôs a “limpar com o brucutu”. Toda sua política reside em jogar as pessoas umas contra as outras: trabalhadores contra desempregados, adultos contra jovens, franceses contra imigrantes.



Ele não hesitou em tomas as idéias do programa da Frente Nacional (partido da ultradireita, chefiado por Jean-Marie Le Pen) para surfar no racismo, ao falar de “imigração sofrida” que ameaçaria “a identidfade nacional”. A operação teve sucesso: no primeiro turno, um milhão de eleitores frentistas viu nele a cópia “apresentável” de Le Pen. Recuperando o que há de pior no espírito colonial, pretende “escolher” os imigrantes e acelerar a expulsão de famílias estrangeiras. Critica a “cultura do arrependimento” quando se fala em reconhecer os crimes coloniais.



Sarkozy e os EUA: um discípulo de Bush



Sarkozy diz ser da direita republicana. Será que ele fala no sentido americano do termo? (na França, usa-se comumente “direita republicana” em oposição à extrema direita da Frente Nacional; nos EUA, o adjetivo se refere aos membros do Partido Republicano, do atual chefe da Casa Branca).



Muitas das suas concepções estão em oposição frontal com a cultura republicana francesa. Suas afirmações sobre a origem genética da pedofilia são tomadas diretamente das teses extremistas dos EUA. Um escorregão que não está isolado, pois está em perfeita coerência com suas leis previdenciárias de punição de mendigos e prostitutas, ou com seu projeto de detecção de comportamentos criminógenos em crianças…



Dizer que Nicolas Sarkozy é atlantista não chega a espelhar a realidade. O candidato da direita não é apenas um servidor dos EUA. Ele é um fervoroso discípulo dos neoconservadores e do presidente Bush em suas mais retrógradas e reacionárias opções. Como membro do governo, aproveitou-se de uma estadia além-Atlântico para fazer o elogio de Bush, renegando a postura da França sobre a Guerra do Iraque, antes de voltar atrás.



Sarkozy e a nação: segregacionismo antilaico



Sarkozy também toma dos EUA conservadores seu gosto pela religião, que nele vem combinado com uma aversão pelo espírito laico francês. Num comício em Rouen, exaltou o martírio de Joana D'Arc e a “herança cristã” da França. Sonha retornar a antes da lei de 1905 sobre a separação entre Igreja e Estado.



Ele pretende se imiscuir nos assuntos do Islã na França, criando uma religião de Estado financiada por fundos públicos. Pretende também segragar a França em comunidades distintas, manipuláveis umas contra as outras ao sabor de seus desejos. Esta é a ess~encia de seu segregacionismo – ainda que ele rejeite o termo. Uma noção igualmente tomada dos EUA, com a discriminação positiva que pretende instalar, rompendo com a regra republicana da igualdade de direitos.



Sarkozy e o poder: liberdades em perigo



Nicolas Sarkozy é, por fim, o homem da confusão de poderes e relações. À frente do Ministério do Interior (que na França responde pela polícia), de onde orquestrou sua campanha, estendeu seu controle sobre a mídia e incrementou suas relações com o mundo político e econômico.



De volta à Praça Beauvau (onde fica a sede do Ministério do Interior), depois de uma passagem por Bercy (onde fica o Ministério da Economia) – da qual se recorda a privatização da Companhia de Gás da França, renegando uma promessa –, admitiu que desejava com isso “se proteger” de ataques de seus adversários. Em 2005, o chefe de redação da Paris Match, Alain Genestar, demitiu-se pouco depois de ter publicado uma foto que desagradou o minitro, enquanto um editor teve de desistir de publicar uma biografia também mal vista.



Em muitas ocasiões, sarkozy foi acusado de usar órgãos de informação para desestabilizar Ségolène e seus colaboradores. Na semana passada, a candidata se queixou junto a François Bayrou de “pressões” sobre os meios de comunicação para impedir o debate entre ela e o centrista. Um episódio que se soma a todas as leis liberticidas votadas por iniociativa de seu ministério.



Fonte: http://www.humanite.fr