Painel da ONU aponta estratégias contra mudanças climáticas

O Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC, em inglês) concluiu nesta sexta-feira (4) em Bangcoc, após quatro dias de negociações, um novo relatório sobre estratégias e tecnologias destinadas a combater o aquecimento global.

O relatório foi elaborado por cientistas e representantes de cerca de 150 países. Essa terceira parte do IPCC se concentra em maneiras de combater as emissões de gases que provocam o aquecimento global e também em fatores econômicos.



Redução de 3% do PIB mundial



O relatório recomenda a redução do uso de combustíveis fósseis, a promoção de energias renováveis e uma maior eficiência na agricultura para manter o aumento de temperatura abaixo de 2ºC. Os custos desses esforços seriam de 3% do PIB mundial em 2030.



Em 2006, o PIB foi calculado em US$ 46,7 trilhões. Atualmente, essa percentagem corresponderia a US$ 1,4 trilhão, mas é preciso considerar um possível crescimento do valor total de 0,12%.



Segundo o relatório, as medidas em prática hoje não são suficientes para surtirem efeitos no futuro. “Com as atuais políticas de mitigação das mudanças climáticas e suas respectivas práticas de desenvolvimento sustentável, as emissões continuarão aumentando nas próximas décadas”, confirma o IPCC.



Para tanto, a comunidade científica aponta a adoção de matrizes energéticas alternativas para atingir as metas propostas. Nesse campo estão tanto as energias eólica, solar e de biomassa, como a nuclear. Segundo o IPCC, a energia nuclear poderia dar conta de até 18% da fatia da geração de eletricidade, mas faz ressalvas em relação às questões de segurança, proliferação de armas e lixo radioativo, ligadas a esse tipo de matriz.



O IPCC atenta para o fato de que novos investimentos de países em desenvolvimento e melhorias dos países desenvolvidos nos setores energéticos devem ter a preocupação de reduzir os Gases de Efeito Estufa (GEEs), já que os impactos e a duração desses investimento são para um breve futuro. Até 2030, estima-se que sejam gastos US$ 20 trilhões em infra-estrutura para produção de energia.



“A difusão de tecnologias que produzem menos carbono pode levar décadas, mesmo se os investimentos iniciais nestas tecnologias sejam atrativas”, descreve o relatório. Por isso, há uma ênfase do relatório em se dar atenção às tecnologias atuais disponíveis e àquelas que podem se tornar comerciais nas próximas décadas. Para a comunidade cientifica, o próprio uso, acesso e desenvolvimento dessas tecnologias podem no futuro encontrar soluções para seus problemas atuais.



Brasil se uniu a China e Índia



Brasil e a Índia se uniram na quarta-feira à China para exigir mudanças no texto do terceiro relatório do IPCC. As alterações propostas eram na área de fornecimento de energia, nos transportes, habitação, agricultura, indústria e manejo de resíduos para ajudar a combater a mudança climática.



Os três países queriam ver incluído no texto final um parágrafo no qual se diz que “se os países com alta taxa de emissão per capita de gases-estufa não reduzirem suas emissões significativamente, será difícil fazer progressos substanciais no combate do aquecimento global”. Os países com alta taxa per capita são as nações desenvolvidas. Embora vá se tornar o maior poluidor do mundo até o fim deste ano, a China tem baixa emissão per capita, já que este índice está associado também ao nível de consumo.



O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse na quarta-feira, em Brasília, que o Brasil tem posições em comum com a China e a Índia sobre a responsabilidade dos países desenvolvidos pelo aquecimento global. O raciocínio é que as economias desenvolvidas poluíram o planeta durante mais de um século e agora devem empreender maiores esforços para recuperar o meio ambiente.



“Os países desenvolvidos não podem abdicar das suas responsabilidades. Nós temos as nossas e vamos cumpri-las”, disse Amorim. Segundo ele, é natural que o Brasil tenha um papel de destaque na discussão de temas ambientais. Ele lembrou que a matriz energética do país não é poluidora, pois tem como principal fonte a energia hidrelétrica.



Culpa e solução é dos ricos



Jiang Yu, porta-voz da chancelaria chinesa, disse que Pequim quer contribuir com a redução na emissão de poluentes industriais, agrícolas e de veículos, apontados na semana passada em um relatório da ONU como as principais causas das mudanças climáticas no globo.


 


Mas Jiang disse que a culpa — e a solução — cabe aos países ricos. “Deve-se citar que a mudança climática foi causada por emissões históricas de longo prazo dos países desenvolvidos e suas elevadas emissões per capita'', afirmou a porta-voz, cobrando que o mundo desenvolvido “assuma a liderança na responsabilidade por cortes nas emissões''.



Ricos querem que outros paguem



Os países mais ricos (Estados Unidos e União Européia) alegam que as emissões de nações em desenvolvimento serão as que mais crescerão até 2030, insistindo que “seria mais fácil” que o controle partisse delas. A delegação americana disse que entre dois terços e três quartos do percentual de crescimento da concentração de CO2 na atmosfera, que pode variar de 25% até 90% a mais até 2030, “será responsabilidade dos emergentes”.



Já o bloco de nações mais pobres e com forte crescimento industrial rebateu as alegações demonstrando que, mesmo com o crescimento, os ricos manterão um índice de emissão per capita mais alto. A China citou que 9,6 e 15,1 toneladas de carbono por habitante é o que porduzem os países ricos — enquanto os pobres produzem entre 2,8 e 5,1 toneladas.



Além disso, sustentaram as delegações, o passivo histórico cabe às nações industrializadas. “Está tudo pronto”, disse hoje Peter Lukey, integrante da delegação sul-africana. “Tudo o que queríamos ver, e mais, estava lá. A mensagem é: Nós temos de fazer alguma coisa agora.”



O relatório final (leia aqui, em inglês) ignorou as demandas dos três países. Confira abaixo alguns dos principais pontos desta parte do relatório.


 



Emissões


* A emissão de gases nocivos ao meio ambiente aumentou 70% entre 1970 e 2004, chegando a 49 bilhões de toneladas por ano de dióxido de carbono * Entre 1990 e 2004, o aumento foi de 28%.
* A oferta de energia aumentou 145% entre 1970 e 2004.
* A eficiência energética não acompanhou o aumento da renda mundial e da população do planeta.
* Emissões podem aumentar entre 25% e 90% até 2030, em comparação com os níveis de 2000.
* Entre 66% e 75% deste aumento deve acontecer em países em desenvolvimento. A emissão per capita, no entanto, deve se manter abaixo do nível dos países ricos.
* Em 2004, países industrializados representavam 20% da população global e 46% das emissões.


Custos


* Quanto maiores e mais rápidos forem os cortes nas emissões, maiores serão os custos.
* Mas as medidas podem ser relativamente modestas e as tecnologias existentes podem ser usadas. O custo de se agir agora ainda pode ser menor do que o custo caso não haja ação do homem.
* O IPCC trabalha com diferentes cenários:


Estabilizar as emissões em 445-535 partes por milhão (ppm) de dióxido de carbono limitaria o aquecimento global a 2º/2,8ºC. O impacto disso na economia mundial seria de até 3% do PIB mundial até 2030. No mesmo período, o impacto no crescimento projetado da economia seria de 0,12%.


Estabilizar as emissões em 535-590 ppm limitaria o aquecimento global a 2,8º/3,2ºC, com redução de 0,1% do crescimento do PIB mundial até 2030. Entre 590-710 ppm, o aquecimento global seria de 3,2º/4ºC, com redução de 0,06% do crescimento do PIB até 2030.


Opções


* O relatório propõe repassar o “preço do carbono” aos consumidores e produtores, ou seja, que os preços na economia levem em conta o dano ambiental causado pela queima de combustíveis, para estimular a eficiência energética.
* Outras possibilidades são novas leis, impostos e mercados de troca de permissões de emissão de carbono. Acordos voluntários entre governo e indústria são “atraente politicamente”, mas “não têm atingido resultados satisfatórios de redução de emissões”.
* Taxar as emissões de carbono seria eficiente no setor energético. Um preço de US$ 20 a US$ 50 por tonelada de dióxido de carbono transformaria o setor energético, aumentando a participação das fontes renováveis na matriz energética para 35% até 2030 (quase o dobro da fatia registrada em 2005).
* Fontes de energia renováveis como eólica, solar e geotérmica deveriam ser estimuladas, com subsídios, tarifas preferenciais e compra obrigatória.
* Mais eficiência energética, com mudança nos padrões de construção, economia obrigatória de combustíveis, mistura de biocombustíveis e investimento em melhores serviços de transporte público.
* Medidas de seqüestro de carbono “têm potencial para dar uma importante contribuição” na mitigação das emissões até 2030.
* Energia nuclear, que representou 16% da matriz energética mundial em 2005, pode chegar a 18% até 2030, com o aumento do preço do dióxido de carbono de até US$ 50 por tonelada, “mas questões de segurança, proliferação de armas e lixo continuam sendo preocupantes”.


 


 


Da redação, com informações da Agência Carta Maior e agências internacionais