PC Francês tem 47% de mulheres entre os seus candidatos

O Partido Comunista Francês (PCF) já tem 47,3% de mulheres em sua lista de candidatos às eleições legislativas do próximo dia 10; e está “se esforçando para atingir a paridade”. Mas analisa que a campanha parte “do resultado muito ruim do PCF e da esquerd

“A hora é grave. É uma direita linha-dura que chega ao Eliseu (Palácio presidencial francês). Uma direita que vai aplicar numerosas propostas da Frente Nacional (sigla da extrama direita). É também um grave fracasso para toda a esquerda (veja a tabela ao lado), afirma uma análise de Joelle Greder, presidente do Conselho Nacional (equivalente no PCF ao Comitê Central; outra mulher, Marie George Buffet, é a secretária-geral, principal cargo na direção do partidos). O resultado político é visto como o pior desde a Libertação, que pôs fim à ocupação nazifascista em 1944.



“Uma vitória ideológica da direita”



“A chegada de uma direita linha-dura, uma grave derrota da esquerda, um Partido Comunista atingido dusíssimamente: esta situação inédita chama não só à resistência, mas à reflexão, à construção de alternativas à esquerda, esforços de compreensão”, afirma Joelle. Ela remete esse esforço ao Congresso do PCF, convocado para este ano, “mas não podemos deixar tudo para amanhã”, pois “já estamos na campanha das eleições legislativas, que será a primeira etapa de uma necessária e indispensável contra-ofensiva”.



O texto analisa numerosos dados sobre o comportamento do eleitorado nas presidenciais, para concluir: “Não nos enganemos, não se trata da vitória da ambição de um homem. Pelo contrário, ela concretiza uma vitória ideológica da direita, tanto nos valores como na visão de mundo, uma ideologia tomada das teses da revolução conservadora americana. É o resultado do esforço de renovação ideológica da direita francesa, empreendida há muitos anos, para se opor ao avanço da aspiração à mudança e aos questionamentos profundos do capitalismo.”



“Resistência contra o rolo compressor”



O balanço também faz críticas à candidata do Partido Socialista (PS), Ségolène Royal, que chegou ao segundo turno. Diz que, desde o início, “sua campanha não era a da união da esquerda” e “se situava cada vez mais nitidamente no centro-esquerda”. “A derrota eleitoral do segundo turno, após o resultado muito débil da esquerda no primeiro, mostra que essa via constitui um impasse para o conjunto da esquerda”, analisa.



Joelle Greder destaca o papel das forças à esquerda do PS: “À resistência contra o rolo compressor de uma direita autoritária e ultraliberal, agrega-se a necessidade de combater todas as operações que visem marginalizar a corrente de contestação do liberalismo, de transformação social”. 



Esta corrente obteve um triunfo em 29 de maio de 2005, ao jogar um papel decisivo para que a maioria dos franceses rejeitasse em referendo a proposta de Constituição Européia. A dirigente do PCF observa que “nós imediatamente percebemos a dificuldade de transformar a conquista daquela campanha e o resultado do 29 de maio em trampolim para novos avanços. Mas certamente subestimamos a amplitude da contra-ofensiva”, observa.



“Queremos revolucionar a esquerda”



Joelle  Greder apresenta as eleições legislativas (em dois turnos, dias 10 e 17 de junho) como “a primeira contra-ofensiva” após a eleição de Sarkozy. O PCF possui hoje 21 cadeiras na Assembléia Nacional, apesar dos obstáculo criados pelo sistema distrital. A análise coloca a manutenção desta bancada como “necessidade para o futuro democrático de nosso país”.



“O fortíssimo comparecimento na presidencial, assim como o escore de Nicolas Sarkozy, dão a entender que a UMP (partido de Sarkozy) se beneficiará desse efeito”, adianta a análise, sobre o quadro das eleições legislativas. O PS tenta “limitar uma provável segunda derrota”. O quadro para a esquerda antiliberal tampouco é fácil.



“Não escondemos, a campanha será difícil para nossos candidatos, nosso partido. A nítida vitória de Sarkozy, a derrota da esquerda, o enfraquecimento de nosso partido, vão pesar. Nossos adversários políticos e a mídia sem dúvida usarão largamente o argumento da morte do PCF”, afirma a análise.



Em contraposição, “propomos que os candidatos apoiados e apresentados pelo PCF sejam candidatos de resistência e de combate à política de Sarkozy, candidatos que conduzam os valores da esquerda, as propostas de ruptura com o liberalismo”, afirma a análise. “Que sejam os portadores de um agrupamento de toda a esquerda sobre um conteúdo de transformação social”, acrescenta.



E em outro trecho: “Que os candidatos sejam representantes de uma esquerda claramente à esquerda, de uma esquerda de coragem e de responsabilidade, unida em torno de proposições antiliberais de transformação social. Já dissemos que queremos revolucionar a esquerda, sacudi-la.”



Mulheres: “Atingir a paridade”



O partido, quando foi feita a análise, tinha candidatos em 518 dos 555 distritos eleitorais franceses. “Mais de um terço deles são também apoiados por coletivos antiliberais de outras organizações afora o PCF. Nós também apoiaremos, além destas 518 candidaturas, algumas – uma dezena – de não filiados”, informa: “Valores de solidariedade, de fraternidade, de justiça, de igualdade, de laicidade, de liberdade, de paz”.



“Das 518 dandidaturas, há hoje pelo menos 245 de mulheres, ou seja, 47,3%. Ainda não é o bastante. Devemos portanto continuar a fazer o esforço para atingir a paridade, seja trabalhando novas candidaturas, seja colocando as suplentes no lugar dos titulares”, afirma Joelle.