Zezinho do Araguaia: investigação precisa de mais respaldo

Sobrevivente da Guerrilha do Araguaia (1966-1974), Zezinho afirma que é preciso mais interesse por parte dos “agentes políticos da sociedade” para que a investigação avance definitivamente. “Não é só cavar e encontrar os ossos. Falta interesse real para e

Para Zezinho, entretanto, o governo precisa de mais apoio para conseguir avançar nas investigações. “Toda ajuda é válida. Mas não é ela que decide. Eu concordo com o Lício. Ele disse no jornal que não fala com comunista nenhum. Estamos em lados opostos mas eu tenho a mesma opinião. Eles só vão falar se forem chamados pelo comando deles”.


 


Lício Augusto Ribeiro foi major-adjunto do Centro de Informações do Exército e atuou na linha de frente no combate aos guerrilheiros e é considerado o militar que mais matou nas matas do Sul do Pará. Na edição do Jornal do Brasil desta quarta-feira (16), ele afirmou que não irá colaborar com a Comissão de Mortos e Desaparecidos do governo para localizar os corpos de guerrilheiros. “Comuna não fala comigo e eu não falo com eles. Não aceito um convite para depor nem sei como reagiria se tivesse de ir”, disse ao JB.


 


Para ele, a única maneira de a investigação avançar é com a “cooperação do Exército, que colocaria o batalhão da área para formar um banco de dados sobre as pesquisas”. Ele avisou que só atenderá a uma convocação para falar sobre o tema se receber uma ordem do ministro do Exército.


 


Informações


 


Muito pouca informação existe sobre o que aconteceu com os militantes do PCdoB desaparecidos na Guerrilha do Araguaia. Em 2003, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva criou uma Comissão Interministerial com o objetivo de identificar a localização dos desaparecidos que pouco avançou. Em dezembro de 2005, um decreto presidencial tornou público parte dos documentos produzidos pela Comissão Geral de Investigações (CGI), pelo Conselho de Segurança Nacional (CSN) e pelo Serviço Nacional de Informação (SNI). Mas as investigações barraram em medidas que protegem a privacidade.


 


“Aonde estão as ossadas que foram retiradas de lá? Para quais estados elas foram?”, pergunta Zezinho. Há cerca de três anos, doze ossadas e um crânio foram encontrados. Mas hoje não há informações sobre seu paradeiro. Segundo informações coletadas por Zezinho, duas caixas com ossadas foram enterradas no cemitério de Xambioá. “Fizeram isso às escuras mas existem pessoas da região que viram”, afirma.


 


Em março deste ano, o ministro Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, na apresentação do relatório final dos trabalhos da Comissão, recomendou que o presidente Lula decrete o fim de qualquer grau de sigilo sobre documentos públicos referentes ao período em que ocorreu a Guerrilha do Araguaia e que também os documentos sejam recolhidos do Arquivo Nacional e sejam vinculados aos órgãos e entidades da Administração Federal.


 


Para Zezinho é muito importante que sejam criados os dois bancos de dados sobre os guerrilheiros: Um com as informações dos familiares e outro com as dos militares. “É preciso identificar as pessoas. Qual era o comandante que estava tal hora em tal lugar? Prendeu quem? Viu levar para aonde? Tem muitos militares vivos e eles sabem. Mas eles só vão falar com ordem do comando deles”.


 


De Brasília,
Mônica Simioni