Solução para o Timor “está longe”, avalia Boaventura
O presidente eleito do Timor Leste, José Ramos Horta, toma posse hoje (20), após uma eleição pacífica que foi precedida por uma violenta crise política. Passado o processo eleitoral, que foi aprovado por observadores internacionais e registrou apenas i
Publicado 20/05/2007 16:54
“A solução está longe”, disse numa breve entrevista à Agência Brasil, por telefone, enquanto caminhava para a Universidade de Coimbra – onde é professor da Faculdade de Economia. Ele avalia que os timorenses têm uma percepção errada sobre o significado da eleição. “Pensam que resolveram a crise, mas não é isso. A região vai continuar a ser desestabilizada”.
Entre os fatores de desestabilização, Boaventura destaca a Austrália e a Igreja Católica.
País vizinho e potência regional, a Austrália provocou a crise “artificialmente”, segundo ele, com o objetivo de desestabilizar um governo hostil: o do ex-premiê Mari Alkatiri, que deixou o cargo em junho do ano passado, durante a crise, para dar lugar ao próprio Ramos Horta.
Um dos fundadores da Frente Revolucionária do Timor Leste Independente (Fretilin), movimento de resistência contra a ocupação indonésia – encerrada em 2002 –, Alkatiri ganhou a inimizade dos australianos por sinalizar uma aproximação com a China, avalia o sociólogo, especialmente no que se refere à exploração dos principais recursos naturais do país: petróleo e gás natural.
Em artigo escrito recentemente, Boaventura dá os detalhes. O primeiro-ministro subiu de 20% para 50% a parte que caberia ao Timor dos rendimentos dos recursos naturais, procurando transformar e comercializar o gás natural a partir do país, e não da Austrália, e concedendo direitos de exploração a uma empresa chinesa. Uma postura “nacionalista” semelhante à de países como Bolívia e Venezuela, embora “menos radical”, comparou durante a entrevista.
Além da questão econômica, o professor de Coimbra aponta um aspecto geopolítico no interesse da Austrália: controlar as rotas marítimas de águas profundas e travar a emergência do rival regional, a China. Dada a proximidade entre os governos de Washington e Canberra, ele vê esta disputa como sinal de uma “nova guerra fria, apenas emergente, entre os EUA e China”, da qual “o Timor é a primeira vítima”. E acha que a Austrália adota postura semelhante à dos Estados Unidos em relação à América Latina e, mais recentemente, ao Oriente Médio.
Quanto à Igreja, Boaventura explica que teve papel forte na independência, goza de grande influência na região e não vê muita graça no fato de Alkatiri ser um líder muçulmano – embora “secular”. Ele conta que, no dia da eleição, Ramos Horta apareceu para votar vestindo uma camiseta do Sagrado Coração de Jesus.
Fonte: Agência Brasil