Scorsese lança fundação para proteger história do cinema

Cineastas de fama internacional, liderados por Martin Scorsese, lançaram nesta terça-feira (22), em Cannes, a World Cinema Foundation (WCF), com o objetivo de proteger, recuperar e divulgar o patrimônio cinematográfico mundial, especialmente os filmes esq

“Há urgência, mas agora somos um grupo internacional de cineastas”, disse Wong Kar Wai, de Hong Kong, outro dos participantes. Junto a eles estão o malinês Souleymanne Cissé, os mexicanos Alfonso Cuarón e Alejandro González Iñárritu, o britânico Stephen Frears e o mauritano Abderrahmane Sissako.



Walter Salles retomou as palavras de um célebre produtor de cinema do Brasil para lembrar que um país sem história de cinema “é como uma casa sem espelho”. O problema da conservação de filmes está intimamente relacionado “ao problema da conservação da identidade cultural”, lembrou.



Para ele, recuperar o cinema é “um instrumento fabuloso para nos permitir compreender nossas diferenças”, e para saber “que não somos tão diferentes como nos faz crer a 'CNN' e outras instâncias”, defendeu o diretor de Diários de Motocicleta.



Já Scorsese falou da necessidade de atuar com a maior rapidez e eficácia possível, no mundo todo, para que a memória cinematográfica de cada país não seja perdida. O autor de Taxi Driver deu um exemplo contundente: “90% dos filmes rodados antes de 1950 nos Estados Unidos já não existem.”  “As coisas mudaram, mas é impossível recuperar o que está perdido”, disse.



Adoção


Para evitar que desastres como esse continuem ocorrendo, em particular em países como os do continente africano, onde a existência da sétima arte já é um desafio em si, a idéia é que cada cineasta trabalhe em seu país para recuperar seu patrimônio nacional e que eles “adotem” filmes. “Falta tenacidade por parte dos cineastas, isso é o que tento despertar aqui”, explicou Scorsese.


A WCF, um organismo sem fins lucrativos, concentrará seus esforços de maneira especial nos filmes “caídos no esquecimento”, e, também, naqueles impossíveis de serem vistos por não estarem disponíveis em vídeo ou em DVD nem em circulação, afirmou o cineasta norte-americano.


Scorsese foi quem concebeu a idéia da instituição. Ele ressaltou que, embora a WCF esteja nascendo hoje oficialmente, já salvou três filmes. Um deles é o brasileiro Limite, rodado em 1931 por Mário Peixoto, restaurado pela Cinemateca Brasileira, pela VideoFilmes (produtora de Salles) e pelos Arquivos Mário Peixoto com a participação da Arte France (companhia de edição televisiva), graças ao apoio de Walter Salles.


Os outros dois são o marroquino Transes (1981), de Ahmed al-Maanouni, e La Forêt des Pendus (1964), do romeno Liviu Ciulei.


Souleymanne Cissé explicou que, quando Scorsese entrou em contato com eles, os cineastas não hesitaram em tomar parte no projeto.  “Disso depende nossa sobrevivência, senão em 15 ou 30 anos já não haverá cinema africano”, afirmou.


Entre as ações propostas pela fundação estão que as grandes cinematecas e os festivais do mundo “adotem” filmes e busquem os fundos necessários para sua restauração e distribuição internacional. Propõem, inclusive, que as salas de cinema participem desses projetos.


Da mesma forma, a fundação prevê a existência de “um circuito formado pelas cinematecas de todo o mundo”, onde seriam apresentados os filmes restaurados antes de serem divulgados em DVD, comentou Scorsese.


Todos podem participar da tarefa de recuperar a memória histórica da sétima arte: “individualmente”, cada cidadão e amante do cinema pode propor, pela internet, filmes “adotáveis”.


Fonte: Efe