Acuado, Meirelles sobe o tom e faz defesa firme do BC

Em debate no Congresso, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central é encurralado por críticas suprapartidárias aos juros altos e reage em tom acima do normal. Indicadores econômicos ajudam defesa de política conservadora, mas levanta suspeita de 'doi

Respaldado pelo presidente Lula, que tem repetido que o país vive o melhor momento da história graças à política econômica, e por uma série de indicadores oficiais, Meirelles está se sentindo à vontade para defender o BC com uma contundência que não costuma adotar. Foi assim que ele reagiu à enxurrada de críticas ouvida aos juros altos do BC e à suposta omissão ante abusos bancários, durante uma audiência pública no Congresso nesta quinta-feira (24).



Acuado por farpas de parlamentares de diversos partidos, Meirelles foi enfático ao invocar para si uma “responsabilidade” que faltaria a quem pede que o juro caia depressa. Chamou de “atitudes populares fáceis” reduções maiores que, para ele, seriam “desastrosas”. Disse que o BC não “tabela” nem “estatiza” tarifas bancárias e que cabe ao povo ir à Justiça quando se achar vítima de abuso. Afirmou que o Brasil não tem de resolver problemas dos Estados Unidos que barateariam o dólar barato por aqui.



O banqueiro desfiou uma série de indicadores favoráveis para blindar a política econômica conservadora. Citou, por exemplo, o aumento da geração de emprego, da massa salarial e do consumo das famílias, os recordes no comércio com o exterior e a trajetória de queda dos juros. Depois, em entrevista, explicou seu tom acima do normal, embora cortês. “Colocações feitas com ênfase têm de ser respondidas também com ênfase.”



A pedidos



Também aos jornalistas, Meirelles disse que tem sido cobrado por pessoas que acham que o país vai bem, a expressar esta opinião com firmeza. Não contou quem lhe cobra posições mais convictas, mas seu o patrimônio superior a R$ 100 milhões dá uma idéia de quem são seus interlocutores.



Pelo que os congressistas disseram na audiência, os interlocutores de Meirelles não pertencem ao Brasil “real”, país alheio às estatísticas usadas pelo governo para exaltar a política econômica.



“Apelo à brasilidade do senhor e sua equipe: abaixe os juros. Tem gente morrendo na fila dos hospitais, o Estado precisa investir mais, em vez de gastar bilhões com juros da dívida”, afirmou o deputado Giovanni Queiroz (PDT-PA), ilustrando a sangria: o país pagará R$ 453 milhões por dia de juros da dívida este ano.



“Parece que são dois países diferentes. Um das estatísticas do presidente Lula, outro das reclamações que a gente ouve todo dia dos exportadores, que não aguentam esse dólar, que demitem,” disse o deputado Osório Adriano (DEM-DF).



Juro e dólar



Para alguns parlamentares, o dólar barato seria culpa do juro do BC, que, extorsivo, atrairia especuladores estrangeiros em busca de lucro gordo, tese com adeptos entre empresários e economistas. E, com dólar barato, os exportadores, que costumam empregar muita gente com carteira assinada, ficam em dificuldade para fechar negócios. “Esse dólar não é decorrente de transações comerciais, mas de transações financeiras”, disse o deputado Daniel Almeida (PCdoB-BA).



O comentário do comunista embute a explicação do BC para o dólar barato: a volumosa entrada da moeda americana por meio dos altos lucros do Brasil no comércio exterior. Meirelles aproveitou ainda para teorizar que o dólar está em queda no mundo todo porque os EUA têm problemas internos, os quais “o Brasil não vai conseguir resolver”.



Na audiência, o banqueiro disse ter “o maior respeito” por setores que sofrem com o dólar barato. Mas em seguida emendou: não há como salvar ninguém porque isso poderia “estragar [a situação] para a maioria da população”, que na campanha de 2006 teria endossado a política econômica, reelegendo Lula. E completou: o dólar vale quanto o mercado quiser, porque BC não tem meta de câmbio.



“A Argentina insistiu por dez anos com a paridade peso-dólar e sucateou o setor produtivo. Estamos indo no mesmo caminho”, disse o deputado Alfredo Kaefer (PSDB-PR). “O BC tem que tomar uma atitude mais corajosa, para que o juro caia e o dólar suba”, reforçou.



De acordo com Meirelles, a fórmula para reduzir o juro – que ele admitiu ser “muito alto”, e que seria explicado por razões históricas – é manter a inflação sob controle, algo que o BC vem conseguindo. No ano passado, ela ficou abaixo da meta e, pela primeira vez desde que o Brasil passou a trabalhar com meta de inflação, hoje as projeções do chamado “mercado” para os próximos dois anos apontam para uma inflação dentro do alvo.