Novo número de Crítica Marxista trata de Estado, racismo e Brecht

Saiu o número 24 da revista Crítica Marxista, editada pela Revan. Nesta edição, Joachim Hirsch trata do déficit de Teoria do Estado no interior da Teoria da Regulação, partindo-se de sua determinação formal na sociedade burguesa. A partir daí, é

Hirsch se utiliza de Leipzig e Marx para falar, respectivamente, da reprodução do social e do modo de reprodução capitalista. Em Democracia burguesa e apatia política, Luciano Cavini Martorano aponta cinco elementos encontrados no debate sobre a democracia no capitalismo que se constituíram como limites estruturais desse regime, impedindo uma efetiva participação popular na política ao gerar o fenômeno da apatia. Para ele, o socialismo deveria criar as condições que permitissem a contínua e ascendente intervenção dos trabalhadores na política, bem como o controle por estes da burocracia. O usufruto desigual das liberdades políticas e o conflito entre o parlamento e a burocracia de Estado são outros temas também tratados por Martorano.



O texto do filósofo marxista francês Louis Althusser discute o alcance da revolução de Brecht no teatro. De acordo com Althusser, tal como Marx, que realizou uma revolução na prática filosófica, Brecht realizou uma revolução na prática teatral, no modo de praticar teatro. Tal revolução é, segundo o autor, resultado do conhecimento que Marx e Brecht tinham da natureza e dos mecanismos da filosofia e do teatro, respectivamente. Ou ainda: Marx e Brecht romperam com a visão mistificada que a filosofia e o teatro mantinham com a política, ao deslocarem o ponto de vista da interpretação especulativa do mundo (filosofia) ou do gozo estético culinário (teatro), para o da política.



Crítica Marxista também traz interessante artigo de Domenico Losurdo. Nele se discute a necessidade de a esquerda tomar uma posição em relação ao sionismo, rejeitando as análises que apontam para a “complexidade” desse movimento, esquivando-se de emitir um julgamento sobre ele. Seu autor entende que a esquerda deve denunciar o colonialismo sionista e suas práticas racistas, recusando a equiparação entre anti-sionismo e anti-semitismo. Pedro Caldas Chadarevian trata da interpretação marxista do problema racial. Esclarece que após alguns esboços de Marx e Engels sobre o problema racial, autores marxistas tais como Bauer, Lênin, Mariátegui procuraram, entre fins do século 19 e início do século 20, aprofundar sua análise tendo por base o instrumental materialista dialético.



Na maioria dos casos trata-se, evidentemente, de textos datados, e mesmo ultrapassados. Porém, a importância do resgate deste debate é fundamental, tanto por razões políticas, como por razões científicas. Primeiro, porque estes e outros autores tiveram o mérito inegável de enfrentar a ideologia imperialista, que procurava legitimar o novo expansionismo colonial com a idéia da supremacia racial dos brancos. Segundo, porque, deste desafio político, surge a necessidade de dar maior embasamento à teoria marxista da opressão nacional e racial. Finalmente, o pouco do que sabemos hoje sobre o papel que cumpre o racismo na economia capitalista devemos ao debate que este artigo procura rememorar.



Por fim, na seção Dossiê, Sérgio Lessa faz um histórico da questão das cotas no mundo, passando pelos governos Reagan e Thatcher, o desmonte do Estado de Bem-estar Social e neoliberalismo. Valério Arcary trata das cotas no contexto da igualdade entre os cidadãos. Segundo ele, os marxistas insistem na centralidade da luta contra a exploração, mas não ignoram o racismo e o machismo.Deste debate também participam Sérgio Lessa e Mauro de Almeida.